É teu irmão – Richard Simonetti
- Doutrina Espirita
- 24/06/2021
- 9 min
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É TEU IRMÃO!
Richard Simonetti
richardsimonetti@uol.com.br
Residiam os três, marido, esposa e filhinha, num casebre situado em zona rural. O sítio era do patrão e o salário irrisório, ganho com muito suor, mal atendia as necessidades mais prementes.
Certa tarde, enquanto ele trabalhava no cafezal, a mulher, trazendo a menina nos braços, aproximou-se das margens de largo rio. No barranco alto foi acometida de vertigem. Mãe e filha precipitaram-se nas águas caudalosas… Horas mais tarde, o pobre homem, transido de dor, viu os corpos serem retirados do rio.
Desorientado, assumiu a condição do viajor sem destino, como se pretendesse fugir de si mesmo, perseguido pela sombra da tragédia. Para agravar seus padecimentos, passou a sofrer estranhas convulsões. Com semelhante mal, era sistematicamente despedido dos raros empregos que surgiam, descendo à indigência.
Um dia, esteve no Albergue Noturno, do Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru. O plantonista, notando sua expressão sombria, os olhos tristes e perdidos, o rictos de dor nos lábios trêmulos, ganhou-lhe a confiança e ouviu o relato de sua desdita. O infeliz concluiu:
— Sou um desgraçado!… Minha existência está perdida!… A saudade é fel que me amargura os dias! E as atribulações que venho sofrendo!… Tenho passado fome e sido acusado de malfeitor!… Não quero continuar vivendo!…
Notando que a perigosa ideia do suicídio o rondava, o plantonista falou de suas funestas consequências. Mostrou-lhe magnífico desenho mediúnico de Jesus no refeitório, e o exortou a confiar no Mestre Supremo. Falou-lhe longamente, envolvendo-o em vibrações carinhosas e alentadoras de sincera compaixão. O pobre homem ouviu atento, contemplou a figura do meigo Rabi e, sentindo-se possuído de novo ânimo, ponderou:
— O senhor tem razão… É um pecado desesperar-me assim, quando o emissário divino, que tanto sofreu, jamais desanimou. A gente é fraca e há momentos em que tudo fica tão escuro, parece tão difícil, que só se pensa em loucuras. Obrigado por suas palavras. Deus o abençoe! Sabe moço, eu tenho muita fé em Jesus. Ele há de ajudar-me a encontrar um caminho…
***
Por onde andará aquele homem?
Bem, no dia seguinte deixou o albergue e talvez fosse o visitante humilde que nos solicitou a bênção de uma refeição, quando trancamos a porta, após comunicar-lhe que não havia sobras…
É possível que fosse a figura solitária e triste que desejava uma informação na via pública, quando estugamos o passo, fingindo ignorá-lo…
Quem sabe fosse o infeliz de pernas trôpegas que caiu pesadamente à nossa frente, em convulsão, quando nos desviamos, sem cogitar de socorrê-lo…
Julgando apressadamente, justificamos a própria omissão, proclamando:
— É um vagabundo!… Um alcoólatra!…
E Jesus, em quem ele disse confiar? Jesus, de quem esperava amparo? Jesus, que era sua esperança?
Jesus era aquela voz que no íntimo de nosso coração exortava:
— Atende-o! É teu irmão!