Quatro Conselhos

Reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más tendências (1)

Desde a questão novecentos e nove de O Livro dos Espíritos somos esclarecidos que podemos vencer nossas más tendências com esforços pessoais, e muitas vezes com muito pouco esforço, dizem os espíritos.

Ainda em O Livro dos Espíritos encontramos na questão novecentos e dezenove a regra utilizada, e recomendada, pelo espírito Santo Agostinho para correção de seus hábitos, fundamentada na observação do comportamento realizado, ou seja, a análise do resultado das ações no dia vivido, e a consequente reprogramação para o dia seguinte. É uma tarefa repetitiva.

A implantação da mudança de hábitos é fruto da conscientização pessoal, com o consequente esforço para substituí-los, o que nem sempre conseguimos de imediato, e cada um de nós deverá traçar um planejamento para realizá-lo e que é, aos nossos olhos, sempre mais fácil para os outros.

Um dos grandes exemplos de transformação que conhecemos é o de Saulo de Tarso, e dele podemos tirar muitas coisas úteis para aplicarmos em nossas vidas. Chamado pelo próprio Senhor Jesus, também enfrentou muitas dificuldades para implantar no seu comportamento o “homem novo” que o Evangelho nos convida a fazê-lo.

Nas páginas do livro Paulo e Estevão (2), encontramos o ponto de mutação de Saulo para Paulo de Tarso.

Depois de muito sofrimento ele busca a casa do seu genitor, como último recurso para se estabilizar na nova rota assumida com o Cristo, mas seu pai o rechaça, e ele descobre que seria necessário implantar sozinho, no próprio íntimo, o esforço para ser outro homem.

Em lágrimas, confiou em Jesus, pedindo o remédio necessário, e após uma prece ardente adormeceu, e estando o corpo adormecido vê-se em paragem espiritual, quando se aproximam dele os irmãos Estevão e Abigail. Envergonhado, pois que era o responsável pela morte dos dois, confabula com ambos, e em determinado momento, Abigail, que tinha sido sua noiva, identificando na mente de Saulo mil questionamentos toma a palavra, e em função das necessidades presentes resolve responder quatro deles, que servem, no momento presente, também para nós outros, espíritos necessitados de orientação.

Que fazer para adquirir a compreensão perfeita dos desígnios do Cristo? Perguntou Saulo. E Abigail respondeu-lhe com uma única palavra: Ama!

Para nós outros seria como que perguntar o que fazer para nos adaptarmos definitivamente ao nosso planejamento reencarnatório, que visa a busca pela perfeição moral, e a resposta de Abigail pode ser entendida no sentido da prática constante do bem, do entendimento e da aceitação, tanto das pessoas como das circunstâncias da vida.

Abigail identifica nova pergunta na mente de Saulo: Como fazer para que a alma alcançasse tão elevada expressão de esforço com Jesus Cristo? E lhe responde: Trabalha!

De imediato Saulo percebeu que o trabalho a que se referia a noiva amada seria o de modificação interior, corrigindo os hábitos e tendências menos felizes. Mas mudar nem sempre se consegue de imediato, e o moço de Tarso volta à carga e pergunta: Que providências adotar contra o desânimo destruidor? E ela lhe responde: Espera! Desejando esclarecer que a alma deve estar pronta para atender ao programa divino, sem caprichos pessoais, mas que deve ter esperança no concurso do tempo para alcançar o progresso.

Mas diante do mundo, com a indiferença dos homens em relação aos valores do evangelho, o que fazer? Perguntou Saulo. Tendo por resposta outra resposta monossilábica: Perdoa! Indicando-lhe a atitude que deveria colocar em prática no contato com as pessoas e suas respostas às novas atitudes e valores, não se prendendo aos espinheiros produzidos pelas reações menos felizes.

As quatro respostas de Abigail para Saulo, que em seguida parte para se transformar no grande Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios e o maior divulgador do Cristianismo nascente, também servem para nós que buscamos uma forma para nos moldarmos aos valores do evangelho.

A velocidade e a força na implantação e aplicação é sempre pessoal, e o Senhor Jesus também espera de nós a mesma pergunta que Saulo pronunciou a Ele às portas de Damasco: Senhor, que queres que eu faça?

Pensemos nisso.

 Antonio Carlos Navarro 

(1) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. 365ª ed. Araras – SP: IDE, 1978. Cap. XVII. Pág. 171.

(2) Xavier, Francisco Cândido. Paulo e Estevão – ditado pelo espírito Emmanuel. Versão em PDF disponível na internet. Páginas 193 a 197.