A Doutrina Espírita, fundamentada numa bioética do amor, amplia o debate e oferece relevante contribuição ao tema”, declara o médico anestesiologista Carlos Roberto de Souza, presidente da Associação Médico-Espírita de Campina Grande (PB).
Como pensar nos transplantes, sob o ponto de vista espírita?
Carlos Roberto de Souza – A doação deve ser voluntária e consciente. Para o doador, é uma atitude de desapego à matéria e de amor ao próximo, que lhe traz benefícios espirituais. Para o receptor, é um exemplo da misericórdia divina que permite, por moratória, a continuidade da existência física.
Você considera seguras as avaliações clínicas da morte encefálica?
Souza – Sim, se forem realizadas de acordo com a Resolução CFM 1.408/97, que tem como base critérios científicos, os quais definem o que é parada total e irreversível das funções encefálicas, principalmente do tronco encefálico, cuja destruição leva à separação da alma do corpo físico.
Como o coração ainda bate, haveria, de alguma forma, repercussão negativa sobre o doador, no momento do transplante? Se houver, há meios espirituais de contorná-la?
Souza – Sim, dependendo da situação evolutiva do ser espiritual e quando a retirada do órgão é feita contra a sua vontade. Nesses casos, os efeitos negativos podem ser atenuados, pelos benfeitores espirituais, por meio do magnetismo curativo, dos esclarecimentos do espírito a respeito dos benefícios do ato de doação e também pelas preces de agradecimento feitas pelos receptores dos órgãos.
Você conhece casos da literatura mediúnica espírita que traz a descrição feita pelo espírito doador sobre o transplante efetuado?
Souza – Sim, uma mensagem do espírito Roberto Igor Porto da Silva, sobre a doação do seu coração para transplante, e outra de Wladimir César Ranieri, referente à doação de suas córneas, ambas psicografadas por Chico Xavier e publicadas na Folha Espírita de fevereiro de 1998. Eles relatam que, apesar de a doação ter sido involuntária, foram beneficiados com o ato e fariam tudo novamente.
Que existe de real quanto à repercussão dos hábitos do doador no transplantado?
Souza – Existem muitas teorias que tentam explicar o fenômeno da “memória celular” registrado nesses casos, o que necessita de mais estudos. Mesmo considerando que, inicialmente, os órgãos do doador estejam impregnados de sentimentos, uma vez que ele é transplantado, automaticamente, passa a receber a influência dos moldes perispirituais do receptor e a obedecer ao novo comando mental. Uma influência psicológica e comportamental do doador só é possível quando o receptor mantém sintonia mental na mesma faixa vibratória do doador (desencarnado).
Qual o futuro dos transplantes?
Souza – Muito promissor, principalmente pelas descobertas de medicamentos (Bortezomib) e desenvolvimento de novas técnicas (como no transplante de traqueia), que diminuem ou eliminam a rejeição, reduzindo a necessidade do uso de imunossupressores. Também pelo maior esclarecimento da população, que vem aumentando a oferta de órgãos e possibilitando a dilatação da existência e a diminuição do sofrimento daqueles que merecerem continuar encarnados e souberem aproveitar, por meio da renovação moral, a nova oportunidade concedida pela bondade divina.
Folha Espírita – Edição número 417