Abraçar para Voar

                            Richard Simonetti   

                            richardsimonetti@uol.com.br

Marina ficou arrasada quando soube que estava com câncer no seio. Embora o médico lhe afirmasse que o tumor era pequeno e que com a cirurgia e a quimioterapia tinha excelentes perspectivas de recuperação, ficara muito deprimida. Sem filhos, o marido falecera. Nova na cidade, não tinha amigos. Sentia-se extremamente só, desolada, aflita e com muito medo. À noite, tentava distrair-se com a televisão, quando tocou o telefone.

– É Marina? – perguntou uma voz simpática.

– Sim.

– Sou Suzana. Integro um grupo de senhoras ligadas ao hospital de oncologia. Gostaríamos de visitá-la.

– Será um prazer. É algo relacionado com a cirurgia?

– Em parte, sim. Explicaremos depois.

No dia seguinte, conforme combinado, Marina recebeu Suzana e duas senhoras, um trio simpático e sorridente. Suzana foi logo explicando:

– Estamos aqui para manifestar nossa solidariedade, Marina, não apenas com a presença, mas também com o apoio. Estaremos juntas durante a cirurgia e a acompanharemos no tratamento. Não a deixaremos só. Haverá sempre alguém com você.

Marina, um tanto constrangida, comentou:

– Acho ótimo esse apoio, é tudo o que quero, mas infelizmente não tenho condições para arcar com as despesas. Vivo apenas com a pensão deixada por meu marido.

Suzana sorriu:

– E quem disse que vai custar alguma coisa? Não haverá  despesas. Estamos aqui como amigas.

Marina, olhos úmidos, emocionada, comentou:

– Deus lhes pague. Não podem imaginar como é terrível enfrentar essa doença.

Suzana sorriu  – Podemos, sim, minha querida. Todas nós tivemos câncer. Ouça bem, tivemos, não temos mais. Essa postura é muito importante para superar o medo. Levamos uma vida normal. Justamente porque sabemos o que é enfrentar essa barra, formamos nosso grupo para que todos os pacientes com quem lidamos saibam que não é um bicho-de-sete-cabeças. Você vai vencer essa, como nós vencemos! Estamos aqui para o que der e vier!

Graças ao apoio do grupo de senhoras, Marina submeteu-se à cirurgia, fez o tratamento, sempre acompanhada pelas novas amigas, e logo ligou-se àquele abençoado grupo de pessoas capazes de fazer de sua provação um instrumento de edificação para outras pessoas.

***

No domingo à tarde, ao sair da chácara cedida por um amigo, onde passara o final de semana com a família, Jonas não conseguia ligar o motor do automóvel. Simplesmente não funcionava. Para completar, seu telefone celular estava com a bateria descarregada. Deixou a esposa e o filho esperando e saiu à procura de socorro. Depois de uma hora de caminhada, chegou a um posto de gasolina.

Estava fechado. Não funcionava aos domingos. O vigia deu-lhe o número de um mecânico que morava em cidade próxima. Num telefone público fez a ligação. Quando atenderam, explicou seu problema, onde estava, bem como a localização do automóvel. Precisava de socorro.

O atendente logo informou:– Meu nome é João. Fique tranquilo. Normalmente não trabalho aos domingos, mas, tratando-se de emergência, posso chegar aí rapidinho. São apenas trinta quilômetros.

Jonas ficou aliviado e ao mesmo tempo preocupado. Não ficaria barato e ele não andava bem de finanças. Viera passar o final de semana na chácara justamente por não estar em condições de pagar hotel. Trinta minutos depois,  João chegou.  Jonas subiu em sua caminhonete e partiram. Quando chegaram verificou, espantado, que o mecânico tinha problemas nas pernas. Usava muletas.

Valendo-se delas, aproximou-se do automóvel, fez o exame e logo informou: – É apenas a bateria descarregada. Providenciarei uma carga.

João era de uma simpatia cativante. Sorridente, enquanto a bateria carregava, distraiu o filho de Jonas com truques de mágica e chegou a tirar uma moeda da orelha, dando-a ao garoto. Terminado o serviço, Jonas, preocupado, perguntou quanto era. Surpreso, ouviu a resposta:

– Não é nada.

– Nada?!… Não entendo… Você perdeu tempo, em seu dia de folga, usou o caminhão, gastou gasolina…

– Não é nada – confirmou ele.

– Não é justo. Por favor, é minha obrigação.

Jonas sorriu

– Olhe, meu amigo, há alguns anos alguém me ajudou a sair de uma situação muito pior, num acidente em que fiquei dependente de muletas. A pessoa que me socorreu, levando-me ao hospital e salvando-me a vida, simplesmente disse o mesmo: – Não é nada. Apenas lembre-se, quando tiver oportunidade, faça o mesmo, porquanto somos todos anjos de uma asa só. Precisamos nos abraçar para voar.

Nessas histórias, leitor amigo, temos exemplos marcantes de superação, tanto no aspecto material quanto espiritual. Pessoas que vencem suas provações sem cair no desespero ou na revolta, aprendendo, consoante o ensinamento do Cristo, que nossa cruz ficará leve se nos ajudarmos uns aos outros.

Há um problema a ser encarado. A tendência de imaginarmos que a nossa dor é maior do que a do vizinho.

É quando sentimos pena de nós mesmos e nos fechamos, acabrunhados. Nada mais longe da realidade. Há milhões de pessoas no mundo com problemas piores que os nossos.

Se nos sentimos o coitadinho, aos nossos olhos o problema ficará bem maior do que é, induzindo-nos ao desalento e à tristeza, maus conselheiros que paralisam nossa iniciativa.

Importante é não parar, seguir adiante, conservando o bom ânimo e o empenho de servir, de ajudar o próximo, fazendo sempre o melhor.Isso é fundamental para nossa felicidade. Lembrando o mecânico João, somos anjos de uma asa só. É preciso que nos abracemos para que possamos ganhar o Céu.