Atendimento a Espíritos Suicidas
- Doutrina Espirita
- 12/09/2019
- 14 min
- 858
Em toda a sua vida de médium, Yvonne do Amaral Pereira dedicou boa parcela do seu tempo ao atendimento a espíritos suicidas. Dizia mesmo que os amava, naturalmente por compreender a extensão das suas dores, dos seus sofrimentos. Aliás, ela fala um pouco desses sofrimentos no artigo “O Estranho Mundo dos Suicidas”, que podemos encontrar nas páginas do livro À Luz do Consolador.
Acompanhemos algumas observações suas: Durante nosso longo tirocínio mediúnico, temos tratado com numerosos Espíritos de suicidas, e todos eles se revelam e se confessam superlativamente desgraçados no Além-Túmulo, lamentando o momento em que sucumbiram. Certamente que não haverá regra geral para a situação dos suicidas. A situação de um desencarnado, como também de um suicida, dependerá até mesmo do gênero de vida que ele levou na Terra, do seu caráter pessoal, das ações praticadas antes de morrer.
Adiante, ainda falando sobre as dores dos suicidas, dores que são consequência natural do ato que praticam e não castigo de Deus, Yvonne esclarece: Num suicídio violento, como, por exemplo, os ocasionados sob as rodas de um trem de ferro ou outro qualquer veículo, por uma queda de grande altura, pelo fogo, etc., necessariamente haverá traumatismo perispiritual e mental muito mais intenso e doloroso que nos demais. Mas a terrível situação de todos eles se estenderá por uma rede de complexos desorientadores, implicando novas reencarnações que poderão produzir até mesmo enfermidades insolúveis, como a paralisia e a epilepsia, descontroles do sistema nervoso, retardamento mental, etc. Um tiro no ouvido, por exemplo, segundo informações dos próprios Espíritos de suicidas, em alguns casos poderá arrastar à surdez em encarnação posterior; no coração, arrastará a enfermidades indefiníveis no próprio órgão, consequência essa que infelicitará toda uma existência, atormentando-a por indisposições e desequilíbrios insolúveis.
Dos muitos espíritos suicidas que socorreu, em situações tão lamentáveis quanto as descritas no trecho acima, podemos destacar o caso de um operário alemão, residente da cidade de Petrópolis, que cometera suicídio devido a dificuldades financeiras. Chamava-se Wilhelm, tinha sido o construtor da casa em que ela se hospedara e tirara a própria vida, dez anos antes daquele 1935, com um tiro no coração. Desde a primeira noite na casa, Yvonne não conseguiu conciliar o sono. Ruídos, pancadas e agitação perturbaram sua paz por completo.
O suceder dos dias mais agravou o quadro, quando ela, atraída para o sótão, lá identificou a presença do espírito enfermo, que sofria o triste espetáculo da recordação cíclica do suicídio, passando por todas as angústias do momento trágico. Impregnada por energias tão densas, Yvonne foi, aos poucos, perdendo a saúde, e, se não fosse a intervenção dos espíritos, em especial de Charles e de Camilo Castelo Branco, talvez tivesse enlouquecido e mesmo desencarnado. Diariamente, envolvia aquele suicida em preces amorosas, promovendo o seu esclarecimento, conforme recomendação dos guias, através das páginas consoladoras de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
No entanto, compreendia que seria necessário, talvez, socorrê-lo diretamente, através da psicofonia, e, para isso, necessitava do concurso de um centro espírita. Buscou, assim, uma casa da cidade, mas encontrou duas dificuldades: a desconfiança dos trabalhadores da mesma, que não a conheciam, e a distância da instituição, que ficava bem afastada do bairro em que residia. Sem opção, restou a ela assistir o espírito com os recursos de que dispunha. Viveu, juntamente com ele, aquelas dores; compartilhou dos seus infortúnios; envolveu-o nas vibrações harmoniosas da prece; amou-o como a um filho querido ao coração. Dias antes de se retirar de Petrópolis, o suicida foi retirado da casa e levado para o refazimento em paragens espirituais. Já havia transcorrido um ano em que ela se vira mergulhada em atendimento tão delicado.
Ao escrever as páginas do livro “Recordações da Mediunidade”, o espírito Charles, seu amado guia, deu-lhe algumas explicações sobre aquele caso, das quais destacamos os seguintes trechos:
“O caso em apreço é um detalhe dos testemunhos que necessitavas apresentar à lei de reparações de delitos passados, testemunho de fé, tu que faliste pela falta de fé em ti mesma e no poder de Deus. Assim ligada a ti pelas correntes afins humanizadas, a entidade suicida adquiriu condições para se reanimar e perceber o que se tornava necessário à melhora do próprio estado, revigorando-se vibratoriamente para se desvencilhar do torpor em que se deixava envolver. E, um pouco mais à frente: Cumprias dever sagrado, reabilitavas tua consciência, servias ao Divino Mestre servindo à sombra da lei da fraternidade, que nos aconselha proceder com os outros como desejaríamos que os outros procedessem conosco.”
Fonte: Revista Fidelidade Espírita, maio 2011.?