O Ódio precisa Acabar
- Doutrina Espirita
- 11/04/2024
- 9 min
- 1.927
Perdoar é sublime. Disso nos deu exemplo Jesus, nosso Mestre, no Seu processo arbitrário de julgamento, flagelação e morte.
Quem assinou que se devia amar os inimigos, não poderia ter outra atitude.
No entanto, quando o perdão nos remete a questões individuais, de um modo geral, reconhecemos como se torna de difícil execução o exemplo do Nazareno.
Parece-nos impossível que determinadas coisas possam ser perdoadas. Mas, algumas criaturas o fazem, com subida dignidade. Como Eric Lomax.
Ele era um oficial britânico, quando se tornou prisioneiro em um local que ficou conhecido como ferrovia da morte.
Essa estrada de ferro ligava Bangcoc à Birmânia, atual Mianmar. O projeto era japonês, mas foi concretizado por milhares de prisioneiros de guerra.
Estima-se que oitenta e três mil tenham morrido enquanto eram explorados, durante a construção da ferrovia.
Foi lá que Lomax conheceu Nagase Takashi, um de seus torturadores, que também servia de intérprete.
Durante um ano inteiro, oficiais japoneses tentaram fazer com que ele confessasse ser colaboracionista da resistência, o que nunca foi verdade.
Lomax teve quebrados seus braços e ossos do quadril, além de ter sido submetido a táticas de afogamento.
Quando retornou ao seu país, em 1945, após três anos como prisioneiro, ninguém o esperava no cais. Uma carta o informou de que sua mãe morrera e seu pai tornara a se casar.
Ele precisou de intenso trabalho terapêutico e do auxílio de sua esposa, para enfrentar o horror indizível de seu trauma.
Quarenta anos depois, ainda sofrendo da síndrome do estresse pós-traumático, ele encontrou aquele que identificava como o principal responsável por sua tortura.
Ainda ecoavam em sua mente as palavras insistentes: Confessa, Lomax. Confessa e não haverá mais dor.
De acordo com a esposa do britânico, a intenção dele, ao marcar um encontro com o japonês era matá-lo.
Os dois se reencontraram justamente na ferrovia que Lomax fora forçado a ajudar a construir.
A imagem da guerra, que mais atormentava Nagase era a de um tenente inglês, cuja tortura ele havia facilitado e acreditava estar morto.
Assim que enxergou Eric, Takashi começou a chorar e a pedir perdão, compulsivamente. Foi então que Lomax descobriu que, depois da guerra, seu inimigo mortal fora condenado e passara a trabalhar na rodovia, à procura de corpos.
Contudo, não pôde de imediato desistir de sua vingança e reconciliar-se com quem considerava seu inimigo mortal.
Algumas semanas depois, em Hiroshima, de todos, o local mais improvável, Lomax concedeu o perdão de que necessitava Nagase para viver e morrer em paz.
Acabaram por se tornar amigos e, em uma carta, mais tarde, escreveu-lhe Lomax: Algum dia, o ódio precisa acabar.
* * *
O perdão traz a paz. Por vezes, é um processo que necessita de tempo.
Tempo para quem se considera a vítima administrar o sentido das dores, dentro de si.
Tempo para olhar o inimigo e se dar conta de que ele é um infeliz, que igualmente precisa de paz.
E, como o ódio precisa acabar, se oferece o perdão.
Redação do Momento Espírita, com base
em dados biográficos de Eric Lomax.
Em 23.3.2016.