“A Esperança na Vida versus a cultura do Medo”
- Colunas
- 27/07/2023
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Por Jane Maiolo
“Há tanto tempo estou convosco, e tu não me tens conhecido?”[1]
De onde vem o sentimento do medo? Por que temos medo de sentir medo? O que desperta a inquietação na alma ante o perigo, até mesmo imaginário?
Questiona-se apenas o medo comum, o “medo nosso de cada dia” e não o medo sintomático, o medo patológico, o pânico fóbico sob um cortejo de desordens psicossomáticas.
Grandes personagens da humanidade admitem que têm medos ou já passaram por situações que desencadearam fobias importantes.
A cultura do medo obstrui a espontaneidade humana, impedindo o homem de viver sem as persistentes repressões delimitadoras da liberdade relativa. Temos medos das misteriosas circunstâncias do porvir. Receamos falar, ouvir, pensar, aproximar, sentir. São pavores incompreensíveis que sequer ousamos buscar as explicações razoáveis. Em face disso, atrofiamos os sentidos sob o jugo do temor.
Internalizamos até mesmo o receio de outrem. Atemorizamo-nos ante os assaltos, os sequestros relâmpagos, os projeteis “perdidos”. Ficamos ruborizados diante do “estouro” do cheque especial, tememos trajar os vestuários mais simples a fim de escapar da crítica alheia. Intimidamo-nos diante da probabilidade de errar, tememos viver e nos assombramos diante da morte.
Somos assim, seres amedrontados diante das críticas, preferimos passar uma vida inteira no anonimato a nos arriscar a uma situação que nos colocaria em evidência.
Se o ditado popular profere: filho de peixe, peixinho é, então devemos, por convicção, entender que filho de Deus… grandioso é. Somos isso! Grandiosos e capazes de nos livrar dos medos, dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho, enfim, dos terrores limitantes a fim de superar as fragilidades e deficiências psicológicas diante da experiência.
A cultura do medo é instalada desde o berço, observemos: quando embalamos nossos filhos para niná-los, cantamos as cantigas: “boi-da-cara-preta”, “nana nenê que a cuca vem pegar”, desde pequenos somos educados, condicionados, consciente ou inconscientemente, que devemos temer algo, alguém ou alguma coisa. Tememos até mesmo o Criador da vida.
Mas não é esse o sentido da vida, deveríamos propor desde o berço a prudência eivada de esperanças, confianças, afetos e coragens, pois recordemos que filho de Deus… grandioso é!
Somos criaturas com incomensurável potencial afetivo. Basta acionarmos o start para potencializarmos o amor, a vida, e o encanto pelas coisas, pelas pessoas, para esse desiderato basta encontrarmos um caminho de equilíbrio para que a vida tenha maior significação.
A cultura do medo deve ser banida da sociedade, assim como a corrupção, a ironia, a desvalorização do ser humano.
Não é esse um ponto de vista ingênuo, romântico, e utópico, mas uma concepção essencialmente corajosa, próspera e idealista. Vale a pena investir nos princípios, crenças, conceitos, valores e atitudes do ser humano, um ente incrível, admirável e curioso na essência.
A cultura da esperança principia no direito à liberdade, no sorriso amistoso, no gesto de confiança e no aceno de parceria.
A teoria de Erickson, psiquiatra norte-americano, pesquisador da neurolinguística e métodos de trabalho, revela que “nos primeiros meses de vida, o bebê adquire a confiança ou o medo que perdurarão pela vida toda”, assim sendo a criança maltratada cresce rancorosa e agressiva. Humilhada, acumula sentimento de culpa, revolta e inferioridade e lembrem-se que no futuro serão adultos e essas características poderão acompanhá-la.
Quando instalamos a cultura da esperança e tratamos com justiça e afeto nossas crianças, elas desenvolvem o respeito, a confiança, o sentimento de amizade, aprende a gostar de si e dos outros e são muito afetuosas.
Falar em esperança é alimentar a confiança de que algo bom acontecerá, é acreditar que somos capazes e podemos mudar nossas vidas. Muitos pensam em mutilar os nossos sonhos, enlameando nossa história sob as infaustas auras das corrupções, escândalos e despautérios, entretanto urge acreditar que é chegado o momento da transição, em que a esperança subjuga o medo e não se pode mais arruinar a esperança da criatura que aprendeu a receber os medos, adversidades e pluralidades. Somos grandiosos e não podemos desistir nunca.
Nos paradoxos da vida quando jovens perdemos a saúde correndo atrás do dinheiro e na decrepitude consumimos todo o dinheiro correndo atrás da saúde. Realmente não entendemos a nossa proposta para a vida, carece-nos a conexão com a esperança!
Não lemos nas bulas dos remédios a inscrição de medicamentos que alarguem a esperança, porque esse sentimento por excelência não se deixa capturar pelos instrumentos laboratoriais da Terra. Um certo pensador já proferiu: “Se quiser matar um homem, rouba-lhe a esperança”. O único remédio capaz de acrescer nossa esperança é aquele que encontramos na intimidade da consciência. Portanto, o medo não deve ser matriz do nosso insucesso.
A esperança significa luta, expectativa de mudança, de fé em conseguir o que se deseja. Recusar o abrigo do alento da esperança em nós mesmos é atitude de clara fraqueza moral.
Redescobrir a avenida do correto sentido da vida é dar-nos a chance de um futuro intimorato e venturoso e isso é expectativa positiva e seguramente transitável.
Valorizemos cada momento da vida e optemos pela melhor circunstância, amando, perdoando, sorrindo, pois o amanhã sempre será um outro dia.
Sejamos felizes nas fronteiras dos merecimentos e abriguemos a esperança sem os abraços com o medo.
Jane Maiolo
Referência bibliográfica:
- João 14:9