Por que Sofremos? – Parte 2 – A felicidade vem do bem – Sidney Fernandes
- Colunas
- 23/06/2024
- 16 min
- 3.245
POR QUE SOFREMOS?
Parte 2
A felicidade vem do bem
Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Mateus, 6:33
O importante é ser feliz!
É isso mesmo? Ou será que o mais importante é nos esforçarmos para sermos bons? Quem faz essas indagações é o professor Luiz Henrique Beust, em seu livro “Afinal… Por que sofremos? ”, tecendo reflexões sobre o sofrimento.
Pessoas têm medo dos tormentos. Não seria muito mais prudente e sábio prevenir-se, para que a dor fosse evitada? Qual é o meio mais eficaz de se esquivar de dissabores?
Afirmam os mentores ([1]) que o mais das vezes os sofrimentos são devidos à nossa vontade, pois são efeitos de causas que poderiam ter sido evitadas.
Como neutralizar os males? Referindo-se à influência dos Espíritos ([2]), os orientadores espirituais apresentam uma áurea recomendação que, por analogia, pode ser perfeitamente aplicada à generalidade dos sofrimentos:
Praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança.
Haverá, naturalmente, os que procurarão ser felizes e fugir dos sofrimentos, praticando o bem com vista à recompensa dos céus, pragmaticamente. Daí, novamente vêm os Espíritos sugerir que o bem seja praticado caritativamente, isto é, com desinteresse ([3]) e no limite de nossas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.
Finalmente, pode o homem, fazendo o bem, mudar sua vida, por meio de sua vontade e de seus atos ([4]), asseveram os Espíritos. A partir do momento em que praticamos boas ações, cultivamos bons pensamentos e boas palavras, a tendência é que, ainda que a médio prazo, a felicidade chegue até nós, pois pessoas à nossa volta estarão sendo felizes também.
Por outro lado, quando assumimos a determinação de sermos felizes a qualquer preço, isso significa, como diria Maquiavel, que esse fim justificaria quaisquer meios. E na busca dessa egoística felicidade, nós não vacilamos em fazer outras pessoas infelizes. Se necessário, roubamos, traímos, mentimos, e acabamos sendo infelizes também. Não é qualquer coisa que nos leva à felicidade.
A felicidade naturalmente vem do bem. As pesquisas sobre pessoas deprimidas indicam a necessidade de encaminhá-las a uma atividade em favor do próximo. Se elas passam a trabalhar, por exemplo, numa casa de sopa, ou numa creche, ou num asilo, ou servindo um prato de comida a um morador de rua, e têm a oportunidade de conversar com essas pessoas que sofrem, submetem-se a um dos mais poderosos modificadores de ânimo que se conhece. Ser útil a uma pessoa numa situação pior do que a nossa é receber os benefícios de um grande modificador de ânimo.
Victor Frankl, um dos maiores gênios do século XX, narra sua extraordinária experiência e reflexão pessoais. Segundo Frankl, o terapeuta não pode negligenciar o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Se a vida tem um propósito, o sofrimento tem um propósito também, afirmava. E esse propósito, essa finalidade da existência humana, tem uma meta fora do próprio indivíduo.
Nós que vivemos nos campos de concentração podemos lembrar de homens que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão. Eles devem ter sido poucos em número, mas ofereceram prova suficiente de que tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher sua atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho.
Em sua obra, Frankl não recomenda nenhuma religião ou confissão constituída, muito menos alguma igreja em especial. A todo tempo ele remete o leitor às suas próprias preferências e escolhas.
Não procurem o sucesso — dizia Frankl. Quanto mais o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão errar. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser.
Embora provavelmente jamais tenha lido qualquer texto espírita, Victor Frankl colocava como prioridade, para que alcancemos a felicidade, a dedicação do indivíduo em favor do próximo, conforme recomendava a moral do Cristo, ora revivida pela Doutrina Espírita.
Então, naturalmente, se escutarmos nossa própria consciência, a longo prazo, desaparecerão os sofrimentos e a felicidade acontecerá em nossas vidas, concluía.
E não é essa a recomendação do Cristo? De que façamos ao semelhante exatamente o que gostaríamos que nos fosse feito? E de que, assim fazendo, cada um receberá de acordo com as suas obras?
([1]) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 257.
([2]) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 469.
([3]) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 897.
([4]) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 860.
Originally posted 2017-06-17 07:36:11.