Em qual escola? – Orson Peter Carrara
- Colunas
- 06/06/2018
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Imagine uma família que se mudou há pouco para uma nova cidade e resolveu visitar
as duas únicas escolas existentes no lugar para decidir em qual delas matricularia seu filho.
Na primeira visitada, o diretor explicou que lá, a criança estuda durante todo o ano
e, no final do período, fará um teste de avaliação. Se for aprovada, irá, no ano seguinte, para
uma classe especial, com todos os alunos que se dedicaram, formando uma classe de elite. Se
for reprovada, a escola manterá a criança trancada em uma sala, para sempre, com os demais
reprovados. E nem os pais jamais poderão ver os filhos. Eles nunca mais terão outra chance.
Na segunda escola visitada, os pais verificam que o sistema é diferente. Ao final do
ano, as crianças aprovadas também irão para uma classe mais avançada, prosseguindo os
estudos. As que forem reprovadas repetirão o ano, tendo que se submeter novamente aos
ensinos e aos testes nos quais fracassaram, tantas vezes quantas forem necessárias.
Agora é fácil raciocinar em qual escola os pais matriculariam seu filho. É de se duvidar
que possa existir algum pai ou qualquer pessoa no mundo que optasse pelo ridículo da
primeira escola. Como alguém teria coragem de expor o próprio filho a regime tão cruel?
Ora, se nós, os pais humanos, não aceitaríamos tal método absurdo de avaliação e punição,
será que Deus, que é infinitamente superior a nós, bondoso e justo, onipotente, inteligência
suprema do Universo e causa de tudo, usaria esse método injusto e cruel? Isso é inadmissível!
Como podemos comparar Deus às nossas mediocridades e supô-lo cruel e injusto? Sim, porque uma única chance é inviável e pequena demais, considerando os extremos da vida humana e as oportunidades tão variadas e distantes entre todos.
Objetivo da escola é ensinar e não punir. O método da segunda escola é, sem dúvida
nenhuma, superior. A primeira escola demonstra um perfil intolerante, vingativo, punitivo;
a segunda escola apresenta uma didática tolerante, sábia, educadora e, ao mesmo tempo,
infinitamente justa, abrindo e renovando contínuas oportunidades de aprendizado, reparação
e continuidade do progresso.
Pensando nos extremos humanos, nas dificuldades e diferenças tão gritantes, nas
oportunidades tão variadas, nas capacidades e deficiências de toda ordem, como pensar num
Deus parcial, intolerante e injusto diante de quadros que tanto fazem pensar?
E, considere-se ainda, que nos casos dos aprovados na primeira fase, poderão sofrer
reprovação em fase posterior. E aí como consertamos isso?
Esta pequena reflexão, retirada de livro ainda inédito nos contos do amigo Felinto
Elízio, de Maceió-AL, deve ser muito bem analisada. Nada mais acrescentamos, deixando
o leitor refletir sobre o que foi exposto. Ninguém é obrigado a aceitar a ideia aqui exposta,
mas também ninguém pode desprezar, em sã consciência, a lógica de tais comparações e
argumentos. Basta pensar um pouco…
A escola é a própria vida. Qual a destinação depois?