Anestésico da Ilusão

Por Jane Maiolo

Depois voltou para seus discípulos e, encontrando-os dormindo, perguntou a Pedro: Nem ao menos uma hora pudestes vigiar comigo? [1]

No limiar de uma Nova Era eis que encontramos a sociedade atual em grave momento. Num clima recíproco de intercâmbio vicejamos as duas esferas da vida :a material e a espiritual.

Ansiedades generalizadas, fobias, medos, ódios, desejos de controle e posses são condições espirituais e morais dos encarnados e desencarnados que nos circundam, cientes estes que soaram os últimos clarins para a derradeira oportunidade renovadora.

Espíritos amorosos, esclarecidos da nossa necessidade de evolução, igualmente aguardam as oportunidades de se fazerem ouvir, através da nossa intuição, a fim de nos despertar a boa vontade, e compreender a necessidade do autoconhecimento e a magna concepção das leis do Criador, alterando o rumo das nossas existências.

O homem moderno cedeu lugar aos transtornos psicopatológicos afligindo-se e degenerando sua marcha moral em processos de dificílimo ressarcimento. As obsessões, as depressões e as diversas síndromes e transtornos são sinalizações cintilantes do nosso distanciamento de Deus e da falta de disciplina e sentido existencial que acometem a maioria das criaturas.

Como pôde o homem moderno se iludir tanto assim?

Nunca a Ciência foi tão positiva, nunca dantes o homem hodierno alcançou tão altos píncaros da intelectualidade, entretanto, nunca dantes nos sentimos tão pequenos, frágeis, vazios e suscetíveis.

As gloriosas conquistas da civilização não nos deixaram nem mais seguros, nem mais felizes, nem mais esperançosos.

Como pôde o homem moderno se ajoelhar inerme ante o apelo da ilusão?

O intelectualismo, o cientificismo são alentos tíbios perante os abismos da crueldade, da conspurcação mental, do escárnio da ética, da decadência dos nobres denodos da honra, da inversão dos legítimos valores humanos.

Como podemos nos iludir tanto assim?

Indubitavelmente estamos atingindo o cume das agônicas cordilheiras psíquicas e não nos podemos assustar com a presença forte e marcante da ansiedade patológica , que nos visita rigorosamente a todos, ensejando concretas ocasiões de reflexão e simples descobertas sobre nossa realidade metafísica em trânsito ligeiro pelo mundo material.

Em todo os continentes psíquicos a dor é singular. Cada criatura que desperta para a própria condição divina promove o arranjo de coros festivos no mundo espiritual, porém, cada criatura ao submergir no lamaçal do crime e do deslize arrasta por contágio o lamento de muitas almas que anseiam o seu despertar, retardando a possibilidade do reencontro feliz.

É certo que as regiões de sofrimentos estão mais vazias, mais é de se aguardar que possamos “velar com o Cristo por uma hora”. É tempo de vigilância, trabalho no bem e atitudes que nos renovem e edifiquem o bem em nós mesmos.

A mediunidade é caminho para a libertação, é consolo ao alcance dos que laboram no bem. Não a utilizemos para revelações mirabolantes tangendo para narrativas de tristes e criminosas experiências passadas, manejando-as qual punhal para ferir almas frágeis e sensíveis com a perfuração da desesperança. O delírio mediúnico tem engendrado muitas mentes invigilantes num clima de desleal e falsa superioridade espiritual. Aos médiuns, aos oradores, aos trabalhadores das instituições espíritas, cabe a tarefa singela de minimizar as dores e maximizar a fé racional, a esperança e a caridade. A caridade talvez seja a bandeira mais neutra para exercitar o amor a causa do bem. Já que a bandeira doutrinaria e filosófica tem sido não mal expressas nos meios espíritas ultimamente.

A sociedade humana é uma vasta gleba, aqueles que descobrirem-se imortais e justos, deve envidar esforços para fazer-se um amigo leal, um psicoterapeuta paciencioso, um irmão bom e justo, pois o amor é o mensageiro da esperança, é o remédio curador que tranquiliza o ansioso, é a luz que afugenta as trevas do medo, é o conforto que neutraliza o clima do ódio e do mal.

Como pôde o homem moderno se ajoelhar inerme ante o apelo da ilusão?

A doutrina do Cristo nos convoca a solidariedade, a fraternidade e a paz. Vigiemos de mãos unidas. Não nos esqueçamos que as pessoas são mais importantes que os eventos e os objetos, até porque nosso ideal é ÚNICO: regressar ao regaço de Deus.

A oportunidade nos é oferecida agora, poderemos nos iludir mais uma vez, porém, fiquemos atentos ao convite do Mestre “Vinde a mim, todos que estais cansados…” [2]

Ser da luz é vencer as sombras da ilusão e continuar rogando a inspiração para que nunca nos falte as forças e as oportunidades de serviço incessante no bem.

Vigiemos por uma hora, com o Cristo!

 

Referência bibliográfica

[1] Mateus 26:40

[2] Mateus 11:28

 

*Jane Maiolo – Professora de Ensino Fundamental, Gestora em Educação Infantil, Psicopedagoga, Psicanalista Clínica. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora dos textos do Evangelho. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog do Bruno Tavares Recife/PE – colaboradora do site www.kardecriopreto.com.br- Revista Verdade e Luz de Portugal, Revista Tribuna Espírita de João Pessoa, Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho e Evangelho e Saúde Emocional da Rede Amigo Espírita. janemaiolo14@hotmail.com