O “Locus minoris resistentae” do Movimento Espírita

Por Jane Maiolo 

“Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo.” [1]

Por que adoecemos?

Questões inquietantes como estas muitas vezes ganham nossas mais sinceras, sentidas e profundas reflexões.

O Homem hodierno, conectato ao mundo inquietantemente tecnológico, anseia por descobrir a resposta para tal enigma.

As descobertas científicas do século XXI têm nos permitido desbravar o conhecimento sobre o Cosmo, ampliando nossa percepção acerca do Universo. Investigou-se e descobriu-se qual a utilidade do DNA. Achou-se água em Marte, o fenômeno da reprogramação celular e outras muitas investigações importantes para a evolução da vida humana na Terra.

Porém, ainda é aflitiva a questão do por quê adoecemos? Quais as razões de ainda não conseguirmos devassar as reais causas de tão urgentes e profundas demandas?

Existem múltiplas causas para surgimento das enfermidades físicas, psíquicas e ou mentais. Entretanto, sob o jugo do materialismo mecanicista e sistêmico, combóia o homem moderno sem compreender a magnitude d’outras dimensões imperceptíveis aos olhos humanos, e que nem por isso “irreais”.

O binômio corpo e alma volta à baila exigindo do pesquisador contemporâneo um olhar mais perquiridor, mais audacioso e profundo.

Os princípios espíritas confirmam que somos os seres inteligentes da Criação, compostos por espírito (centelha divina), períspirito (laço fluídico que liga o corpo ao espírito) e corpo físico. Na doença do corpo não podemos “perder de vista que, assim como o Espírito atua sobre a matéria, também esta reage sobre ele, dentro de certos limites, e que pode acontecer impressionar-se o Espírito temporariamente com a alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe as impressões.” [2]

Enquanto seres em evolução na Terra, ora jazemos na matéria e ora estamos fora dela ,na dimensão espiritual. Nessas experiências, mormente encarnados, vivenciamos circunstâncias nos comprometendo com outros espíritos através de sentimentos e emoções capazes de alterar nossa constituição psicossomática desorganizando-a sob o impacto do ódio, do rancor, da vingança, da ganância, da mentira, dos vícios e das imoralidades adotadas.

Assim o corpo físico ressentirá as moléstias geradas basicamente no perispírito a exteriorizar-se imediatamente na vida atual ou no futuro no processo de esculturação doutro arcabouço físico doente, desta forma, adoecemos porque  entulhamos as emoções e sentimentos.

Fato paralelo também tem ocorrido no Movimento Espírita.

Podemos comparar a Doutrina Espírita ao Espírito ,o Movimento Espírita ao perispírito e as  instituições seriam o corpo físico.

Encontramos um corpo (grupo) passível de adoecer pela insensatez, pela falta de comprometimento doutrinário, pela escassez de estudo sérios, pelo extemporâneo intelectualismo, pelos exercícios mediúnicos indesejáveis.

O “locus minoris resistentiae” é um termo habitual na medicina a fim de descrever um local do corpo que oferece pouca resistência à infecção, danos ou ferimentos.

Constatamos no Movimento Espírita um corpo frágil no seu aspecto vibratório e os micróbios do pessimismo vem se alastrando e as polêmicas improfícuas surgem, contagiando e gerando lesões compatíveis com as distrações do bem.

Metaforicamente podemos comparar o Movimento Espírita ao “Corpo do Cristo”, motivo pelo qual não podemos permitir que quaisquer doenças insidiosas se instalem. É urgente desfraldar as bandeiras das caravanas da fraternidade em busca do entrosamento junto às lideranças e representações doutrinárias ajuizadas e empenhadas com a propaganda das verdades da Terceira Revelação.

Deixemos as infecções ideológicas para os falazes, recordemos as repreensões de Paulo de Tarso aos Efésios – “Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo”. [3]

O que dignifica os membros do Movimento Espírita é a capacidade da transformação íntima que cada um transporta dentro de si mesmo.

O que nos torna membro saudável desse “Corpo Admirável” é a aptidão para o acolhimento, consolação, esclarecimento e orientação das muitas almas enfermas ou ignorantes que buscam o lenitivo da mensagem junto às instituições espíritas.

O que nos torna enfermeiros dessas almas sofridas é aplicação do remédio do diálogo amoroso e fraternal. É as conduzirmos aos tratamentos desobsessivos a fim de favorecer a libertação de vítimas e verdugos das garras simbióticas da obsessão. É amenizar os quadros devastadores das subjugações ante os dramas obscuros do passado. Portanto, para obtermos êxitos nesses desígnios devemos estar revestidos de alento moral e equilíbrio espiritual.

Cuidemos, pois, do Movimento Espírita, dando exemplos de superação na busca da estabilização da saúde desse sublime “Corpo”. Os medicamentos ainda são os mesmos indicados pelo Mestre: “Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo. [4]–

As advertências paulinas nos são oportunas: “Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem.

Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros! ”[5]

Assim todo nosso corpo, que é o Movimento espírita, vibrará saúde e paz!

Referências bibliográficas:

[1] Efésios 4:32

[2] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão nº 375 (a), RJ: Ed FEB 2002

[3] Efésios 4:32

[4] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 5. RJ: Ed FEB 2000

[5] Efésios 4:29,31,32