O que é a Depressão?
- Colunas
- 03/07/2023
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O que é a depressão? Quais são os seus sintomas? Que fatores podem desencadeá-la? Quem são os indivíduos mais propensos a sofrerem de depressão? Quais os tratamentos que o depressivo deve buscar? Como o Espiritismo, através de seus postulados e princípios, pode ajudar uma pessoa que não mais encontra sentido em sua própria vida? Pode o tratamento espiritual contribuir, igualmente, para a melhora do depressivo?
O que é a depressão
Segundo a Organização Mundial da Saúde, os últimos 25 anos do século passado caracterizaram-se por elevados índices de depressão e, em 2020, esta será a segunda moléstia que mais roubará tempo de vida útil da população, perdendo apenas para as doenças do coração.
Especialistas afirmam que existem mais pessoas sofrendo de depressão do que de qualquer outra enfermidade, porque ela está ocorrendo em todos os lugares: tanto nas áreas urbanas como nas rurais, tanto entre os executivos bem-sucedidos como entre os trabalhadores desempregados. Mas, para agravar a situação, muitas delas estão desconsiderando a importância dos tratamentos médico, psicológico e psiquiátrico.
Enfim, o que é a depressão?
Todos nós nos sentimos tristes, vez ou outra. Mesmo a pessoa mais alegre tem dias em que nada parece dar certo. E essa tristeza é perfeitamente natural; afinal, é uma reação normal aos problemas da vida cotidiana.
A depressão clínica – doença clássica na Psiquiatria, pois compromete tanto a mente como o físico do indivíduo – é um termo utilizado por profissionais para indicar uma condição muito mais severa que as reações normais de tristeza. Ela não é um “baixo astral” simples e passageiro, mas uma enfermidade caracterizada por marcantes alterações de humor, por uma longa e profunda tristeza e por um estado de desencorajamento, que afeta, negativamente, a maneira pela qual a pessoa vê e sente a própria realidade. Tudo lhe parece difícil, problemático e cansativo.
Quem nunca sofreu de depressão, quase sempre é incapaz de avaliar, corretamente, o sofrimento que acompanha essa doença. Ao contrário da crença popular, muitos deprimidos empenham-se, desesperadamente, para terem uma vida normal e “darem a volta por cima”, mas constatam que seus esforços nem sempre encontram o resultado desejado. Isso porque a depressão é uma doença que não se resolve apenas pela força de vontade.
Ninguém é depressivo por desejo próprio. Assim, ela não é resultado da má vontade da pessoa, nem sinal de fraqueza de caráter, como muitos ainda acreditam, tampouco consequência de comportamentos inconvenientes. Em diversos casos, a depressão pode ser considerada o último estágio da dor humana, porque sua angústia é verdadeiramente intensa e dramática.
Sintomas da depressão
Muitos são os seus sintomas. Obviamente, ninguém os apresenta todos ao mesmo tempo, porque o quadro sintomático varia de acordo com a personalidade do indivíduo. Mas, qualquer um que se sinta atingido por mais de cinco deles e por um período de tempo superior a duas semanas pode suspeitar da doença. A gravidade desses sinais também pode variar, porque existem as depressões leves, as moderadas e as graves. Todavia, para que ela possa ser detectada, é imprescindível a presença de pelo menos um dos dois principais sintomas, que são:
Tristeza ou humor deprimido – os intensos conflitos íntimos e/ou a sensação de vazio existencial fazem com que o depressivo se isole e se descuide afetivamente, evitando, assim, quem mais ama ou quem possa ajudá-lo. Porém, esse estado de afastamento o induz a repetidas crises de choro e de lamentações;
Perda de interesse ou prazer nas atividades habituais – mesmo possuindo problemas a resolver e apesar da grande tristeza que possa estar sentindo, uma pessoa, em seu estado normal, consegue sustentar um relativo interesse pela sua rotina diária, pelo cuidado com sua higiene e aparência, pela sua vida afetiva e sexual etc. Entretanto, o deprimido abandona tudo isso, entregando-se, ainda mais, ao desânimo e ao abatimento, porque toda essa dinâmica diária lhe parece bastante entediante e sem sentido.
