Padrinhos do Além
- Colunas
- 22/02/2020
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por Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br
Chico Xavier costumava dizer que a sua proteção maior vinha dos padrinhos do além. Referia-se, o grande medianeiro, aos parentes desencarnados dos pobrezinhos que ele assistia, na periferia de Uberaba.
Falava sempre:
— Os espíritos amigos daquele povo vêm todos me ajudar.
Como Chico, a todo momento encontramos essa proteção, oriunda do bem que fazemos ao semelhante e à vida. Ao invés do resgate de faltas pretéritas, a justiça divina nos oferece uma moeda alternativa à dor, pois o amor surge no momento em que praticamos a caridade.
— O amor cobre a multidão de pecados, já dizia Pedro em sua epístola.
***
Sempre falei sobre esse assunto em minhas palestras, com a finalidade de motivar meus ouvintes à prática do bem e da verdadeira caridade contida nos pequenos gestos de carinho que oferecemos aos semelhantes que nos circundam.
Até que eu mesmo, pessoalmente, vivenciei notável experiência. Encontrava-me em Presidente Prudente, em jornada de palestras pela região, quando fui surpreendido por um telefonema. Chorando, uma de minhas filhas comunicava-me o falecimento de sua filha, minha netinha, com apenas dez dias de vida.
Todos nós passamos por momentos difíceis em nossas vidas, mas aquele instante, particularmente, foi triste e pesaroso. Recolhi-me ao quarto do hotel onde estava hospedado para orar e pedir forças ao Alto, para continuar minha jornada.
No meio da oração, em estado de semidormência, senti claramente a aproximação de uma entidade desconhecida, que se comunicou comigo dizendo:
— Não esmoreça, meu filho. Sua netinha já está sendo cuidada por nós. Prossiga seu trabalho que estamos atentos aos acontecimentos e tudo ficará sob controle.
Mentalmente, indaguei quem era aquele espírito desconhecido.
— Você não me conhece, mas eu o conheço muito bem. Sou avô da Betinha e, desde o momento em que você passou a cuidar dela e de minha família, granjeou nossa confiança e simpatia. Continue com seu trabalho que não faltará apoio a você, sua filha e sua netinha.
Betinha, Betinha…. Não me lembrava de qualquer assistida com esse nome. Terminei as palestras, voltei à minha cidade, prestei assistência à filha e me esqueci do assunto.
Tempos mais tarde, fui convidado para ser padrinho natalino de uma das crianças da creche mantida pela entidade a que pertenço. Ser padrinho é uma coisa muito especial. Você recebe uma relação de coisas a comprar, um pequeno enxoval, escreve uma cartinha para sua afilhada e, no dia marcado, entrega os presentinhos pessoalmente.
Quando fui consultar a cartinha do ano anterior, encontrei o nome da Betinha. Ela havia sido a minha afilhada no Natal passado. Fui mais longe e descobri que, sem nada saber, a família de Betinha recebia, mensalmente, uma das cestas básicas que eu patrocinava para os nossos assistidos.
Emocionado, constatei que tudo o que eu havia falado para outras pessoas, nas minhas palestras, havia acontecido comigo, com todas as letras. E o mais interessante foi saber que eu havia feito um amigo espiritual, que se autonomeou meu novo padrinho, um padrinho do além.
Como vemos, amigos leitores, quando nos dedicamos ao próximo, os seus familiares, que já se encontram na espiritualidade, simpatizam e aproximam-se de nós, agradecidos pelo bem que prestamos. A partir daí, passamos a contar com abnegados protetores, verdadeiros padrinhos do além.