A Bondade de Deus Jamais Falha

Sidney Fernandes

Quem era Henry?

Na revista Seleções do Reader’s Digest encontrei a história de Henry. Sua neta, Jean, nos trouxe, em tom intimista, essa encantadora experiência.

Depois da Guerra de Secessão, Henry voltou para sua casa em Nova Jersey e montou um negócio de madeiras e carvão, em sociedade com antigo colega de batalhão. Os negócios corriam bem, graças aos conhecimentos e as amizades de Henry.

Embora seu sócio não concordasse muito, Henry jamais deixou de atender os menos favorecidos, vendendo as madeiras a prazo e para pessoas que detinham pouco poder aquisitivo.

Religioso, sempre orava com a família e prosseguia com seu jeito benevolente que a todos cativava e envolvia, principalmente porque contribuía generosamente com todas as causas. Um homem honesto, de fé e de boas obras.

Certa ocasião, o sócio de Henry ficou bastante zangado porque ele vendeu, a prazo, caras madeiras a um ex-companheiro de farda, Jim, que estava se estabelecendo em Nova York como empreiteiro de obras. Henry estava certo de que Jim teria êxito nos negócios e um dia o pagaria.

E então aconteceu o inesperado. O sócio de Henry desapareceu com todo o dinheiro da empresa e com a esposa de um dos moradores da comunidade.

Depois do incidente, Henry apegou-se ainda mais à religião e às orações. Nelas encontrou o fortalecimento necessário para começar tudo de novo e reencontrar o caminho do progresso.

Henry limitou-se a comentar que, se tivesse exercido adequada influência cristã sobre o sócio infeliz, uma coisa dessas nunca teria acontecido. Cobriu o prejuízo com uma promissória, comprometendo-se a resgatá-la o mais depressa possível. Como o presidente do banco era um velho amigo, esse arranjo foi questão de algumas palavras e de um aperto de mão.

Passaram-se os anos. Por volta de 1890, sobreveio a grande depressão e Henry tinha em seu cofre mais promissórias a serem recebidas do que dinheiro. Da primitiva dívida deixada pelo sócio ainda faltava pagar 17.000 dólares. Com a morte do presidente, amigo de Henry, o banco passou a exigir o pagamento imediato da dívida.

Amigos se cotizaram para pagar o que deviam a Henry, mas o total recuperado era apenas uma gota no oceano. Quase todos estavam na mesma situação e não tinham dinheiro disponível.

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Desculpe, caro leitor, se interrompo a história de Henry, para relatar situação análoga, narrada por Richard Simonetti.

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O tempo dos milagres já passou?

Valdo era presidente de uma creche, que estava passando por dificuldades financeiras. O tesoureiro, Justino, informou que não havia dinheiro para o pagamento do décimo terceiro salário dos funcionários da instituição.

Como ocorria habitualmente, sempre que problemas o afligiam, Valdo buscou inspiração no Evangelho. Abriu-o ao acaso e leu, em Mateus:

Perguntou-lhes Jesus:

— Quantos pães tendes?

— Sete e alguns peixinhos.

Jesus ordenou então ao povo que se sentas­se no chão e, tomando os sete pães e rendendo graças, partiu-os e deu aos discípulos para que os distribuíssem pelo povo. Tinham também alguns peixinhos; e ele, abençoando-os, mandou que estes igualmente fossem distribuídos. Todos comeram, fi­caram saciados e ainda encheram sete cestos com os pedaços que sobraram.

A leitura do texto evangélico deu a Valdo novo ânimo. Telefonou para o tesoureiro e deu a ordem:

— Pode soltar os cheques do décimo terceiro.

— Conseguiu o dinheiro?

— Tenhamos fé, companheiro! Jesus dispu­nha de apenas sete pães e alguns peixes e alimen­tou uma multidão de quatro mil pessoas!

— Valdo, sejamos práticos. O tempo dos mi­lagres passou. Dinheiro não se multiplica no banco do dia para a noite!

— Pague! Assumo a responsabilidade!

