Esterilidade do Coração
- Colunas
- 20/05/2021
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Sidney Fernandes
Autossacrifício e Isolamento
Herdamos da Idade Média a ideia de que o pecado seria superado por intermédio do sofrimento. Com isso, proliferaram várias fórmulas de autossacrifício físico. Uma das maneiras de autossacrifício é o insulamento, como forma de fuga do contato com o mundo ou de autoimposição penosa.
Está surgindo, nos tempos atuais, um novo tipo isolamento: o do homem comum, que não se mistura com a sociedade, cuida da própria subsistência e dos familiares. Estamos diante do eremita urbano, que é religioso por convenção social, não praticante, isola-se em sua casa, indiferente aos problemas do mundo, importando-se somente com sua vida e deixando que o resto se lasque.
Alerta Anthony Robbins, coach e um dos maiores influenciadores do atual mundo dos negócios, que devemos cuidar da força espiritual, meditar todos os dias e evoluir mentalmente, e que, no entanto, se nos afastarmos do relacionamento com a sociedade, em nada teremos evoluído.
Muitas pessoas — continua Tony — acham-se confortáveis, bem resolvidas e se dizem realizadas porque ostentam o crachá de bom religioso por convenção social, porque dão alguma contribuição para alguma entidade filantrópica, porque praticam ioga, porque são vegetarianos ou porque meditam.
— Meditar torna-se hábito, frequentar casas espirituais também, ser generoso dentro dos templos é mais fácil ainda. O difícil é trazer tudo isso para o dia a dia, nas relações, porque é aí que mostramos mesmo quem somos. Não basta meditar todo dia e se aborrecer com a companheira, com os filhos ou com os pais. Não basta espiritualizar-se, fazer caridade e tratar mal o porteiro, o garçom e o caixa do supermercado.
As palavras desse moderno e influente orador e escritor influenciam multidões com expressões bem próximas às máximas do Cristo, que nos recomendam que cuidemos do próximo, afastemo-nos de nossas zonas de conforto e façamos a ele o que gostaríamos que nos fizessem.
Diz Emmanuel que os eremitas urbanos que se encastelaram egoisticamente em suas zonas de conforto, despreocupados com as pessoas carentes que o cercavam e desvirtuados de sua fé religiosa, e se anularam no isolamento improdutivo, constatarão, ao término da jornada terrestre, que apenas cultivaram a esterilidade do coração.
Encontraram a almejada felicidade? Sim, mas de forma superficial e efêmera. Países adiantados tecnológica e socialmente, cujo comportamento usual patrocina o egocentrismo, não por acaso ostentam altos índices de depressão e suicídio.
A felicidade, ainda que relativa, aqui na Terra, só será alcançada quando conquistarmos o seu tempero mais importante: a paz. E o método infalível para obtê-la está na participação de movimentos de solidariedade em favor do bem comum.
As casas religiosas, dedicadas à filantropia e à caridade, em seus mais variados ângulos, representam o fórum ideal para dar a resposta precisa para qualquer um que almeje a paz, que o levará à felicidade.
Liberte o próprio coração, destruindo as barreiras de conhecimento e fé, título e tradição, vestimenta e classe social, existentes entre você e as criaturas e a felicidade, que você fizer para os outros, será luz da felicidade sempre maior, brilhando em seu caminho.
André Luiz
Referências: Documentário “Eu não sou seu guru”, de Tony Robbins; Por uma vida melhor, de Richard Simonetti; O Livro da Esperança, de Emmanuel; O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec e Apostilas da Vida, de André Luiz.