Aproximação e Fuga
- Colunas
- 01/08/2024
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Desta vez, quero vos ver não somente de passagem, mas espero demorar-me algum tempo convosco, se o Senhor o permitir. [1]
O “apóstolo dos gentios”, na sua primeira carta aos coríntios, após recomendar-lhes o que era necessário para o cumprimento das atividades da igreja, manifesta seu desejo de permanecer entre os irmãos de fé um pouco mais. Estar na presença daqueles que nos edificam é valiosa oportunidade de evolução .
Desde os primórdios da Humanidade experimentamos um processo contínuo de aproximação e fuga que colaboraram na nossa estruturação enquanto indivíduos. Aproximamos daquilo que nos interessa e fugimos daquilo que nos ameaça ou cobra-nos novos posicionamentos.
Os primeiros organismos vivos iniciaram um processo de troca de informações químicas com o meio externo há milhões de anos a fim de nutrir-se de substâncias essenciais à sua subsistência e também de repulsão de fragmentos químicos que lhes seriam danosos para a sobrevivência.” [2]
De onde vem essa inteligência instintiva desses seres tão primários? São enigmas não resolvidos pela Ciência Moderna. Aproximação e fuga são posicionamentos tão constantes no nosso cotidiano que não percebemos o automatismo dessas ações na nossa vida .
O espírito pensante vive e evolui num processo semelhante, ora se aproxima das verdades que lhes renovam as energias fisiopsíquicas e espirituais, ora foge desse compromisso individual e intransferível que é a evolução.
Em todos os períodos da Humanidade temos recebido notícias, ensinamentos e exemplos de missionários que tentam por todos os meios nos aproximar das verdades eternas, conforme nos assevera Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, questão 622. [3]
A misericórdia divina é sempre rica de recursos.
Retrocedendo no tempo é possível avaliar como tratamos todos aqueles que de uma forma ou de outra intermediaram essa aproximação com aquilo que é sublime. A verdade sempre nos afronta de tal forma que não conseguimos conviver com seus representantes. O processo de fuga representa um adiamento à aquisição dos valores eternos necessário a todos os espíritos.
Desde a vinda de Abrãao, o primeiro patriarca do povo hebreu, responsável pela tarefa de apresentar-nos o Deus Único, estamos fugindo da proposta espiritual de redenção.
Assassinamos os profetas da antiguidade, serramos o Profeta Isaias ao meio, queimamos uns tantos outros no azeite, crucificamos alguns no madeiro maldito, decapitamos, ateamos a fogueiras tantos outros que ousavam falar de justiça, ética, perdão e amor ao próximo. Em tempos de ódio, perseguição e guerra a presença do amor e da verdade eram sentimentos insuportáveis. Não poupamos nem mesmo o Cristo Divino, representante inigualável do Amor, assassinamos-os com requintes de loucura e insensatez.
É de se notar que nosso histórico espiritual não é muito recomendado, mas assim caminha a Humanidade, com passos de formiga e sem vontade, como entoou o cantor moderno.[4]
Registra o nobre escritor Humberto de Campos, no livro Crônicas de Além-Túmulo , no capítulo 15, intitulado “A ordem do Mestre”, que Jesus interrogava João, o discípulo amado, sobre como andam os deveres cristãos no mundo, onde Ele deixara o exemplo maior do Amor e o Evangelista responde: “- Vão mal, meu Senhor. Desde o Concílio Ecumênico de Nicéia, efetuado para combater o cisma de Ario em 325, as vossas verdades são deturpadas. Ao arianismo seguiu-se o movimento dos iconoclastas em 787 e tanto contrariaram os homens o Vosso ensinamento de pureza e de simplicidade, que eles próprios nunca mais se entenderam na interpretação dos textos evangélicos.”[5]
Talvez seja por tantos atritos e desentendementos acerca de uma doutrina sempre tão acessível a todos os entendimentos que continuamos a criar tantas fórmulas de desvios , destruição e violência contra nós mesmos. Continuamos a aniquilar aqueles que representam o amor, a caridade e a paz como fizemos com Martin Luther King, Mohandas Karamchand Gandhi, Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X e tantos outros conhecidos ou não.
Jesus na sua Sabedoria Infinita percebendo a dureza ainda instalada em nossos corações decide um novo programa, capaz de restaurar a verdade e nos proteger das nossas próprias alienações.
Um plano audacioso e eficaz. Seu novo plano é enviar alguns dos missionários, já “mortos”, impedindo-nos de matá-los novamente, para serem portadores da 3ª etapa da Revelação Divina, o Consolador Prometido, que chegaria em tempo oportuno e reestabeleceria a paz e libertaria consciências .
Humberto de Campos registra o primoroso plano do Cristo no citado livro, dirigindo-se a João: “- Se os vivos nos traíram, meu discípulo bem-amado, se traficam com o objeto sagrado da vossa casa, profligando a fraternidade e o amor, mandarei que os mortos falem na Terra em meu nome.”[6]
Assim, Jesus , o Cristo de Deus, envia o Paracleto em tempo mais que necessário, na esperança de não mais destruirmos aquilo que é capaz de nos elevar enquanto criaturas de Deus.
É tempo de aproximarmo-nos dos ensinamentos do amor para vivê-lo em toda sua plenitude. Fujamos sempre daquilo que nos macula a pureza do coração e nos impede de crescer espiritualmente. Tal qual os primeiros organismos somos hoje espíritos sedendos de substâncias capazes de nutrir nossa alma e edificar nossa vontade de retornar ao aprisco Divino, e se o Senhor assim o permitir demoraremos mais tempo, desta vez, no caminho do amor.
Jane Maiolo
Referências bibliográficas:
[1] 1Coríntios 16:7
[2] Facure, Nubor Orlando. Artigo – “O enigma da consciência”,
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007. Perg. 622
[4]Letra da música composta por Lulu Santos – “Assim caminha a humanidade”.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de Além túmulo ,ditado pelo Espírito Humberto de Campos , cap. 15-Brasília /DF: Ed FEB.
[6] Idem.
Originally posted 2017-09-08 06:00:01.