O Perigo da Idolatria Espírita

É fato que as pessoas na Antiguidade tinham por hábito cultuar deuses.

Em consequência, embora a diversidade de facetas da experiência moderna, uma há que chama a atenção, porquanto hoje (como no passado) os homens estão a cultuar deuses, mas estes agora estão metamorfoseados de líderes políticos, atores, jogadores de futebol, celebridades em geral e, no contexto espírita, celebridades espíritas!

Sem alarde, sabemos, através de estudos e pesquisas sérias, que grande parte da população mundial sofre nos tempos de agora, em maior ou menor grau, da síndrome do culto à personalidade. Além disso, os adolescentes, insinuam os estudos dedicados ao tema, são os mais suscetíveis ao transtorno. Mas particularmente observo muitos adultos preocupados com o ídolo…

Compreendo o respeito que se tenha a pessoas pela admiração que elas nos provocam quando realizam (e/ou realizaram) ações (obras) que nos afetam ou cativam em profundidade por qualquer razão ou motivo sensato. É humano e um belo tributo à pessoa, que terá seu nome inscrito na história de um povo, de uma comunidade, e, no nosso caso, nos registros espíritas…

Mas a meu ver isso basta. A idolatria não dá certo.

Cada um de nós pode, de tempos em tempos, regredir através de um padrão que polariza uma pessoa (no caso uma personalidade pública), tornando-se prisioneiro da arte de idolatrar.

E o mínimo então que temos a fazer diante do risco das grandes forças regressivas dentro de nós, muito ligadas talvez ao antigo hábito de idolatrar ‘deuses ou bezerro de ouro’, é procurar retomar a consciência e se ater à prudente observação do poeta persa Rumi: “cada homem veio ao mundo para realizar um trabalho particular e esse é o seu propósito”. Quer dizer, mesmo “ele” [o ídolo] está fadado à realização de um trabalho particular e é um ser humano como qualquer outro.

Assim somos gratos a Francisco Cândido Xavier por sua fecunda mediunidade dedicada aos livros, por seus exemplos de consolo, caridade e humildade. Também os escritos pelo competente Espírito Joanna de Ângelis, através da mediunidade de Divaldo Franco, cuja obra de assistência e de divulgação do Espiritismo pelo mundo é vasta.

Mas condutas que, no meio espírita, extrapolem o justo reconhecimento aos trabalhadores espíritas, infelizmente fazem aliança com o equívoco da idolatria.

Então, espíritas, por que dar vazão à síndrome do culto à personalidade e, em consequência, a esses excessos que observamos na mídia espírita, quando há registros de reportagens ou escritos de qualquer natureza carregados de expressões superlativas e/ou adulações?

A discrição e humildade são sempre sinais de maturidade espiritual e essenciais para um existir equilibrado.

Sabemos que Jesus é o modelo de todas as virtudes. E quando em sua passagem se reconheceu Mestre (Professor), recusou o qualificativo de bom, afirmando que somente o Pai merecia esse adjetivo. Uma clara prova de humildade e também uma atitude veementemente pedagógica contra o culto à personalidade.

(1) E que fique claro o objetivo deste escrito: o problema não é “Divaldo Franco”, trabalhador honesto e autor de uma obra dedicada à causa do Cristo bela e decente, mas sim os “divaldianos”. Com exceções, é claro, muitos seguidores correm o risco do fanatismo. E isso diz respeito também a uma das facetas da idolatria, e que pode mascarar-se como ideologia etc.

(2) O culto à personalidade espírita é um desserviço à divulgação da Doutrina, especialmente com o advento da Internet e mesmo das redes sociais. Poderíamos então evitar cultuar espíritas, estejam eles vivos ou mortos (vida além da vida). Senão corremos o risco, principalmente no Brasil, de observamos um “Espiritismo” polarizado nas figuras de “Chico e Divaldo” e isso não é saudável, pois muitos outros contribuíram e contribuem para a difusão desta Doutrina luminosa.  E penso que nós temos o dever de analisar as coisas de maneira serena e compreensiva, mas é preciso dar nosso testemunho sempre. E o Espiritismo, como uma Doutrina evolutiva, não pode por ingenuidade/imaturidade anuir com a idolatria.

Fiquemos, pois, com um só Modelo: Jesus.

 

Trechos de autoria de EUGÊNIA PICKINA – eugeniapickina@gmail.com

Campinas, SP (Brasil)