O Momento Da Cura
- Colunas
- 08/07/2020
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Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br
Que destino você daria a Hitler, responsável pela eclosão de uma guerra com dezenas de milhões de mortos? Ou a Átila, que se vangloriava de sua crueldade? Ou a criminosos que violentam e matam crianças?
Todos eles seriam submetidos, segundo as leis humanas, a penas cruéis, de morte ou de longos sofrimentos. A Providência Divina, no entanto, vê esses espíritos de outra maneira. Considera que a maldade é uma doença contraída quando se cultiva a rebeldia e o desatino e que pede o concurso do tempo e a terapia da dor, a fim de que a alma seja reconduzida ao caminho da evolução.
Vou lhe apresentar outra hipótese, amigo leitor, inusitada, mas nem por isso inverossímil. E se uma dessas infelizes almas, lamentavelmente carregada de compromissos pretéritos, aportasse em seu lar? Que destino você daria a ela?
Embora improvável, essa situação não é impossível. Ela concretizou-se na Índia, na família de uma jovem de dezenove anos, que tinha poderes de cura e havia aliviado as dores de grande número de pessoas.
Ocorre que seu pai ficou gravemente doente e naturalmente esperava que a filha o curasse. No momento em que foi orar por ele, ela sentiu que ainda não era o momento da cura. Ele ainda não estava preparado para a saúde.
A jovem argumentou com os familiares que havia sido informada de que o chefe da casa ainda não estava devidamente amadurecido para ter a saúde de volta.
Tudo inútil! Os familiares pressionaram a moça de tal forma que ela teve que aplicar seu magnetismo no pai, que, tempos depois, estava curado. Todavia, assim que ele se viu livre da enfermidade, passou a viver uma vida dissoluta, que interrompeu o processo de crescimento espiritual que estava vivenciando através da dor e da doença.
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Certa ocasião, em 1965, o espírito do médico Dr. Fritz quis operar a vista de Chico Xavier, através do médium José (Arigó) Pedro de Freitas. Chico agradeceu muito, mas não quis ser operado. Tinha ciência de que sua deficiência era cármica e de que, se ela fosse suprimida, sem que os compromissos do passado estivessem equacionados, poderia surgir nova doença.
Com bom humor — sua característica —, disse que já havia se acostumado com aquele mal e que, se surgisse um novo, talvez ele não conseguisse suportá-lo.
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Quando conquistarmos visão mais ampla da vida, iremos perceber que as nossas limitações e dores nada mais representam do que o reflexo do nosso interior. Elas permanecerão, enquanto remanescerem em nosso íntimo as lesões perispirituais que adquirimos nesta ou em outras vidas.
Surge a grande questão: por que curar as pessoas, se as dores e doenças fazem bem ao espírito? Essa pergunta foi feita ao grande cirurgião carioca Paulo César Fructuoso, que já operou dezenas de milhares de pessoas.
— Porque a minha obrigação, como médico, é salvar vidas ou minimizar dores. Além disso, como vou saber se já não chegou o momento da libertação do meu paciente ou se Deus não resolveu lhe conceder uma moratória? Por isso, sempre farei o melhor possível para curar e auxiliar os doentes que me procuram.
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Fiquemos com O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec:
É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe”? Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira?