Se não der, abstenha-se!
- Doutrina Espirita
- 24/08/2025
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– Orson Peter Carrara
O conselho foi dado por Pascal. Consta do capítulo XXXI – Dissertações Espíritas, item XIII de O Livro dos Médiuns.
O que se vai ler abaixo é a transcrição integral do compacto texto, por si só muito claro e objetivo. Após a transcrição, destaco alguns pontos muito didáticos. Veja:
“Quando quiserdes receber comunicações de bons Espíritos, importa vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, por intenções puras e pelo desejo de fazer o bem, tendo em vista o progresso geral. Porque, lembrai-vos, que o egoísmo é causa de retardamento a todo progresso. Lembrai-vos de que se Deus permite que alguns dentre vós recebam o sopro daqueles de seus filhos que, pela sua conduta, souberam fazer-se merecedores de lhe compreender a infinita bondade, é que ele quer, por solicitação nossa e atendendo às vossas boas intenções, dar-vos os meios de avançardes no caminho que a ele conduz. Assim, pois, médiuns! aproveitai dessa faculdade que Deus houve por bem conceder-vos. Tende fé na mansuetude do nosso Mestre; ponde sempre em prática a caridade; não vos canseis jamais de exercitar essa virtude sublime, assim como a tolerância. Estejam sempre as vossas ações de harmonia com a vossa consciência e tereis nisso um meio certo de centuplicardes a vossa felicidade nessa vida passageira e de preparardes para vós mesmos uma existência mil vezes ainda mais suave. Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita, se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa a luz que o ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira.”
Destaco didaticamente:
1 – Veja as condições: “(…) importa vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, por intenções puras e pelo desejo de fazer o bem (…)” – Para receber comunicações dos Bons Espíritos;
2 – Previnamo-nos: “(…) o egoísmo é causa de retardamento a todo progresso (…)”. Considere o progresso geral a que nos comprometemos todos, em nome da causa do Evangelho.
3 – Guia seguro: “(…) Tende fé na mansuetude do nosso Mestre; ponde sempre em prática a caridade; não vos canseis jamais de exercitar essa virtude sublime, assim como a tolerância (…)” – Tais virtudes nos previnem de quedas morais.
4 – Não podemos perder de vista: “(…) Estejam sempre as vossas ações de harmonia com a vossa consciência (…)” – Uma questão de coerência.
5 – Orientação sábia: “(…) Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita, se abstenha (…)”. Notemos o detalhe: perseverar no ensino espírita.
6 – Conclusão natural: “(…) não fazendo proveitosa a luz que o ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira (…)”. A luz do conhecimento e do compromisso deve reverter em favor coletivo.
Há que se considerar que somos todos mais ou menos médiuns e que, portanto, a orientação de Pascal não é exclusiva para médiuns ostensivos, mas cabe a qualquer tarefeiro espírita, de vez que nosso compromisso é com a Causa de Jesus.
Sempre temos que pensar, repensar e refletir sobre nossas ações e iniciativas. O compromisso é grave e se não tivermos forças para perseverar no ensino espírita, é melhor abster-se.
Esse perseverar no ensino espírita abre um universo de desdobramentos. Paremos para pensar no que cabe na expressão ensino espírita. O que entendemos verdadeiramente sobre a expressão? Como a compreendemos, a vivemos, a praticamos? É algo para profunda e contínua reflexão.
E, por outro lado, esse abster-se não é sinônimo de abandono das tarefas, o que também vai afligir a consciência, mas pensar antes de agir, ou, em outras palavras e sob outro ângulo, agir com discernimento e prudência.
Para concluir, convido o leitor a meditarmos juntos na expressão que finaliza o texto: expiar a sua cegueira. Não vou continuar na reflexão, mas antes convidamos a todos nós uma justa e honesta apreciação da expressão, num exercício interior de despertamento para nossas próprias realidades, ao invés das ilusões que ainda alimentamos.