Enfatizando, mais uma vez, um desses dois sintomas necessita estar presente num quadro de depressão. E quais seriam os outros?
Falta de concentração – para um depressivo, é extremamente exaustivo sustentar sua atenção. Ademais, suas tarefas rotineiras levam muito mais tempo para serem realizadas;
Dificuldade na tomada de decisões – não consegue optar mesmo entre alternativas triviais: “Sorvete de chocolate ou de creme?”. Decisões complexas e importantes representam para ele um desafio ainda mais complicado;
Insônia – falta de sono superior a um período de quatro semanas;
Sonolência – apesar de ser um sintoma menos frequente e, em oposto à insônia, o indivíduo pode passar o dia todo na cama, como forma de fuga de seus problemas;
Perda do apetite – a comida perde todo o atrativo, pois ela tende a ficar com um gosto e/ou um cheiro “esquisitos”;
Apetite incontrolável – também um sintoma menos frequente que a perda de apetite, existem depressivos que se tornam insaciáveis e, compulsivamente, consomem grandes quantidades de doces, de alimentos gordurosos e de guloseimas de toda espécie;
Fadiga – um dos sintomas mais aparentes da depressão, é o popular esgotamento. O depressivo sente-se sem disposição para enfrentar a monotonia e a constância de sua realidade diária. Assim, não tem ânimo para fazer sempre as mesmas coisas, para suportar as mesmas pessoas, para resolver os problemas que se repetem etc. Na realidade, ele está cansado da vida, e não de uma tarefa específica;
Alterações do humor – normalmente, são os familiares e as pessoas mais próximas que, primeiro, percebem este sintoma, pois o deprimido, em um determinado momento, pode estar disposto e animado, para, logo em seguida, se apresentar extremamente irritado, com explosões temperamentais inesperadas, o que chega a causar estranheza, sobretudo se ele for de temperamento calmo e tranquilo;
Pensamentos suicidas – a criatura chega a um desespero tão palpável, a uma dor tão insuportável, que o suicídio se configura como a única saída;
Autoestima comprometida – o deprimido se considera inferior aos outros, e se julga bem pior do que gostaria de ser. Sua baixa autoestima o induz à autopiedade e também à autodepreciação, à autoacusação, aos sentimentos de feiúra, de fracasso e inutilidade, de incompetência e impotência, de rejeição, bem como a um sem-número de adjetivos degradantes;
Sentimentos de desespero e desesperança – na depressão, tais sensações psíquicas são consideravelmente marcantes, porque o depressivo alimenta uma descrença absoluta em relação a tudo e a todos, não conseguindo confiar ou acreditar em quase nada.
No entanto, nem sempre a depressão se manifesta na forma desses sintomas. Há pessoas que reprimem tão fortemente sua tristeza, que a mascaram. É o que se chama de depressão mascarada. Assim, sem demonstrar os indícios mais graves da doença, algumas delas podem parecer absolutamente saudáveis, mas não são. Muitos suicídios inesperados e aparentemente inexplicáveis são devidos às depressões mascaradas.
Porque essa doença se manifesta, principalmente, por meio de pensamentos de derrota, de fraqueza e de vergonha, existem depressivos que, num mecanismo de defesa, atribuem seus problemas a causas externas: “eu seria mais feliz se fosse casado, ou separado, ou…”, “a vida poderia ser bem melhor se tivesse mais dinheiro, menos problemas, mais…” etc. Com ou sem razão, muitos deles também não reconhecem que estão doentes porque receiam, por exemplo, que a constatação de sua condição coloque em risco a sua carreira profissional, ou os force a uma internação, ou, para tantos outros, o pior de tudo: “o que as pessoas vão pensar de mim?”
As criaturas do sexo masculino são as mais propensas à depressão mascarada. Isso porque, desde a infância, a muitos homens somente foi permitido sentir alegria e raiva, sem que pudessem demonstrar seus medos, sua tristeza e a própria afetividade. Tais comportamentos poderiam prejudicar sua virilidade e, consequentemente, denegrir sua imagem masculina. Sendo assim, considerável é o número de homens que mascaram seus medos e sua insegurança por meio da agressividade e do alcoolismo.
