O Custo do Abandono Emocional
- Colunas
- 24/04/2024
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por Jane Maiolo
Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. ¹
-2 Coríntios 4:16
Em época de grandes avanços intelectuais, científicos e tecnológicos é possível observar também o avanço das perturbações sociais como a criminalidade e a violência estampadas na face da sociedade contemporânea. Vivemos uma grande catarse social: feminicídios, estupros, intolerâncias, corrupções, atentados, suicídios, a desestruturação da base social, da família e o triste abandono da infância.
A vitimização por homicídio de jovens de 15 a 29 anos, anotada em vários países é fenômeno denunciado ao longo das últimas décadas, mas que permanece sem a devida resposta em termos de políticas públicas que efetivamente venham a enfrentar, anemizar ou resolver o problema. Quando crianças e jovens aderem a pulsão de morte e destruição significa que a vida, para eles, não é importante!
O homem do século XXI tem cada vez mais conhecimento e controle sobre o mundo exterior, porém tem se afastado com a mesma intensidade do seu mundo interior. Aprendemos a dominar algumas forças da natureza, a construir diques, barragens, abrigos, aperfeiçoar a inteligência artificial, porém não conseguimos nos dominar emocionalmente, nem tampouco nos conhecer a fim de evitar tantos dissabores.
Segundo o pediatra e psicanalista inglês, Donald Winnicott, o ser humano é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento, tendência essa que requer um ambiente facilitador e a presença constante de um agente suficientemente bom para ajudá-lo a desenvolver-se na primeira infância, período que se estende aproximadamente até os seis anos de idade. ²
Os primeiros anos do ser humano são marcados por intensos processos de desenvolvimento biopsíquico- emocional. É uma fase determinante para a capacidade cognitiva e sociabilidade do indivíduo. As crianças nesta fase precisam de amparo, compreensão, oportunidades e estímulos, para que possam desenvolver cada uma de suas aptidões, assim como criar vínculos afetivos, sentimento de pertencimento, autoconfiança, responsabilidade, dentre outros afetos.
A sociedade de modo geral vem pagando um preço alto por não compreender o papel e a responsabilidade de cada um na esfera social e humana. O transtorno mental e os distúrbios de comportamento se multiplicam, já não sabemos como agir. Para se ensinar na escola não serão apenas necessários um livro, uma caneta, uma criança e um professor como assinalava Malala Yousafzai, ativista paquistanesa, mas precisaremos de apoio de profissionais da área da saúde como neuropediatras, psicólogos, psicopedagogos, psicanalistas dentre outros.
Nossas crianças, espíritos reencarnados sob nossa responsabilidade, estão se desenvolvendo de maneira frágil sem sentimentos éticos como a empatia, a compaixão, juízo crítico e capacidade de suportar limites. A instantaneidade do prazer é estimulada pela insana sociedade contemporânea e potencializa por todos os meios de alcance do indivíduo. Os pais têm medo de serem “pais”, deixando o posto vazio ou temporariamente fora de área de serviço, com possibilidade de outros assumirem o papel tão fundamental que é a educação integral do ser humano. A frustração precisa voltar a fazer parte da lição de casa, pois dizer “não” é um desafio que precisamos enfrentar com maturidade. Estabelecer limites é oportunizar para que a criança se adapte à realidade e aprenda a conviver e a superar os conflitos advindos do seu meio social em qualquer tempo.
A frustração, a ansiedade, a raiva, o ódio, a disputa e a privação fazem parte do aprendizado das crianças tanto quanto o amor, o respeito, a solidariedade e a fraternidade.
A segurança emocional das crianças e jovens é que está em jogo. Promover e organizar o ambiente familiar saudável é sem sombra de dúvida a única luz no fim desse túnel chamado sociedade contemporânea, caso não amadurecermos essa ideia e planejarmos outras ações continuaremos fragilizados e temerosos pelo amanhã.
A nova geração, preconizada por Allan Kardec no livro “A Gênese” precisa de objetivos claros e limites para se ajustarem ao novo vindouro. ³
A humanidade se transforma, isso é evidente, porém a influência dos pais e uma educação de qualidade é sempre o material divino para ascensão de uma Nova Geração. 4
Atentemos a admoestação carinhosa do Convertido de Damasco: “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” 5
Bibliografia:
- 2 Coríntios 4:16
- Winnicott, D. W. (1969c). (1975b). Conceitos contemporâneos de desenvolvimento adolescente e suas implicações para a educação superior. In O Brincar & a Realidade. Rio de Janeiro: Imago.
- KARDEC, ALLAN. A Gênese. 19ª Edição. SP. LAKE- CAP. CAPÍTULO XVIII
- KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007- questão 208;
Jane Maiolo –Gestora em Educação Infantil, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Psicanalista Clínica pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Contemporânea, Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora dos textos do Evangelho. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog do Bruno Tavares –Recife/PE – colaboradora do site www.kardecriopreto.com.br- Revista Verdade e Luz de Portugal, Revista Tribuna Espírita de João Pessoa, Apresentadora dos Programas: Sementes do Evangelho e Evangelho e Saúde Emocional, da Rede Amigo Espírita. janemaiolo14@hotmail.com