Cada Um Tem A Morte Que Merece

Sidney Fernandes

De repente, sinais sonoros chamaram a atenção dos diretores da Mansão Paz para imagem que aparecia em grande tela. Era um apelo urgente, vindo da Terra, para auxílio às vítimas de grande desastre da aviação. Grande aeronave fora desnorteada por espessa neblina e se chocara contra o pico de uma montanha. Os destroços do avião guardavam quatorze vítimas. Ancião desencarnado, em serviço pela região, formulava urgente pedido de equipe adestrada para a remoção de seis entidades desencarnadas no doloroso sinistro.

— Por que motivo — indagou André Luiz — fora requisitado auxílio para a remoção de seis dos desencarnados quando o total de vítimas era quatorze?

— Todos serão atendidos — respondeu o mentor. No entanto, a morte é diferente para cada um. No presente momento, serão desligados de seus despojos carnais apenas aqueles cuja vida aqui na Terra foi conduzida de forma a favorecer o afastamento imediato. Os demais permanecerão, por enquanto, ligados aos seus despojos físicos.

— Por quanto tempo? — perguntou André.

— Quem sabe? Alguns serão detidos por algumas horas, outros, por alguns dias.

A morte nem sempre coincide com a libertação da alma. Morte física e desencarne não ocorrem simultaneamente. Enquanto o indivíduo pode ser considerado morto assim que o coração deixa de funcionar, o Espírito desencarna quando ocorre o desligamento, que pode demandar mais tempo.

Depois de um acidente rodoviário fatal, nossos comentários geralmente giram em torno da hora da morte:

— Chegou a hora, Deus quis assim.

Negativo! Muitos casos são realmente cármicos e atendem aos desígnios que traçamos em passado remoto. No entanto, muitos saem alcoolizados e em alta velocidade pela estrada e, literalmente, morrem antes da hora e, às vezes, matam pessoas inocentes. Assumem tremenda responsabilidade perante a justiça divina e passam por dificuldades maiores de recuperação e desligamento. Podem ser considerados suicidas inconscientes ou mesmo homicidas, por terem colocado termo a outras vidas.

Mortes dessa natureza não podem ser atribuídas à fatalidade. Da mesma forma que muitos minam seus corpos com intemperanças físicas — substâncias tóxicas e alimentares —  ou espirituais — ressentimentos, maledicência, linguajar grosseiro e obsceno —, os imprudentes podem ser expulsos extemporaneamente da vida por suas inconsequências e responderão por isso.

Nunca nos esqueçamos de que, mais importante do que a maneira como vamos morrer, é o tipo de vida que estamos levando. O gênero da existência que alimentamos determina a tipo de morte que iremos ter.

Fiquemos com André Luiz:

Desse modo, creio mais justo incentivarmos o serviço do bem, através de todos os recursos ao nosso alcance. A caridade e o estudo nobre, a fé e o bom ânimo, o otimismo e o trabalho, a arte e a meditação construtiva constituem temas renovadores, cujo mérito não será lícito esquecer, na reabilitação de nossas ideias e, consequentemente, de nossos destinos.