Papais Noéis de Verdade
- Colunas
- 22/12/2019
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Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br
Nicolau (um cristão que viveu no Século III, na Turquia) costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Ofertava sacos de moedas de ouro, colocando-os nas chaminés das casas de pessoas necessitadas.
A gratidão do povo e a proliferação de outros de seus atos bons levaram à sua canonização como São Nicolau Taumaturgo, arcebispo de Mira (Turquia). Sua transformação em símbolo natalino ocorreu na Alemanha e de lá espalhou-se pelo mundo inteiro.
Clement Clarke Moore, um professor de literatura grega de Nova Iorque, escreveu, em 1822, a história Uma Visita de São Nicolau para os seus seis filhos, o que deu força à lenda do Papai Noel, com a descrição do trenó com renas e outras características.
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Em 1843 surgiu um estranho Papai Noel, concebido pelo escritor Charles Dickens, chamado Scrooge. A obra Um Conto de Natal, mostrou a perspectiva de um castigo duro ao personagem, por causa do seu pão-durismo. O velho e rabugento Scrooge, preocupado apenas com os seus lucros, mudou sua vida após receber as visitas dos espíritos dos natais passado, presente e futuro. Transformou-se numa criatura solidária e bondosa, exatamente o Papai Noel de que Londres necessitava para minimizar os seus miseráveis bolsões, numa época de tantas desigualdades sociais.
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Embora muitos critiquem a figura do Papai Noel, alegando haver um desvio dos verdadeiros propósitos do Natal, podemos afirmar que os papais noéis existem. Por trás de cada personagem lendário ou literário, sempre há uma mensagem ou um fato. Eles foram e continuam sendo inspirados pela mensagem de Jesus. São criaturas de boa vontade, que persistem em lutar contra o egoísmo, a desigualdade social, o preconceito e a carência, por meio de atitudes simples e generosas.
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Narra Irmão X, no livro Lázaro Redivivo, a página Parábola Moderna, que, resumidamente, transcrevo:
Um homem seguia de Madureira para a Gávea, quando encontrou um grupo de pessoas bem-intencionadas, porém ignorantes, tentando a prática do amor aos semelhantes. Convidado a auxiliar, esse homem desviou-se, dizendo:
— Não posso cooperar. Isso nada tem a ver com o Cristo.
E passou apressado em busca dos seus interesses.
Um materialista, de bom coração e reta consciência, vindo pela mesma rua, distribuiu conforto e encorajamento àquelas criaturas.
Em seguida, o primeiro homem deparou-se com uma mulher doente, amparada por duas companheiras de infortúnio. Necessitavam de transporte para a enferma. Considerando o ambiente menos digno daquelas mulheres, negou-se:
— Não posso ajudar. Isso nada tem a ver com o Cristo.
Afastou-se sem mais delongas.
O ateu, chegando em seguida, amparou a pobre criatura, internando-a em hospital próximo, às suas expensas.
Mais adiante, o primeiro homem encontrou um grupo de trabalhadores filiados a crença diferente da sua. Solicitada sua cooperação, respondeu:
— Não posso atender. Isso nada tem a ver com o Cristo.
O materialista bondoso, ao contrário, simpatizou com o movimento e colaborou despreocupadamente, sem qualquer objeção.
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— Qual dos dois aprendeu a reconhecer o próximo? — perguntaríamos.
— Sem dúvida o materialista, que, sem preconceitos ou apegos religiosos, serviu trabalhando por um mundo melhor.
— Então façamos o mesmo!
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Não estamos ainda à altura das realizações de uma Zilda Arns, de um Chico Xavier, de uma Madre Teresa de Calcutá ou de um Mahatma Gandhi.
Mas, quem sabe, com cortesia e boa vontade, possamos criar um humilde papai noel brasileiro.
O mundo atual não espera por papais noéis extraordinários ou lendários. Precisa de criaturas simples, despretensiosas, comuns, porém de boa vontade, que arregacem suas mangas e, destituídas de roupas ou posições privilegiadas, comecem a trabalhar por um mundo melhor.
O mundo precisa urgentemente de papais noéis de verdade!