Asas da Felicidade

PARTE 5

Sidney Fernandes

Investimento moral

Se buscarmos apenas o cultivo da virtude, sem o apoio do raciocínio e da razão, correremos o risco de cair no fanatismo. Tomemos como exemplo os eremitas do passado, que, por suposta espiritualização e fé, entregavam-se a excessos mórbidos. Alguns rolavam nus pelos espinheiros, ou se atiravam em charcos carregados de animais peçonhentos, porque acreditavam que o sofrimento os purificaria. Não é esse o princípio dos que querem cultuar a divindade, mesmo nos dias atuais, martirizando-se? Algumas seitas religiosas adotavam a ordem do silêncio, buscando Deus ao se fecharem ao diálogo com os homens. Tais criaturas incidem na fé sem obras, que a ninguém aproveita. Dizem aos sofredores que os procuram:

— Olhem que estou no caminho de Deus. Vão se virando aí, aquecendo-se e alimentando-se como puderem, que nos encontraremos no céu.

O direcionamento de forças em favor dos carentes de toda ordem precisa estar revestido do filtro da intelectualidade, para que os beneficie adequadamente, sob pena de se realizar o meio-bem, isto é, cuidar de um lado e descuidar do outro. O bem praticado com base apenas no sentimento, sem o auxílio mais acurado do raciocínio e da compreensão, pode ser ilustrado com esta oportuna página de Irmão X.

Lição nas trevas

Espírito benfeitor penetrou escura região a fim de apaziguar, abençoar e aliviar grupo de desesperados. O serviço avançava com muita dificuldade, quando um chefe das trevas, ao reconhecer o missionário, acalmou os seus comandados, impondo-lhes respeitosa serenidade.

— Conheces-me? — perguntou o protetor.

— Sim. Eu era doente na Terra e curaste-me e lavaste minhas feridas. Deste-me teto e agasalho, supriste minha casa de pão e roupa, assistindo a mim e à minha família. Muitas vezes dividiste comigo o pouco de dinheiro que trazias no bolso.

Surpreso, o bondoso irmão estranhou a deferência e indagou:

— Por que agora entregas-te à obsessão e a delinquência?

— Amparaste a minha vida, mas não me ensinaste a viver.

***

Abençoados sejam o pão e a generosidade que venhamos a estender ao semelhante. Diz-nos, porém, a razão, que a assistência material deve ser acompanhada do ensino, do estudo, da profissionalização, da formação intelectual e da mensagem salvadora, para que os deserdados de toda sorte aprendam a caminhar com as próprias pernas.

– continua na parte 6 –