Mas, por conta de uma educação repressiva, em muitos outros casos a depressão pode estar igualmente mascarada. Nas crianças, sob a forma de irritação e agressividade. Nos adolescentes, através das drogas, do alcoolismo e da delinqüência, porque tais jovens não conseguem expressar suas necessidades e características sem se tornarem alvos de ofensas e agressividade por parte da própria família. Nos adultos masculinos e femininos, são os vários excessos – álcool, droga, comida, sexo, jogo, trabalho – ou os problemas físicos que não respondem a tratamentos: dores de cabeça constantes, dores lombares, náuseas, vômitos, úlcera, alergias diversas etc.
Fatores que desencadeiam a depressão
O cérebro humano é um órgão imensamente complexo, que produz um grande número de substâncias químicas alteradoras do humor, entre elas a serotonina e as endorfinas. Em razão dessa complexidade, a causa exata da depressão permanece desconhecida, mas, hoje, sabemos muito mais sobre as origens dela do que sabíamos no passado.
Assim, um dos fatores desencadeantes da depressão pode ser, justamente, os desequilíbrios químicos que ocorrem no cérebro, onde alguns neurotransmissores são produzidos em níveis menores. Medicamente, ela é mais entendida como um mal funcionamento cerebral do que uma cegueira mental para as coisas boas da vida; e essa concepção baseia-se na eficácia que os antidepressivos apresentam no controle do estado do humor.
Outra causa pode ser a predisposição genética de cada indivíduo. Estudos mostram que a ocorrência repetida da depressão em algumas famílias indica que a vulnerabilidade biológica pode ser herdada. Porém, na Psiquiatria, não existe condenação genética, ou seja, pais gravemente deprimidos podem gerar filhos saudáveis. Trabalhos recentes mostram também que, mais do que a influência genética, o ambiente familiar, desde a infância, predispõe o indivíduo a ela, na maneira como a pessoa é ensinada a sustentar ou não atitudes positivas diante das dificuldades da vida.
Alguns pesquisadores, especialmente psicólogos e psiquiatras, consideram as tensões mal-resolvidas como um fator importante, e procuram as causas dos problemas atuais nos traumas, lembranças e experiências anteriores. Todos os indivíduos possuem limitações e fragilidades, e enfrentam situações verdadeiramente dolorosas no decorrer de sua existência. Entretanto, existem aquelas que não conseguem superar suas circunstâncias difíceis, e fixam toda a sua atenção nos momentos frustrantes e infelizes que vivenciou. Daí a importância do tratamento psicológico, sobretudo para que o deprimido consiga compreender e, até mesmo, resolver os ressentimentos, mágoas e desilusões que ainda carrega, através de uma análise mais consistente dos pensamentos e sentimentos de conteúdo negativo que insiste em alimentar.
Drogas de todos os tipos, como medicamentos vencidos ou já fora do mercado, álcool e as ilegais, também podem afetar o equilíbrio emocional, porque produzem vários efeitos colaterais, entre os quais, a depressão.
Estudos mais recentes também consideram o ritmo da vida moderna, com suas atribulações e exigências, como relevante elemento desencadeador dessa doença.
Todavia, como situações práticas do dia a dia, podemos ressaltar aquelas em que a pessoa:
-encontra-se inserida numa realidade extremamente competitiva, sentindo-se frágil e impotente, sobretudo no campo profissional, onde as frequentes pressões não trazem as compensações almejadas;
-mantém contato constante com indivíduos agressivos, porém, sem a devida coragem para, pelo menos, tentar modificar a situação;
-não se sente estimada ou amada;
-não consegue encontrar um sentido para a própria vida;
-não tem uma religião que lhe sacie os anseios de espiritualidade ou explique suas questões mais íntimas;
-tem de lidar com doenças persistentes, sem diagnóstico específico, ou com a realidade da própria morte ou a de terceiros;
-enfrenta as ingratidões e incompreensões típicas do ambiente familiar;
-perde o emprego e, por isso, tem de viver em condições financeiras no limite ou abaixo dele;
-não aceita as alterações físicas decorrentes da idade;
-enfim, adota modos pessimistas de interpretar e vivenciar as naturais perdas da vida.
