Me Apaixonei pelo Padre Luís
- Doutrina Espirita
- 30/04/2018
- 19 min
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Eu tinha 21 anos quando entrei para o convento. Até então, levava uma vida absolutamente normal. Gostava de dançar, fazer teatro, andar de bicicleta, nadar, ir ao cinema e até de namorar. Mas desde os 18 já avaliava a possibilidade de seguir a vida religiosa, pois a vontade de ajudar os outros sempre falou alto em mim. Sonhava em ser enfermeira e ir para a África cuidar de leprosos. Movida por essa vocação, fui freira durante 13 anos e meio. Um dia, porém, comecei a questionar a vida religiosa. Para completar, conheci o Luís – que era padre! Rompemos os votos, casamos e há 36 anos vivemos uma linda história de amor.
Meus amigos acharam um absurdo eu ser freira
Sou de uma família humilde do interior da Alemanha. Papai era operário de fábrica, mamãe cuidava da casa e das três filhas. Aos 18 anos, fui trabalhar na área comercial de um escritório. Aproveitava a vida como qualquer jovem. Tinha meus namoradinhos, mas nos moldes daquele tempo: passeava de mãos dadas no domingo à tarde, sem maiores intimidades.
Porém, minha vocação era auxiliar as pessoas. Tanto que procurei um padre amigo – era católica praticante – e comentei meus planos de ir à África. Ele me desaconselhou a fazer isso sozinha e me sugeriu entrar para o convento. Assim, cursaria enfermagem e ainda teria o apoio de uma comunidade. Depois de pensar nisso por três anos, entrei para as Beneditinas Missionárias de Tutzing.
Meus amigos acharam um absurdo uma menina alegre como eu entrar para o convento. Mamãe aceitou bem. Papai, não
Dois anos após entrar no convento, fiz meus primeiros votos. Logo em seguida, me mandaram fazer um curso para obter o 2º grau e a licença para entrar na universidade. Estava ansiosa por enfermagem, mas decidiram que eu deveria cursar teologia, em Roma. Eu não podia contestar: tudo que as superioras decidiam era “a vontade de Deus”. Comecei a ter dúvidas…
Passei a questionar minha escolha
Começaram as incertezas. Aos 27 anos, eu já tinha feito os votos perpétuos. Não podia simplesmente sair do convento. Na verdade, esperava que a incerteza passasse, pois me preparava para trabalhar numa missão em Angola, na África. Mal sabia que lá minha história se cruzaria com a do Luís.
Me apaixonei pelo padre Luís
Fiquei em Angola por um ano e meio, ensinando catequese e cuidando de doentes – mesmo sem ser enfermeira! Na época, padre Luís era o diretor da escola. Tinha 42 anos e seguia a vida religiosa havia 18. Quando o conheci, sabia que estava apaixonada. Mas lutei contra isso! E ele também, pois levávamos a sério os nossos votos. Apesar de nos gostarmos muito, não havia namoro. Apenas conversávamos sobre nossos questionamentos, sobre a vida religiosa fazer ou não sentido.
Após uma intensa luta interior, percebi que aquele não era o meu caminho. Sofri demais! É muito mais fácil entrar num convento com o entusiasmo dos 21 anos do que deixá-lo aos 34. Ainda assim, voltei para a Alemanha, onde morei com minha irmã e trabalhei por um ano como professora de religião. Luís, então com 46, também desistiu da batina, virou gerente de construções e foi viver em Brasília com um irmão.
Durante o ano em que ficamos separados, combinamos que cada um seria livre para voltar para o convento, achar outro parceiro ou ficar solteiro. Preferimos decidir nosso caminho individualmente. Mas trocávamos cartas toda semana. Até que decidimos tentar a vida juntos. Nossa licença de Roma já tinha nos liberado do celibato.
Vim para Brasília rever meu amor
Veio, então, a não aceitação dos familiares e amigos. Eles achavam loucura eu sair do convento e ainda ir para o Brasil, para casar com um ex-padre português com quem nunca tinha namorado. Mamãe fez drama. Uma tia disse que preferia ir ao meu enterro do que ouvir aquela notícia. Já papai e minhas irmãs me apoiaram. Mais tarde, o Luís virou o genro preferido, até para mamãe!
Cheguei em Brasília em julho de 1975. Fui para a casa da família do irmão do Luís. Por segurança, havia comprado bilhete de volta. Bobagem: em outubro do mesmo ano, nos casamos na igreja. Usamos o dinheiro da passagem de volta para comprar nossa primeira geladeira.
Não me arrependo de modo algum de ter passado 13 anos e meio no convento. Foi um tempo em que amadureci e aprendi muito. Esse período faz parte da minha vida e não o negarei nunca. Além disso, nossa decisão de abandonar o hábito e a batina não significa que abandonamos nossa fé ou a igreja. – IRENE MARIA ORTLIEB GUERREIRO CACAIS, 72 anos, aposentada, Brasília, DF
“O casamento me fez mais humano e mais apto a ser o padre que eu sempre quis ser”
“Abandonar o sacerdócio foi um momento de muito sofrimento. Eu tinha vocação e o entendia como serviço. Vivi isso com total dedicação durante 18 anos. E, ainda hoje, ele constitui uma das minhas maiores alegrias. Posso até afirmar que valorizava a minha condição de celibatário, principalmente trabalhando numa zona de guerrilha. Assim, se eu morresse, não deixaria esposa ou filhos que chorassem e precisassem de mim. O celibato é um acréscimo de liberdade. E a liberdade nos deixa mais prontos para servir. Eu pensava assim nos primeiros anos do sacerdócio. Depois, vi como a solidão devastava a liberdade do padre. Aí, foi fácil pensar que o padre católico é escravo de uma ideologia que o desumaniza a serviço de um poder que de modo algum quer deixar que ele sirva aos seus irmãos como um humano entre os humanos. Essa é a razão do meu abandono. O casamento me tornou mais humano e mais apto a ser o padre que sempre quis ser.” – LUÍS GUERREIRO PINTO, 82 anos, aposentado, Brasília, DF
Fonte: UOL
Originally posted 2016-01-06 15:03:56.