A Intransferibilidade da Obra de Redenção – por Jane Maiolo
- Colunas
- 30/11/2019
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“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos” [1]
O Salmos 139, cujo autoria é atribuída ao Rei Davi, reconhecido como unificador e fundador da nação hebraica, descrito nos Velhos apontamentos bíblicos como possuidor de muitos dons artísticos, como o da música, da poesia e autor dos tradicionais Salmos penitenciais.
Sua maior inspiração ocorreu no momento em que conduzia as ovelhas pelos pastos verdejantes, criando salmos e cânticos para louvar a Deus, porém, ao pastorear as ovelhas, refletia na grandeza de Deus e na sua insignificância como criatura, embora entendendo-se único. Esses momentos geravam um amadurecimento do conceito do relacionamento do homem com o Criador.
O nosso amadurecimento espiritual, ao longo de milênios tem se revelado precioso instrumento para sondarmos os caminhos que tendem a elevar-nos ou afastar-nos daquilo que é divino.
Ao contrário de muitas teorias que divulgam a redenção ou salvação do espírito imortal através da doutrina da graça, sabemos convictamente que toda evolução, redenção ou salvação se dará através do esforço do próprio espírito, através de lutas incessantes para domar as suas más inclinações e transformar seu teor vibratório em ondas sutilíssimas de amor e paz.
Indagou Allan Kardec sobre a progressão dos espíritos na questão de número 114, de O Livro dos Espíritos: “Os espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que se melhoram?” Os Benfeitores responderam: “São os próprios espíritos que se melhoram e, melhorando-se passam de uma ordem inferior para outra mais elevada” [2].
A intransferibilidade da obra de nossa redenção requer um entendimento das nossas responsabilidades, assumir compromissos sérios e legítimos. Reconhecermos a profundidade de nossas mazelas e misérias, descobrindo caminhos para nos libertar das amarras da ignorância e do mal, visto que este não deixa de ser produto da ignorância.
Acreditar que podemos encarregar os Espíritos superiores dessa tarefa é atitude ingênua, infantil e ilusória.
O tempo de evoluir acontece agora.
Oportunidades são franqueadas.
Trabalhos são disponibilizados.
Ações podem levar a redenção.
Sem dúvida poderíamos sempre pelos nossos esforços vencer as nossas más inclinações, porém quão poucos entre nós fazemos esforços para adquirir a ciência do bem viver.
A transformação do nosso sentimento será possível se houver o combustível da boa vontade, do método e da persistência. Entendamos aqui “boa vontade” como o esforço contínuo de transformação comportamental e o uso da razão a serviço da nossa evolução espiritual.
Vivemos tempos dinâmicos onde a trajetória evolutiva do espírito imortal deve ser alterada do status do ter para o ser.
Houve um tempo em que lutávamos pela liberdade e dessas pelejas instituímos a democracia, sob os ares da Grécia. Momentos póstumos, ansiávamos o poder, o domínio, a posse, criamos, então, o direto nas composições sociais romanas.
Senhores, pois, da liberdade e do direito ambicionamos perenizar nosso existir, assim sendo, engendramos a medicina, as tecnologias e ainda se cremos que falta pouco para sequestrarmos e assumirmos o lugar sacrossanto do Criador nas plagas terrenas.
Entretanto, afeiçoados ao ter, ainda acreditamos que podemos transferir a outrem nossa tarefa de iluminação interior. Esquecidos que o ser é o mais importante.
Não ouvimos os apelos dos imortais, dos sábios, dos filósofos. Escutamos tão somente a voz da consciência, ou da inconsciência, viciadas nas paixões e nas conquistas de curto prazo. Portanto, efêmeras!
A questão do livre-arbítrio nunca fizera tanto sentido, como nos dias atuais.
Somos sempre responsáveis pelas nossas ações. O trabalho que nos aguarda é necessário e urgente.
A Doutrina Espírita é o convite mais lúcido para o espírito que amadureceu moralmente e que deseja modelar seu roteiro divino. Atentemos para os campos verdejantes do trabalho no bem. Que nossa alma aflita encontre o refrigério do consolo e do entendimento ofertados pelos tutelados imortais e tal qual o pai de Salomão roguemos ao Pai Maior: “Vê se em minha conduta algo te ofende e dirige-me pelo caminho eterno.” [3]
Que o trabalho de edificação dos valores imortais, em nós mesmos, jamais ressoe pesado, em demasia, que as forças físicas e espirituais nunca sejam escassas.
Referências bibliográficas:
[1] II Timóteo 3.1
2- KARDEC, Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, 3ª edição, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2007.
3-Salmos 139