Visão Retrospectiva Do Passado

Sidney Fernandes

Embora transcorridos mais de vinte séculos dos primeiros relatos gregos sobre a reencarnação, corroborados depois pelos evangelhos cristãos, o mundo atual ainda encara com cepticismo a ideia de Platão, discípulo de Sócrates, de que existe algo como viver de novo e que os vivos nascem dos mortos. Não obstante a reencarnação ser realidade amplamente aceita desde a Antiguidade em países orientais e depois, a partir do século XIX, ser esmiuçada pelos países ocidentais, coube à ciência buscar alternativas para as curas de traumas e doenças aparentemente sem causa — também denominadas idiopáticas —, exatamente pelo estudo de uma terapia que considera a multiplicidade de existências corpóreas.

Nem sempre, estão concluindo desassombrados cientistas da modernidade, o trauma inicial causador de desagradáveis sintomas encontra-se na infância ou na vida intrauterina. Fobias, síndrome do pânico, distúrbios comportamentais, transtornos obsessivos (TOC), depressão, ansiedade e outros são patologias que estão sendo estudadas à luz da reencarnação, com excelentes resultados e progressos animadores.

O processo de regressão da memória somente deve ser executado por profissionais especializados, mormente da área psíquica, como psiquiatria, psicologia e terapias afins, em locais adequados e aprovados pela ciência médica, principalmente por causa dos cuidados que exige, pela necessidade do esquecimento do passado, por interferências inadequadas nos processos de sofrimento ou simplesmente por causa da curiosidade.

Não basta lembrar o passado. A terapia exige monitoramento criterioso dos efeitos da relembrança, cujo tratamento inadequado pode provocar irreversíveis danos no psiquismo do paciente. A investigação do passado com finalidade fútil compromete a terapêutica, ao atender o leviano desejo de identificar o que fomos ou o que fizemos em vidas pretéritas.

Alerta-nos o Espiritismo que o homem não pode, nem deve tudo saber. O esquecimento proporciona abençoado véu que cobre inoportunas lembranças que provocariam sérios transtornos ao desenvolvimento do projeto reencarnatório. Não seria o caso, então, de fugirmos de qualquer relembrança? Considerando que o esquecimento é providencial, por que deveríamos, como se fôssemos aprendizes de feiticeiros, revolver o passado? Os argumentos são decisivos no sentido de que a falta de lembrança concorre adequadamente para o progresso do espírito, poupando-o de recordações comprometedoras e indesejáveis.

Ocorre que mentores espirituais falam de uma espécie de exceção, a permitir que algumas lembranças possam ser reveladas, desde que haja autorização de espíritos superiores, em determinadas circunstâncias, contanto que exista finalidade útil e jamais para satisfazer vã curiosidade.

Há que se considerar, ainda, que a TVP não desvenda existências inteiras. Ela apenas levanta uma ponta do véu, como se fosse flash ou slide, a fim de proporcionar ao paciente a superação de traumas pontuais que lhe causam embaraços. A TVP está se expandindo velozmente e tende, se exercitada com critério e parcimônia, a contribuir para a cura e o reconhecimento da reencarnação como lei natural.

É insuficiente, no entanto, somente recordar o passado. Sob o acompanhamento de terapeutas especializados, daqui e do Além, o equilíbrio e a reflexão serão valiosos instrumentos para a administração das reminiscências, fazendo delas precioso impulso ao planejamento e à renovação de vidas, em direção ao progresso do indivíduo.