—Tudo bem, profeta. Seja o que Deus qui­ser!

No dia seguinte, o tesoureiro lhe telefonou:

— Recebi um comunicado do banco.

— Quanto devemos depositar?

— Nada.

— Nada?!

— Informaram que houve um depósito ontem, feito por um irmão que se propôs a ofertar um do­nativo de Natal. Deu exatamente para completar as despesas com o décimo terceiro!…

Valdo desligou o telefone de olhos úmidos. Incontida emoção revigorava seu espírito valoroso. Não havia motivos para desânimo. Jesus velava, sempre pronto a socorrer seus seguidores, confor­me prometera.

***

Para quem também acha, como o tesoureiro da instituição de Valdo, que “o tempo dos milagres já passou”, ouçamos o final da história de Henry.

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Milagres acontecem

Finalmente, chegou o último dia do prazo. Era uma hora da tarde e Henry precisava arranjar o dinheiro até às cinco. Às duas horas da tarde ele convocou suas energias e fez esta declaração aos empregados:

— Meus amigos, quero que saibam que este é o último dia do meu prazo. Fiz tudo quanto estava em mim, sem resultado. A menos que Deus nos ajude, pois agora só ele nos pode valer, das cinco em diante estarão trabalhando para outra pessoa.

A seguir, mandou que voltassem ao trabalho e abriu calmamente a Bíblia.

Duas horas mais tarde, um trem entrou na estação situada do outro lado da rua, em frente ao escritório de Henry.

Jim, o seu velho amigo do exército, o empreiteiro de construções em Nova York, chegou ruidosamente, conduzindo uma pequena mala. Ao ver Henry ali sentado com a Bíblia nas mãos, deu-lhe uma tremenda palmada no ombro e vociferou:

— Henry, meu caro, que diabo lhe deu na veneta de se afundar aqui em Nova Jersey? O seu lugar é em Nova York. Olhe para mim. Veja só: estou rico, rico, sim senhor! Você sabe — continuou —, comecei a pensar nisso mesmo, hoje, quando acabava de almoçar.

— Pensei com meus botões:

— Aposto que o camaradão do Henry, lá metido em Jersey, está passando o diabo nestes dias de dificuldade. Depois, então, dei uma olhada nos meus livros e, santo Deus, verifiquei que lhe estava devendo um dinheirão há muito tempo.

Disse de mim para mim:

Chegou a hora de pagar a conta e aposto como o Henry está precisando do dinheiro.

— De maneira que fui à caixa-forte, onde venho guardando as pelegas precisamente para os tempos de vacas magras, como os de agora, e meti 20.000 dólares nesta velha mala preta. E aqui estão eles. Desculpe a demora, desculpe ter-lhe feito esperar todo esse tempo.

Henry contemplou o amigo, contemplou a mala, depois olhou para a Bíblia. Disse então com toda a calma:

— Em verdade, só comecei a esperar por você esta tarde, depois da uma hora, meu caro Jim.

***

A bondade de Deus jamais falha

Espíritos do Senhor sempre estão vigilantes. Protetores espirituais conservam-nos na serenidade e no equilíbrio, a fim de superarmos os entraves naturais da vida material.

Jamais nos distanciemos da reflexão, da serenidade e da oração, ingredientes fundamentais para que nossas antenas espirituais captem as sugestões, alertas e recomendações que vêm da espiritualidade maior.

A religião, seja qual for, professada com seriedade e alegria, sustenta a nossa fé, principalmente pelo espírito de emulação que irradia dos companheiros de jornada.

No entanto, o fundamental é nos mantermos com a alma ligada à espiritualidade, conservando-nos na verdade e no bom ânimo, auxiliando os que nos procuram, e tudo virá, no tempo certo, como acréscimo de misericórdia da justiça divina.

Deus jamais nos abandona!

 

Referências: Artigo de Jean Dalrymple, A dívida de vovô, retirado de Seleções do Reader’s Digest, de junho de 1948; A vida escreve e Almas em desfile, Hilário Silva; Endereço certo, Richard Simonetti.