O princípio Científico da Libertação do Ser
- Colunas
- 18/02/2020
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por Jane Maiolo
-Senhor, por ventura sou eu?
A narrativa, presente no Evangelho de Mateus, no capítulo 26, versículo 20 a 29,[1] tem-nos suscitado o entendimento intrigante sobre a inquirição dos discípulos ao Cristo após Este anunciar que: “Um de vós que está comendo comigo me entregará”. A revelação do Cristo soa como um alarme aos discípulos que mergulham no seu mundo consciencial e desejam encontrar as possíveis culpas que pudessem dar ensejo a uma anunciada traição.
A desarticulação emocional do momento faz com que os discípulos interroguem ao Cristo: “Senhor, por ventura sou eu?”, aguardando, quem sabe, uma resposta que os pudessem liberá-los do sentimento da culpabilidade, presente nas suas consciências ainda frágeis.
A questão da culpa remete-nos a um “pecado”, pois onde há “pecado” há culpa.
As religiões cristãs foram se estruturando ao longo dos séculos, principalmente após a concessão de liberdade de culto Cristão, pelo Imperador Constantino e a oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano por Teodósio. Após esse período nascem os dogmas e surge o “pecado” da cruz.
A ideia do “pecado” porém é anterior a essa conquista. Antiga é nos manuscritos a crença que somos pecadores por herança de Adão.
O pecado de Adão foi lançado a toda a posteridade, conforme diz Paulo. “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” [2] Com a vinda do Cristo sobre a Terra, no pensamento cristão, inicia-se o conceito de que Deus, o Pai, envia seu filho perfeito para nos tirar os pecados. Afirmaria o evangelista João “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” [3]
A idade média seria um campo fértil para a disseminação das ideias religiosas que pretendiam um certo controle sobre as mentes dos fiéis, pois a possibilidade da salvação eterna estaria condicionada as práticas religiosas ensinadas pelas instituições.
Porém, novas perspectivas e auspiciosas esperanças surgem nos meados do século XIX com o advento do Espiritismo, consubstanciado no Consolador Prometido, que nos instrui sobre as etapas necessárias da contrição, da expiação e da reparação, a fim de que nos desvinculemos da culpa e libertemo-nos das amarras das impostas penalidades divinas sem remissão.
Onde algumas religiões cristãs divisam o “pecado” da cruz, que seus seguidores carregam no dorso, o Espiritismo nos instrui sobre a lição do perdão, da misericórdia e da sobrevivência da alma. É verdade! Em nossa imortalidade fomos empilhando experiência de vida pelos mecanismos da reencarnação e dentre os reflexos estampados em nossa história a culpa também retrata os desvios em face da nossa liberdade de escolher e agir.
Portanto, sorvemos o cálice da culpa por vias transversais, seja pela indisciplina ante o buril educativo que advém nas experiências externas à nossa consciência, ou pelo uso da nossa autonomia de escolha, quando desobediente aos ditames da Lei, inscritas na consciência, nos remete às experiências traumáticas, caprichosas ou infelizes, que despedaçam a nossa essencialidade.
Os deslizes, falhas e crimes que praticamos, em eras remotas ou atuais, gravados na nossa memória espiritual, por vezes sobem à tona e vibramos na sintonia da desarmonia e da inquietação, infligindo-nos o mergulho nos mares profundos da tristeza.
Interessante que o prodígio do Déjà vu, muitas vezes, nos remete a sentimentos de nostalgia ou culpa nos arremessando nos infortúnios da consternação.
Sensata a recomendação da resposta dos espíritos à questão de número 242 de O Livro dos Espíritos, quando nos indicam que quando nos ocupamos com o passado ele é presente.[4] A imersão nas memórias transatas, principalmente as que trazem um teor de sofrimento e tristeza, estabelece a incursão de uma zona de remorso e passamos a projetar energias dilacerantes no campo mental, desvitalizando-nos e ficando à mercê das invasões microbianas fisiopsíquicas, muitas vezes alojadas devido às predisposições mórbidas que trazemos registradas no nosso corpo perispiritual.[5]
Desse modo, naturalmente adoeceremos os corpos de manifestação do espírito, imprimindo transtornos de comportamento e por conseguintes desordens depressivas, além de variadas síndromes e patologias de etiologias estranhas.
A mente culpada institui uma usina de toxicidade, entretanto, como nos libertarmos da culpa?
André Luiz, no livro No Mundo Maior, Capítulo 4, intitulado “Estudando o cérebro” introduz o conceito do “Princípio científico de libertação do ser” , ensinando-nos que os remédios e as terapias libertadoras são as mesmas indicadas por Jesus, ou seja, a humildade frente às falhas, a reconciliação com o adversário, ou seja, com o eu profundo e o perdão a si mesmo, sem limites, indicando , também, a terapia do desabafo [circunspecto], que é um excelente mecanismo para dissipar as energias da culpa que impregnam todo nosso campo mental.[6]
Quando adentramos esses quadros graves na nossa existência, pode ser o início de um processo longo de recuperação da nossa conexão com as leis divinas. O espírito imortal começa a se incomodar com as impressões negativas que carrega no arcabouço das emoções e anseia libertar-se das opressões.
Entendermo-nos filhos de Deus e merecedores das benesses é terapêutica das mais sublimes e requintadas. Poderemos nos redimir e afastar os fantasmas da culpa, pois se um ato de amor cobre uma multidão de pecados, urge então não desperdiçarmos ocasião e amar sempre, principalmente a nós mesmos! [7]
Referências bibliográficas:
[1] Mateus 26, 20 a 29
[2] Romanos 5.12,
[3] João 1,29
[4] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007. Perg. 242
[5] XAVIER, Francisco Cândido e Waldo Vieira. Evolução em dois mundos, ditado pelo André Luiz, segunda parte – cap. 19. -Brasília /DF: Ed FEB.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. No Mundo Maior, ditado pelo André Luiz, cap.4 -Brasília /DF: Ed FEB.
[7] 1 Pedro 4