Nos Bastidores da Morte
- Colunas
- 22/02/2019
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por Sidney Fernandes
O talentoso pianista Don Shirley percebeu as dificuldades de seu motorista italiano para escrever cartas à sua esposa. Bondosamente, ofereceu-se para ajudá-lo, ditando os mais belos textos, que encantaram a destinatária das missivas.
A cena que tentei descrever faz parte do excelente filme “Green Book – O Guia”, dirigido por Peter Farrelly, e chamou-me a atenção por fazer lembrar outra cena, narrada no livro Missionários da Luz.
A edificante narrativa de André Luiz fala da desconsolada viúva Ester, que pediu ao mentor Alexandre para desvendar o mistério da morte de seu marido, Raul, supostamente assassinado.
Com breve tempo investigativo, a elevada entidade constatou que, na verdade, o procurado havia sido vítima de si mesmo: suicidara-se. Desarvorado, o suicida fora facilmente enlaçado por seres da sombra e se encontrava completamente inconsciente. Graças ao vigoroso influxo magnético de Alexandre, o suicida foi resgatado e encaminhado para casa espiritual de socorro urgente.
Precisava ser despertado, mas com os devidos cuidados e acompanhamento especializado, pois, nesses casos, o infeliz não despertaria apenas para a consciência própria, senão também para a dor, a imensa dor, que o faria rugir como se atingido por um projétil, ao constatar a sobrevivência dolorosa, após o suicídio.
Depois de setenta horas de tratamento intensivo, Alexandre retornou para uma conversação esclarecedora. Além da ferida aberta, do coração descontrolado, das dores agudas e do grande abatimento, o suicida sentia-se um desgraçado e gritava pelo nome da esposa e dos filhos.
Tentando trazer alguma tranquilidade a Raul, Alexandre começou os preparativos para que a viúva Ester fizesse uma visita espiritual ao marido desencarnado. Mandou tapar a chaga aberta e sanguinolenta, muito visível na região dilacerada do organismo perispiritual do suicida, para que a esposa não percebesse qualquer impressão de sofrimento.
No momento autorizado, Ester adentrou o recinto e viu o marido estendido no alvo leito espiritual.
— Raul, Raul — clamou ela, ajoelhando-se.
Ao doente não acorriam as palavras adequadas, para dialogar adequadamente com a esposa.
Nesse momento, fios muito tênues de luz partiram de Alexandre e se ligaram à fronte de Raul. Sob o vigoroso influxo magnético do mentor, finalmente o pobre dementado conseguiu falar, como se fosse uma criança, acompanhando cada palavra, cada gesto, do generoso orientador.
— Não chores mais, Ester. Vela por nossos filhinhos e ajuda-me com a tua fé. A morte não existe. Aceita a vontade do Pai, como estou procurando aceitar — falou Raul, repetindo as frases mentalmente articuladas por Alexandre, que o amparava fraternalmente.
***
Assim como o pianista ditou as cartas para seu desmemoriado motorista, dirigidas à sua esposa, Alexandre, generosamente, imprimiu nas palavras do sofredor delicadeza e finura psicológica, para confortar sua amada Ester.
Ao término do consolador encontro, Alexandre conduziu a lacrimosa esposa de volta ao seu corpo físico. De olhos límpidos e brilhantes, Ester narrou, emocionada, aos seus filhos, no dia seguinte, o sublime sonho da noite.
***
Fiquemos com as sábias palavras de André Luiz, para nossa reflexão:
Quando os companheiros terrestres se fazem merecedores, podemos colaborar em benefício deles, com todos os recursos ao nosso alcance, desde que a nossa cooperação não lhes tolha a liberdade de consciência.