Lembrando-se do Passado
- Atualidades
- 01/10/2021
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David Schultz era um lutador aclamado internacionalmente. Vencera o campeonato norte-americano quatro vezes e ganhara medalha de ouro nas Olimpíadas de 1984. Por causa de seu amor pelo esporte e de seu entusiasmo pela vida, era considerado o embaixador da amizade pelas pessoas que o conheciam por todo o mundo. Mesmo os seus oponentes, principalmente os russos, o consideravam um grande amigo.
No dia 26 de janeiro de 1996, David foi assassinado. Centenas de pessoas assistiram ao seu enterro. O pai do lutador, Philip, contou essa história em seu discurso de louvor ao filho. Todas as pessoas na sala ouviram em silêncio o relato de Philip, e uma onda de emoção varreu a plateia. Philip escreveu a história completa para que eu pudesse compartilhá-la com você neste livro: Quando minha nora me ligou para dizer que David estava morto, não pude conter meu choque e minha descrença, perguntando em soluços: “Por quê?” Na minha angústia, eu continuava a repetir a mesma pergunta. Tudo o que eu sabia era que tinha perdido meu filho, a alma mais preciosa que jamais conhecera.
Em meio a toda aquela dor, de repente me lembrei de uma história que David me contara quando tinha apenas 4 anos. Na época em que ele compartilhou comigo essa visão especial, eu me senti totalmente envolvido por suas palavras e fiquei admirado pela maneira detalhada e madura com que me fez seu relato. Jamais me esqueci daquele momento. E agora essa história traz enorme consolo para mim, para a família de David e para sua multidão de amigos. Estou convencido de que é absolutamente verdadeira e que eu estava destinado a ouvi-la, lembrar-me dela e contá-la hoje. Há 32 anos, David e eu caminhávamos de mãos dadas por um arvoredo próximo à nossa casa.
Lembro-me do infinito prazer que senti naquele momento que passávamos juntos. David tropeçava a todo instante, mas, destemido, continuava a caminhar. Depois do segundo tropeço, ele segurou minha mão com mais força. Então parou e, com os olhos bem abertos de admiração e prazer, disse: “Tenho um segredo muito, muito grande para te contar. Mas você tem que prometer que não vai contar a ninguém.” Prometi e ele continuou: “E você não pode rir de mim.” Eu disse que nunca riria dele. Então, David ficou sério e continuou: “Porque isso aconteceu antes que eu nascesse e aconteceu lá no céu, lá em cima, nas nuvens.” Minha boca estava aberta em total surpresa e expectativa. Perguntei: “E então, filhinho, o que aconteceu?” David falou: “Bem, você sabe, estavam aqueles 12 homens.” Interrompi, incrédulo: “Doze homens? Você contou?” Parecendo mais velho do que seus 4 anos, e com os olhos brilhando de alegria, continuou: “Isso mesmo, 12. Eu contei. Estavam numa roda, como se estivessem sentados em volta de uma nuvem ou de uma mesa. Vi que tinham rostos, mas não tinham corpos. Um deles disse que eu tinha que descer aqui, bem aqui embaixo. Tinha que vir para ser testado.” Perplexo, disse a meu filho que aquela história era muito interessante. E perguntei: “Você vai passar no teste?” David parou de apertar minha mão e deu um sorriso de satisfação: “Vou, sim!” Fiquei aliviado com a resposta. Caminhamos um pouco mais em silêncio. Então, ele parou e olhou para mim, radiante: “Mas eu não vou ficar aqui por muito tempo.”
Nesse instante, David soltou minha mão e saiu para brincar, me deixando sozinho, refletindo sobre aquela extraordinária parábola. Nunca mencionei o assunto, como havia prometido. Até agora. Não é preciso dizer que essa história me trouxe paz e deu sentido à terrível tragédia que acabávamos de viver. E eu me senti invadido por uma enorme onda de ternura, amor e admiração por meu filho.
Fonte: BOWMAN, Carol. O Amor me Trouxe de Volta. Págs. 64-74. Sextante. 2001.