Indivíduos mais propensos a sofrerem de depressão
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é mais comum no sexo feminino, estimando-se uma prevalência do episódio depressivo em 1,9% no sexo masculino e 3,2% no feminino.
E por que as mulheres são as mais atingidas? Porque os vários eventos do decurso de sua vida afetam-na física, mental e emocionalmente: o início da puberdade, a menstruação e, consequentemente, a temida TPM, a gravidez e o parto, o estresse e a fadiga da atual “dupla” jornada de trabalho, a preocupação com os filhos, a menopausa, além das inúmeras discriminações que ainda tem de enfrentar.
Muito embora o número de mulheres depressivas esteja aumentando, há um contingente significativo de homens que também estão necessitando de uma ajuda mais efetiva. Mas, a relutância masculina em procurar tratamento talvez esteja afetando as estatísticas.
Mesmo que a probabilidade de ficar deprimido aumente com a idade, infelizmente, ela tem ocorrido cada vez mais entre as crianças, especialmente naquelas que sofrem de maus-tratos, que vivenciam experiências de abandono ou que moram em lares onde impera a agressividade. Segundo pesquisas, a depressão na infância, antes praticamente desconhecida – ou, pelo menos, não reconhecida, surge como um dado alarmante.
Os adolescentes também estão cada vez mais vulneráveis a ela, em razão da necessidade do prazer imediato, da falta de diálogo com os pais ou responsáveis, do despreparo perante as situações estressantes e da busca por uma estética cada vez mais idealizada.
Meios de ajuda que o depressivo pode dispor
Nas dificuldades diárias, a busca por ajuda é, frequentemente, um passo bastante difícil para muitos de nós, porque preferimos acreditar que a origem de nossos problemas está em qualquer lugar, menos em nós mesmos. Obviamente que tal realidade tende a se agravar ainda mais na pessoa depressiva, em virtude do desespero e da desesperança, do cansaço e da confusão em que se encontra. Daí a importância do incentivo e apoio dos seus familiares e amigos, nesse sentido.
Como forma de tratamento médico, temos os antidepressivos. Desde o descobrimento dos primeiros remédios nessa área, na década de 50, até hoje, muito se progrediu. Atualmente, eles estão muito mais eficientes e com menos efeitos colaterais. Mas, por desinformação, muitas pessoas chegam a acreditar que tais medicamentos sejam a “pílula mágica” capaz de fazer o depressivo mudar de infeliz para feliz. No entanto, os antidepressivos atuam no cérebro apenas para corrigirem uma falha química que impede a sensação de bem-estar, e, nem sempre, começam a fazer efeito imediatamente. Alguns deles necessitam de até seis semanas para alcançarem o resultado esperado. Por outro lado, mesmo que a Medicina tenha aprimorado bastante seus conhecimentos sobre a depressão, alguns de seus profissionais ainda podem se enganar no diagnóstico, não acertando, de primeira, o medicamento mais indicado, porque essa doença é, verdadeiramente, bastante complexa. Às vezes, são necessárias algumas tentativas para encontrar a droga e a dosagem mais adequada.
Ademais, vários estudos confirmam que tais “pílulas”, ao proporcionar uma sensação de calma ou de alegria, funcionam apenas como um anestésico para os sentimentos depressivos, pois toda a angústia e sofrimento íntimo tenderão a retornar se interrompida a sua ingestão. Diante disso, muitos médicos acreditam que a combinação do tratamento medicamentoso com o tratamento psicológico aumenta a possibilidade de resultados mais satisfatórios porque, através dessa segunda possibilidade terapêutica, com a compreensão do que se passa em seu íntimo, o depressivo terá mais amplas condições de descobrir a causa de seu sofrimento, de trabalhar os próprios conflitos e de aprender a cultivar a esperança, o otimismo e a valorização de todo o potencial positivo que já traz dentro de si.
