A Educação
- Colunas
- 11/01/2019
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O vocábulo educação aparece vinte e nove vezes em O Livro dos Espíritos (1).
A primeira vez é na pergunta de número seis, onde Allan Kardec questiona se o sentimento íntimo que temos em nós da existência de Deus não seria o efeito da educação e das ideias adquiridas, ao que os Espíritos Superiores respondem que a ideia de Deus é inata na criatura. E a última aparece no comentário de Kardec à questão novecentos e sessenta e quatro da mesma obra, que reproduzimos em parte:
“Um pai dá a seu filho educação e instrução, ou seja, os meios de saber se conduzir. Dá-lhe também um campo para cultivar e diz: ‘Eis a regra a seguir e todos os instrumentos necessários para tornar este campo fértil e assegurar tua existência. Eu te dei a instrução para compreender esta regra; se a seguires, teu campo produzirá muito e te proporcionará o repouso para teus dias de velhice; caso contrário, não produzirá nada e morrerás de fome’. Dito isso, deixa-o agir por sua vontade, livremente.”
Da Introdução retiramos importante dedução a respeito dos atributos dos espíritos:
“…a inteligência e o pensamento são capacidades próprias de algumas espécies orgânicas; e que, enfim, entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma que é dotada de um senso moral especial que lhe dá uma incontestável superioridade sobre as outras: é a espécie humana.”
Dos dois textos acima deduz-se que o espírito tem a necessidade de educar-se em dois âmbitos, o intelectual e o moral, mas sempre sujeito às escolhas e dedicação que lhe é particular, como encontramos explicado em o Resumo Teórico da Motivação das Ações do Homem:
“Assim, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas, e no estado corporal, na disposição de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que estamos voluntariamente submetidos. Cabe à educação combater essas más tendências; ela o fará utilmente quando estiver baseada no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral será possível modificá-la, como se modifica a inteligência pela instrução, e como a higiene, que preserva a saúde e previne as doenças, modifica o temperamento.”
Segundo a Codificação, a prioridade deverá ser a educação moral da criatura humana, que Kardec descreve com objetividade:
Não basta dizer ao homem que é seu dever trabalhar, é preciso ainda que aquele que tem de prover a existência com seu trabalho encontre com que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando a falta do trabalho se generaliza, toma proporções de um flagelo como a miséria. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio entre a produção e o consumo; mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, não será contínuo, e nesses intervalos o trabalhador precisa viver. Há um elemento que não se costuma considerar, sem o qual a ciência econômica torna-se apenas uma teoria: é a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral; não ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, que dá os hábitos: porque educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.(2)
Esse processo educativo também diminuiria a necessidade de uma legislação pesada:
“Só a educação pode reformar os homens, que então não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.”
Assim, a educação moral se apresenta como sendo a solução para todos os problemas socioeconômicos que vivencia a coletividade humana, e, portanto, deveria ser tratada como prioridade máxima a ser perseguida para sua concretização.
Nota-se, com muita facilidade, observando o panorama humano, a existência de um desequilíbrio muito grande entre educação formal e educação moral. Em todas as épocas da humanidade esse desequilíbrio provocou, e ainda provoca prejuízos de toda sorte, porque não se leva em conta os valores morais adequados para o bem estar de todos.
A educação moral, obrigação natural individual, sempre deverá ser objeto de atenção e esforço de cada um, inclusive com foco na formação dos novos membros da sociedade, composta pelos espíritos em idade infantil na Terra, como assevera os Espíritos Superiores:
“Como já dissemos, os Espíritos devem contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm como missão desenvolver o de seus filhos pela educação. É para eles uma tarefa: se falharem, serão culpados.”
E poderíamos concluir, com Allan Kardec, que põe no egoísmo a causa de todos os males:
“A cura poderá ser demorada, porque as causas são numerosas, mas não é impossível. Isso só acontecerá se o mal for atacado pela raiz, ou seja, pela educação; não pela educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, bem entendida, é a chave do progresso moral; quando se conhecerem a arte de manejar os caracteres, o conjunto de qualidades do homem, como se conhece a de manejar as inteligências, será possível endireitá-los, como se endireitam plantas novas; mas essa arte exige muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter o conhecimento da ciência para exercê-la com proveito.”
Pensemos nisso.
Antônio Carlos Navarro
Notas do autor:
(1) Todos os textos em itálico são de O Livro dos Espíritos; e
(2) Os grifos são nossos.
Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em
<http://www-tc.pbs.org/wgbh/nova/next/wp-content/uploads/2013/10/anonymous-blind-inline.jpg>.
Acesso em: 10NOV2015.
Originally posted 2015-11-10 22:35:45.