Nossa História
O Centro Espírita Allan Kardec funcionou, como tal, a partir de 1927 ou 1928, quando chegou de Araraquara João Fusco, médium conhecedor da doutrina, bom orador e escritor que usava o pseudônimo de Jofus. Antes havia, no local, o primeiro Centro Racionalista Cristão (redentoristas). A sede ficava na Rua Floriano Peixoto, entre a Rua Jorge Tibiriçá e a Siqueira Campos. Os redentoristas construíram nova sede na Rua Boa Vista, belo prédio próprio, cujas linhas arquitetônicas são semelhantes ao primitivo, que ficou com os kardecistas.
Minha mãe era católica e, a convite da cunhada de João Fusco, foi assistir a um dos trabalhos. Gostou, passou a freqüentar o Centro e convidou os filhos a acompanhá-la, o que foi feito, por oitenta por cento deles. Isso se deu entre 1928 e 1929. Eu só comecei a ir ás sessões, em 1932. Nesse tempo, o clero católico era muito influente e o espiritismo pouco conhecido. Os padres combatiam-no, com toda veemência. Monsenhor Gonçalves, vigário da Catedral, publicava candentes artigos, pela imprensa local, contra o espiritismo, e os reforçava amiúde do púlpito. João Fusco costumava respondê-los com argumentos, em boletins muito bem escritos, que fazia distribuir na calada da noite, por serem considerados pelos padres como perniciosos. Meus irmãos Rolando e Étore ajudavam nessa distribuição. Em 1932, eu ia com eles e me sentia censurado, cada vez que “A Notícia” divulgava os artigos de Monsenhor Gonçalves, não raro ofensivos.
Depois da revolução de 30, com Getúlio Vargas, as coisas pioraram. A lei de Segurança não permitia boletins sem o visto da Delegacia de Polícia que fazia censura. Apesar de Getúlio ser anticlerical, a polícia local raramente liberava a entrega dos boletins do Centro e os queimava. Na época, era costume taxar os espíritas de comunistas.
João Fusco, culto e inteligente, criou uma escola de oradores doutrinários que visitavam os Centros regionais, em grupos, dando orientação e difundindo a doutrina.
Em 1932, Getúlio sufocou a Revolução Constitucionalista, e João Fusco foi desterrado, como muitos outros, taxado de comunista pelo clero, tendo falecido sem jamais retornar a Rio Preto.
Com minha assídua freqüência ao centro, acabei sendo eleito, várias vezes, de acordo com os Estatutos, Presidente do Allan Kardec. Atribuo essa honra mais á amizade dos companheiros que a meus próprios dons pessoais. Com a lei getulista, a frequência diminuiu até a vinda do confrade Lorenzini, de Catanduva, entre 1947 e 1948, que reuniu, com competência, os irmãos e reativando-a.
Em 1949, notamos que o prédio onde funcionara o 1º Centro Racionalista Redentor já não oferecia garantias. De comum acordo, resolvemos derrubá-lo e construir, ali, um novo prédio. O dinheiro saiu da venda de terrenos de propriedade do Centro e da ajuda da firma dos Irmãos Tonello. O prédio, bem mais moderno, foi inaugurado em 1952, com biblioteca, livraria e tipografia. Lançamos o jornal mensal “O Iluminador”, que repercutiu muito bem, divulgando a doutrina e o trabalho do Centro.
A diretoria providenciou novos estatutos, e o Centro, que passou a se chamar Associação Espírita Allan Kardec, deslanchou sua ação, com apreciável freqüência, conferências mensais programadas, ambiente construtivo e muita generosidade. Entre 1954 e 1955, ausentei-me de Rio Preto e entreguei a direção da Associação ao Dr. Lotf João Bassitt.
Este senhor, culto, há pouco ingressado na doutrina espírita, estava um pouco entusiasmado e fanatizado pelas reuniões de seções práticas de comunicação espirituais. Porém, respeitou e continuou com a organização encontrada, não deixando, entretanto, de fazer algumas alterações, de acordo com seu pensar, sem ferir as regras da doutrina espírita. Fez novos estatutos, de acordo com seus interesses, coadjuvado com Lázaro Enque, também culto, e outros. Não havia necessidade, pois os encontrados eram ótimos.
Hoje, o movimento espírita está se tornando muito grande, devido à evolução e melhor compreensão da coletividade. A Associação Allan Kardec cresceu bastante, e ao lado de outras Associações, desenvolve inúmeras atividades sociais na cidade.