Nossos Desejos Inconfessáveis
- Colunas
- 31/05/2022
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O julgamento para depreciar é um ato extremamente injusto e descaridoso. Sabemos bem o pensamento de Jesus a respeito: -“não julgueis”.
Mais grave ainda, podendo trazer grande sofrimento à vítima, é a calúnia.
O médium e orador espírita Divaldo Pereira Franco diz que o caluniador é tão perspicaz que sabe que a pessoa caluniada ficará em apuros para conseguir “provar” que é tudo mentira. O caluniador sabe que, mesmo que não acreditem muito no que está dizendo, uma “duvidazinha sempre vai ficar no ar”. Alguns dirão: – mas será mesmo que Fulano não estava certo quando falou aquilo de Ciclano?
Penso que a calúnia seja o mais alto grau da maledicência.
Maledicência é o ato de falar mal das pessoas. Definição bem amena para um dos maiores flagelos da Humanidade. É mais terrível que uma agressão física. Muito mais que o corpo, fere a dignidade humana, conspurca reputações, destrói existências.
Lars Ullerstam, em seu livro “As minorias Eróticas” (pg.47), escreve:
“Afirma Freud que aquele que tem desejos que não ousa confessar a si mesmo, atribui-os ao próximo. Chama-se a isto projetar seus motivos sobre os outros. Mas o homem etnocêntrico não se contenta apenas em “constatar a imoralidade”; ele a combate onde quer que julgue encontrá-la. Ele luta, portanto, contra o “diabo” inclusive em sua própria carne, mas sai-se dos apuros de maneira que outros sofram em seu lugar. Isto explica porque a crueldade dos moralistas lhes dá uma “consciência tranquila”. Acreditam estar sempre agindo com justiça.”
(Etnocentrismo é um conceito antropológico que ocorre quando um determinado indivíduo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando-se melhor ou pior, seja por causa de sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, por sua forma de se vestir, ou até mesmo pela sua cultura.[wikipédia])
Os estudiosos da psique humana são unânimes em reconhecer essa projeção: acusamos no outro aquilo que abominamos em nós e não queremos ou temos vergonha de mostrar.
Nada de novo até aí. Jesus fala sobre isso também:
“Por que vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? Ou como dizes a teu irmão: Deixa-me tirar-te do teu olho o argueiro, quando tens no teu uma trave? Hipócrita, tira primeira a trave do teu olho, e então verás como hás de tirar o argueiro do olho de teu irmão. (Mateus, VII: 3-5).
Fernando Rossit