A Entrevista

Sidney Fernandes

A repórter Juliana, do Jornal da Comarca, havia sido escalada para produzir matéria sobre instituições de assistência a crianças carentes. Coube-lhe entrevistar Dona Vitória, idosa senhora muito conhecida por sua dedicação à creche que dirigia.

— Que bom conhecê-la, Dona Vitória. Ouvi muito falar de sua dedicação e desprendimento. Nós, do Jornal da Comarca, admiramos muito a sua obra meritória.

— Meritória, não. Moratória.

— Como assim?

— Muitos anos atrás eu passei por vários problemas de saúde. Inicialmente, foram os rins. Virei uma fábrica de pedras, que atormentavam minha vida. Depois de um tratamento homeopático, o organismo se organizou e passei uns tempos muito bem. No entanto, logo em seguida surgiram os desmaios. Passei por vários exames e nada foi encontrado de errado em meu cérebro.

— Nossa, quanto sofrimento. Depois disso sarou? Pois hoje vejo a senhora forte e saudável.

— Graças a Deus, conheci Ricardo, colega de trabalho de meu filho, que me encaminhou ao centro espírita que frequenta. Foi o primeiro que me falou das doenças aparentemente sem causa que as justifique. Explicou-me, entre outras coisas, sobre os compromissos morais que trazemos de vidas anteriores e os efeitos deles decorrentes. Além disso, depois de uma entrevista fraterna, obtive algumas orientações do mentor espiritual do centro espírita. Disse-me, em resumo, o seguinte:

— As doenças estão sendo benéficas para a sua cura espiritual. Se quer livrar-se delas, passe a enxugar lágrimas.

— A princípio não entendi. Mas, depois, Ricardo me explicou que o espírito estava me propondo uma moratória. Suspenderia o ciclo de doenças da minha vida, desde que eu me dedicasse às tarefas do bem. E aqui estou, minha filha.

— E as curas de suas doenças, aconteceram imediatamente?

— Aconteceram gradativamente e hoje, não obstante a idade, tenho uma “saúde de ferro”.

— E nunca pensou em desistir do serviço, após a recuperação? O que a fez continuar? A consciência de quem se dispunha a realmente servir?

— Não! Foi por medo mesmo de retornar à vida anterior. Acabei me encantando com o trabalho de recuperação dos meus pequenos.

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Se queremos superar nossas dores, evitar doenças e vencer amarguras, pesares, dissabores e desencantos, temos que, imediatamente, aprender a usar o elixir milagroso, que dá vida aos pontos mortos que teimamos em trazer de nosso passado. Preservemos a saúde moral, da mesma forma que nos apressamos a procurar ajuda para o corpo físico. Para alcançar esse objetivo contamos com um GPS infalível, que foi acionado pelos exemplos do Mestre Jesus, de serenidade, paciência e serviço no bem.

Nota do autor: Texto inspirado na página “A moratória”, de Richard Simonetti