Fazendo referência à importância da esperança e do otimismo em nossa vida, o psicólogo norte-americano Daniel Goleman considera:
A esperança, descobrem os pesquisadores modernos, faz mais do que oferecer um pouco de conforto na aflição; desempenha um papel surpreendentemente poderoso na vida (…). A esperança, no sentido técnico, é mais do que uma visão otimista de que tudo vai dar certo. Snyder a define com mais especificidade como sendo a capacidade de “acreditar que se tem a vontade e os meios de atingir as próprias metas, quaisquer que sejam”.
As pessoas tendem a se diferenciar na medida em que têm esse tipo de esperança. Alguns julgam-se, geralmente, capazes de sair de uma enrascada ou encontrar meios de solucionar problemas, enquanto outros simplesmente acham que não têm a devida energia, que não possuem capacidade ou meios para atingir suas metas. Snyder constata que as pessoas com altos níveis de esperança têm certos traços comuns, entre eles poder motivar-se, sentir-se com recursos suficientes para encontrar meios de atingir seus objetivos, tendo a certeza, mesmo diante de uma situação difícil, de que tudo vai melhorar, de ser flexível o bastante para encontrar meios diferentes de chegar às metas, ou trocá-las se não forem viáveis e de ter a noção de como decompor uma tarefa grande em parcelas menores, mais fáceis de serem enfrentadas.
Da perspectiva da inteligência emocional, ser esperançoso significa que não vamos sucumbir numa ansiedade arrasadora, atitude derrotista ou em depressão diante dos desafios ou reveses difíceis. Na verdade, as pessoas esperançosas mostram menos depressão que as outras ao conduzirem suas vidas em busca de suas metas, são em geral menos ansiosas e têm menos distúrbios emocionais.
O otimismo, como a esperança, significa uma forte expectativa de que, em geral, tudo vai dar certo na vida, apesar dos reveses e frustrações. Do ponto de vista da inteligência emocional, o otimismo é uma atitude que protege as pessoas da apatia, desesperança ou depressão diante das dificuldades.
(…) Seligman define o otimismo em termos de como as pessoas explicam a si mesmas seus sucessos e insucessos. Os otimistas veem um fracasso como devido a algo que pode ser mudado, para que possam vencer da próxima vez, enquanto os pessimistas assumem a culpa pelo fracasso, atribuindo-o a alguma imutável característica pessoal. Por exemplo, como resposta a uma decepção como a rejeição num emprego, os otimistas tendem a reagir ativa e esperançosamente, formulando um plano de ação, por exemplo, ou buscando ajuda e aconselhamento; veem o revés como uma coisa que pode ser remediada. Os pessimistas, ao contrário, reagem a esses reveses supondo que nada podem fazer para que as coisas melhorem da próxima vez, e, portanto, nada fazem em relação ao problema; justificam os reveses por alguma falha pessoal que sempre os perseguirá.
Enquanto a atitude mental do pessimista conduz ao desespero, a do otimista gera a esperança. [1]
Todo depressivo é um decepcionado com a vida e insatisfeito consigo mesmo. Entretanto, o que mais complica sua situação é que ele despreza tudo o que já tem de bom, somente tendo olhos para o que não possui e deseja, pois desconsidera a validade dos pensamentos de alegria, confiança, satisfação, vitória sobre as dificuldades. Na realidade, a adoção de uma variada gama de pensamentos positivos é a verdadeira “pílula mágica” contra a depressão.
O sofrimento que se instala em nossa vida ocorre, basicamente, na forma como cada indivíduo percebe os fatos. Será que a pessoa se deprime porque a sua vida tem tantos momentos desagradáveis, ou a sua vida tem tantos momentos desagradáveis porque ela se deprime?
