Questão de Histórico
- Colunas
- 28/04/2020
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Orson Peter Carrara
A carteira de vacinações, o manual de manutenção de veículos, o prontuário médico ou odontológico, ou os diferentes cadastros em escolas, universidades ou outras iniciativas e instituições de saúde, esportivas, políticas, culturais, religiosas, etc, normalmente mantém anotações dos históricos de atividades, de atendimentos, personalizados ou não, criando históricos de uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma instituição, da carreira de um artista, de um escritor, etc. e mesmo de uma nação inteira.
A conhecida régua ou tábua de crescimento, normalmente usada por pediatras, acompanha as medidas do bebê, no decorrer dos meses, anotando peso e altura. É fato muito comum, pois, o registro histórico, inclusive para competições esportivas, ou dados de filmes, novelas, peças de teatro, livros, nos rankings de vendas ou apresentações e na linguagem atual, de visualizações ou curtidas.
Com o espírito em evolução no planeta a ocorrência não é diferente. Todos nós temos um histórico registrado em nós mesmos, nas experiências já vivenciadas em incontáveis existências passadas, o que determina a personalidade atual, com a diferença que referido arquivo ainda permanece inacessível ao próprio portador, pelas determinações da Lei de Esquecimento, a fim de não prejudicar a trajetória atual. Embora os nobres espíritos que dirigem a evolução planetária tenham acesso a esses registros para ajudar os protagonistas sob sua direta proteção – a fim de planejamentos sábios visando o aprimoramento intelecto moral e a superação das dificuldades, causas de traumas variados –, para nós tais registros permanecem guardados e seu acesso será gradativo, quando houver condições e necessidade.
Referido histórico leva-nos à prática do “não julgueis”, recomendado por Jesus.
Observamo-nos mutuamente, em diferentes situações, individuais ou coletivas. Vemo-nos, encontramo-nos, falamos, guardamos intensos relacionamentos, afetamos pessoas com nossas ações, reações, decisões e comportamentos e igualmente somos afetados pelos mesmos comportamentos alheios. Esses fatos levam-nos a julgamentos, a posicionamentos e decisões nem sempre saudáveis. Isso por uma simples razão:
Não sabemos o histórico com quem nos relacionamos. Nem o nosso lembramos, o que não dizer da outra ou das outras pessoas. Não conhecemos o histórico, não temos acesso para entender reações, posições, comportamentos.
Não sabemos quais os dramas e dificuldades oriundas do passado afetam a personalidade atual. Igualmente não sabemos os méritos e deméritos de quem está à nossa frente ou observado por nós mesmos. Se na maioria das vezes não sabemos nem os traumas da presente existência, o que não dizer das existências passadas.
Se uma infância sofrida e traumática já projeta muitas vezes um adulto repleto de questionamentos emocionais e psicológicos, na presente existência, há que se pensar em traumas anteriores, influenciado severamente no comportamento atual, apesar do esquecimento imposto por Deus para atenuar as lembranças e deixar que o espírito caminhe novamente, como se tivesse partido do zero.
Tudo é uma questão de histórico. Alguns apontamentos históricos dos relacionamentos atuais são conhecidos e já influenciam decisões nessa ou naquela direção. Pais e educadores conhecem o histórico difícil ou talentoso dos filhos e alunos, por exemplo, orientando decisões. Sobre o passado, escapa-nos completamente. Fica sob supervisão dos benfeitores espirituais que nos orientam e ajudam no planejamento reencarnatório e condução das existências, visando o progresso.
O esquecimento é, pois, uma necessidade, para o espírito encarnado.
Por força dessa ocorrência fundamental, cabe-nos solidariedade e respeito mútuo, diante de quaisquer pessoas ou situações, primeiro porque igualmente estamos enquadrados e segundo porque a Lei de Deus é de amor e cabe-nos o respeito para com todas as criaturas. Não temos ideia das lutas que enfrentam, das memórias que guardam – ainda que latentes – e dos sábios planejamentos espirituais para ajudar a todos nós.
Aí o “não julgueis” adquire ainda mais força e expressão. Não temos o histórico para julgamentos precipitados e levianos… E mesmo que tivéssemos não deveríamos porque igualmente somos todos necessitados de compaixão, pela fragilidade que ainda nos caracteriza. Equívocos todos cometemos e estamos todos no “mesmo barco”.