A Sala Mediúnica Nossa de Cada Dia

Sempre me emociono ao perceber a docilidade que envolve os dialogadores na sala mediúnica. A vibração de amor incondicional. A palavra serena que acalma. A paz interna que não se perturba ante às ofensas. A segurança oceânica que sorri pra toda e qualquer ameaça. O abraço cristão de igualdade perante os caminhos superados, mas seguramente já percorridos pelos doutrinadores de agora.

No exercício de acolher irmãos sofredores desencarnados, temos a chance única de impactá-los com essas vibrações. Lado a lado com irmãos trabalhadores, atuando em diferentes frentes da abençoada mediunidade, somos todos compelidos a cooperar em prol da recuperação de cada visitante em atendimento.

Na alegria de trabalhar há pouco tempo nessa bendita seara, tenho visto minha vida prática se expandir, ainda que lentamente, passo a passo, rumo a novos caminhos. E me vejo fortemente convocada a expandir as fronteiras daquela sala mediúnica para dentro do meu cotidiano.

Mãe de três lindos filhos, aos quais sei estar ligada por fios de existências anteriores, nem sempre consigo lançar mão da paciência, do amor e da construção pacífica ante os embates e desgastes do dia a dia. Nos encontros do Evangelho no Lar, sempre costumo afirmar que essa prática semanal é uma forma de nos auto-doutrinarmos, e doutrinarmos também as nossas companhias espirituais.

Porém me deparo mais e mais com o fato de que essas oportunidades de doutrinação estão conosco a todo momento: da hora que acordamos até a hora de dormir (e possivelmente continua em sonhos, desdobramentos). E, para além dos laços consanguíneos, estamos todos nos influenciando mutuamente o tempo inteirinho! Ora obsessores, ora doutrinadores, nos revezamos nesses papeis aumentando os nós das redes que nos prendem uns aos outros; ou resgatando relações no refazimento de velhos nós em laços coloridos.

A nuvem de testemunhas que nos acompanha, seja ela encarnada ou não, são os nossos companheiros na sala mediúnica de cada dia. Algumas vezes igualmente em torno de uma mesa, noutras numa sala de aula, à frente de um volante, na cama, num bar, numa festa, num restaurante: tudo é palco de vida e resgate. Todo segundo é chance e momento de reconciliação interna.

Por que não adocicar a fala como os doutrinadores diante da birra de um filho, da palavra torta do chefe, de um resmungo do marido? Por que não nos colocarmos no lugar do outro, sendo indulgentes com suas dores e sentires, como os médiuns que dão passividade às manifestações dos espíritos? Por que não fazer a sustentação da energia num ambiente que se mostra pesado e desequilibrado?

Certamente não deixaremos de fazer essas escolhas por falta de companheiros de trabalho atentos a nossos atos, como se dá no centro espírita. Afinal, todos sabemos que a realidade é outra: temos inúmeros olhos nos observando a cada passo.

Portanto, que sejamos trabalhadores de nós mesmos, aproveitando as janelas de oportunidade que se abrem, a todos instante, no ventre profícuo da vida.

São muitas e imensas as chances de curar e evoluir.

Orai e vigiai em dobro, que a hora é agora.

Daniela Migliari