A escritora gaúcha Lya Luft argumenta que as escolhas que fazemos influenciam, verdadeiramente, nosso estado de ânimo:
A vida é uma mesa posta, com venenos mortais, pratos insossos e outros deliciosos. Alguns conscientemente escolhem venenos, achando que viver é sofrer, e ponto final. Outros comem – e vivem – sem sal.
Mas há os que, quando podem, pegam as delícias da vida e assim se salvam da areia movediça da depressão.
Espero que você não ache que prazer é ruim. Opte pelo positivo. Queira ser um pouco feliz, entusiasme-se por alguma coisa possível de atingir dentro de suas condições, faça um esforço para se libertar do pessimismo.
Pensar sempre negativo vira doença, uma osteoporose da alma. [2]
A osteoporose, por ser uma perda gradual de cálcio dos ossos, enfraquece-os de tal maneira, que aumenta, consideravelmente, o risco de fraturas. Assim é a depressão: instalamos em nossa alma um processo de autodestruição que, ao minar nossas forças e fraturar nosso psiquismo, inviabiliza tudo o que já existe de melhor em nós.
O Espiritismo e o depressivo
Sempre queremos para nós, e para nossos amados, saúde, felicidade e sucesso, mas, algumas vezes, a vida nos brinda com doenças, contrariedades e decepções. Como o enfrentamento de algumas dessas situações difíceis torna-se inevitável, é imprescindível não permitir com que a fragilidade do momento se transforme numa arma apontada para nós mesmos, que é o que acontece com a pessoa depressiva.
Nesse sentido, a vivência de uma religiosidade equilibrada pode nos ajudar e fortalecer, porque passamos a ter, por exemplo, outras explicações para a dor e o sofrimento que se fazem presentes em nossa vida. Acreditar que também existe uma outra realidade a nos envolver é especialmente poderoso, principalmente quando não estamos bem.
Embora a Medicina afirme, baseada em consistentes estudos, que a depressão é um distúrbio fisiológico do cérebro – daí a necessidade de tratamento clínico, o conhecimento espírita amplia esse entendimento para as carências e dificuldades do espírito imortal, de forma que a ciência busca justificativas na presente existência, enquanto o Espiritismo busca e analisa causas mais profundas, com base nas experiências reencarnatórias e evolutivas de cada um, e ainda considera a possibilidade de uma negativa influência espiritual sobre a pessoa, denominada obsessão.
Além de validar o tratamento médico, psicológico e psiquiátrico, o Espiritismo, através das casas espíritas, proporciona o tratamento espiritual – que consiste nas palestras doutrinárias e nos passes magnéticos – e incentiva o hábito das leituras esclarecedoras e edificantes, para que a pessoa compreenda melhor sua realidade como espírito imortal reencarnado e busque, mais eficientemente, a elevação de sua autoestima.
Goleman, ao abordar sobre a procura de alternativas contra a depressão, traz duas interessantes dicas, em perfeito acordo com o que postula a Doutrina Espírita. A primeira delas:
É prestar ajuda a quem necessita. Como a depressão se nutre de ruminações e preocupações com o ego, ajudar aos outros nos tira dessas preocupações, na medida em que entramos em empatia com outras pessoas e seus próprios sofrimentos. Lançar-se no trabalho voluntário – treinar um timinho de várzea, realizar trabalhos filantrópicos, dar ajuda a populações carentes – aparecia como um dos mais poderosos modificadores de estado de espírito no estudo de Diane Tice. Mas também um dos mais raros.
Finalmente, pelo menos algumas pessoas saem da melancolia voltando-se para um poder transcendente. Diane me disse:
– A prece, quando se é muito religioso, funciona para todos os estados de espírito, sobretudo a depressão. [3]
Os contratempos, ao nos forçarem o reconhecimento da própria fragilidade e vulnerabilidade, convidam-nos à busca da religiosidade e de um diálogo, alicerçado na fé, entre Aquele ou aqueles que, pertencentes a uma outra dimensão, representam a força e a proteção.
