Podemos acreditar na Bíblia?
- Atualidades
- 27/03/2023
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Era temido legislador.
Instituiu castigos terríveis.
Pior: cometeu injustiças inomináveis, como se não soubesse o fundamental – a pena não pode ultrapassar a natureza do crime.
Dois homens se atracam.
A mulher de um deles entra na briga. Estouvadamente, pega nas vergonhas do adversário, mais exatamente o membro viril e acessórios.
O caso vai parar na justiça.
É exarada a sentença, com base no código inflexível:
Que lhe sejam cortadas as mãos.
Cáspite! Isso é pura crueldade! Jamais um ato de justiça!
Certamente o leitor desavisado dirá:
– Legislador maluco!
Se você pensar assim, estará cometendo uma heresia, porquanto essa sentença está na Bíblia, no Velho Testamento (Deuteronômio, 25:11-12).
É atribuída a Jeová, o deus judeu, promovido pelos teólogos cristãos a supremo senhor do Universo.
Por isso, fico pasmo quando se fala que a Bíblia é a palavra de Deus.
Literalmente está se pretendendo que o Eterno inspirou tais sandices.
Há outras preciosidades:
No mesmo capítulo, do citado Deuteronômio, (5-10), Jeová determina que se um homem morrer sem deixar descendência seu irmão deverá casar-se com a viúva.
Se recusar, será levado aos anciãos.
Se insistir em não cumprir seu dever, ela cuspirá em seu rosto, tirará as sandálias de seus pés e seu lar passará a ser a casa do descalçado. Diríamos do “desgraçado”, certamente, o mal menor, considerada a possibilidade de que a cunhada fosse mais velha, de parcos atrativos e fartas rabugices.
Em Reis (2:23-25), crianças peraltas caçoaram da calvície do profeta Eliseu. Digamos que o provocaram gritando, a respeitável distância:
– Careca! Careca!
“Piedosamente”, Eliseu evocou a ira divina sobre os pirralhos. Imediatamente, Jeová providenciou o castigo: duas ursas saíram de bosque próximo e despedaçaram quarenta e dois meninos.
A agressividade do deus bíblico faz-se sentir em toda sua pujança, em Josué (10:36-43):
Assim feriu Josué toda aquela terra, a região montanhosa, a Neguebe, as campinas, e as descidas das águas, e a todos os seus reis. Destruiu tudo o que tinha fôlego, sem deixar sequer um, como ordenara o senhor deus de Israel.
Esse tudo o que tinha fôlego abrangia homens, mulheres, velhos, crianças, animais, peixes, pássaros… todos os seres vivos!
Nem Hitler (1889-1845), Stalin (1879-1953) e Átila (406-453) juntos seriam tão cruéis.
Diz Mark Twain (1835-1910):
O que me incomoda na Bíblia não são os trechos que não compreendo. São justamente os que compreendo.
O notável escritor americano está certíssimo.
Impossível aceitar que tantas tolices, ingenuidades, sandices, maldades e violências possam ser atribuídas aos humores de um deus não muito certo do que faz e do que quer, tanto que, em dado momento, como está em Gênesis, capítulo 6, arrependeu-se de ter feito o Homem.
É isso mesmo, caro leitor!
O Eterno decidiu acabar não só com a raça humana, mas com todas as formas de vida, promovendo um dilúvio universal.
Não fosse Noé cair em suas graças e receber autorização para construir a arca, certamente você não estaria lendo estas linhas.
Não quero sugerir que devamos menosprezar a Bíblia.
Simplesmente, devemos colocá-la em sua dimensão exata: não um livro divino, mas um repositório das lendas, tradições e costumes do povo judeu.
Devemos analisá-la em seu contexto histórico, separando o joio do trigo, sem medo de descartar o que não receba a aprovação da razão.
Então aproveitaremos melhor a leitura, extraindo, tanto do Novo quanto do Velho Testamento, o que há de bom, produtivo e edificante, não a palavra de Deus, mas de homens que, em determinado momento, superaram as fragilidades humanas, oferecendo-nos flashes de espiritualidade.
* * *
Nesse contexto, o destaque está com Jesus, o único Espírito em trânsito pela Terra com elevação suficiente para situar-se em comunhão com Deus e nos oferecer uma visão mais ampla da vontade celeste.
Revogando sutilmente tudo o que até então se atribuíra ao verbo divino, Jesus sintetiza a orientação ideal em dois mandamentos singelos, suficientes para edificar o sonhado reino divino, de justiça, paz e concórdia entre os homens:
O amor à Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Richard Simonetti
fontes:
Agenda Espírita Brasil
Livro Para Rir e Refletir