Através da Doutrina Espírita, podemos aprender que somos responsáveis pelo próprio bem-estar. Mas, para isso, é preciso sair da ilusão de culpar as pessoas, a vida, o destino e reassumir a capacidade de dirigir a própria vida. Questionar mesmo a validade de nossos sofrimentos e buscar alternativas mais eficientes na solução daquilo que é desagradável e triste para nós são atitudes amadurecidas que necessitamos adotar.
Porém, em razão do grau evolutivo em que nos encontramos, é natural que ainda experimentemos emoções desequilibradas e tenhamos reações negativas diante, principalmente, dos acontecimentos difíceis. Assim, são perfeitamente compreensíveis alguns estados ocasionais de lamentação, choro, tristeza e desânimo. Em muitas circunstâncias, até podemos considerar a leve e rápida depressão como um período natural de transição. São tempos de mudança, épocas de tristeza que antecedem novas possibilidades de amadurecimento.
A vida reserva, a todos, importantes desafios para o atingimento de níveis mais elevados de consciência e progresso. Uma das alternativas de maior conscientização e fortalecimento é, justamente, a vivência da filosofia otimista que o Espiritismo nos disponibiliza, exemplificada nas palavras do espírito Rosângela:
Em muitas ocasiões, você pensa que a grande tristeza jaz nos momentos em que caprichos e desejos desatendidos remexem sua intimidade, fazendo-lhe sofrer. De outro modo, admitirá que seja de amara tristeza a ausência física de alguém que demandou à Eternidade, a quem dedicava afeto, ou, ainda, o desastre econômico que lhe haja atingido, baqueando-lhe a marcha dos empreendimentos materiais.
Realmente, esses são motivos ponderáveis para o seu entristecimento, vergastando-lhe as experiências, deixando-lhe marcas de demorada recomposição, muitas vezes.
(…) Porém, a maior tristeza que pode se abater sobre a criatura, torturando-a, fomentando desditas para o espírito, é o mau aproveitamento das oportunidades que lhe concede o Criador, para evoluir e brilhar. Medite sobre isso e plasme as alegrias de que carece, nos enobrecedores serviços do amor. [4]
O progresso que você busca tanto pode apresentar-se como coisa complexa, quanto pode mostrar-se como algo singelo. Nem sempre, porém, você lhe concede a devida importância.
O pranto de dor se torna progresso, quando você aprende a sorrir, venturoso, após sofrer as refregas educativas.
A decepção inesperada que lhe maltrata se faz progresso, na medida em que você se aconselha com a cautela, transformando-se no indivíduo verdadeiramente amadurecido para a vida.
A carência de qualquer ordem, que lhe constrange hoje, ser-lhe-á elemento de progresso, se você aprender as lições da morigeração dos hábitos, como abençoada vitória sobre o próprio desequilíbrio.
A doença que lhe traz tantos dissabores, atualmente, converter-se-á em progresso de sua alma, quando forjar em seu íntimo o respeito à saúde, numa vivência salutar continuada.
A solidão em que você custa a habituar-se nos dias de agora, se bem compreendida, constituir-se-á em vultoso progresso, ensinando-lhe a confeccionar a tecitura dos verdadeiros amores do futuro.
A morte do corpo, que altera disposições e anelos, deixando vazio e friagem na alma dos que ficam no mundo das formas, transfaz-se em ocasião de progresso, se você consegue dela fazer a mensageira da renovação e da operosidade, preenchendo o vazio com trabalho pelo semelhante e aquecendo a frialdade com a chama do amor com que se dedique aos misteres enobrecedores da atividade humana, desligando-se do egoísmo enfermante.
Avance, portanto, valendo-se de todos os ensejos que o seu tempo lhe oferece, estruturando o seu desenvolvimento, certo de que todas as suas aflições e problemas, lutas e conquistas, compõem a inextricável malha do progresso do qual não se pode evadir.
Reflita e não se detenha mirando somente o ângulo aparentemente infeliz das circunstâncias em que você se encontre. O progresso decorre dos vários lances vividos pelo ser ao largo dos dias, por toda a existência. É da lei! [5]
Silvia Helena Visnadi Pessenda
sivipessenda@uol.com.br
Originally posted 2015-07-24 13:45:34.