A Queda de um Missionário: Otávio
- Doutrina Espirita
- 25/02/2023
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André Luiz, no livro “Os Mensageiros”, Capítulo 7, conta a história da vida de Otávio, espírita desde o berço que fracassou nas tarefas que foram programadas para ele antes da sua última reencarnação.
Vejamos o relato resumido de André Luiz:
Vi-me à frente de Otávio, um pálido senhor que aparentava quarenta anos.
– Também sou principiante aqui – expliquei – e minha condição é a do médico falido nos deveres que o Senhor lhe confiou.
Otávio sorriu e respondeu:
– Possivelmente, você André, terá a seu favor o fato de haver ignorado as verdades eternas no mundo. O mesmo não ocorre comigo, ai de mim! Não desconhecia o roteiro certo, que o Pai me designava para as lutas na Terra. Dispunha de considerável cultura evangélica, coisa que, para a vida eterna, é de maior importância que a cultura intelectual, simplesmente considerada. Tive amigos generosos do plano superior, que se faziam visíveis aos meus olhos, como médium recebi mensagens repletas de amor e sabedoria e, no entanto, caí mesmo assim, obedecendo à imprevidência e à vaidade.
– Mas, meu amigo – perguntei, assaz impressionado –, que teria motivado seu martírio moral? Noto-o tão consciente de si mesmo, tão superiormente informado sobre as leis da vida…
– Relatarei minha queda.
– Depois de contrair dívidas enormes na esfera carnal, noutra vida, vim bater às portas de “Nosso Lar”, sendo atendido por irmãos dedicados, que se revelaram incansáveis para comigo.
“Preparei-me, então, durante trinta anos consecutivos, para voltar à Terra em tarefa mediúnica, desejoso de saldar minhas contas e elevar-me alguma coisa.
“O Ministério da Comunicação favoreceu-me com todas as facilidades e, sobretudo, seis entidades amigas movimentaram os maiores recursos em benefício do meu êxito. “Segundo a magnanimidade dos meus benfeitores daqui, ser-me-ia concedido certo trabalho de relevo na Doutrina Espírita.
“Não deveria me casar, não que o casamento possa colidir com o exercício da mediunidade, mas porque meu caso particular assim o exigia.
– “Nada obstante, solteiro, deveria receber, aos vinte anos, os seis amigos que muito trabalharam por mim, em “Nosso Lar”, os quais chegariam ao meu círculo como órfãos.
– “Tudo combinado, voltei, não só prometendo fidelidade aos meus instrutores, como também hipotecando a certeza do meu devotamento às seis entidades amigas, a quem muito devo até agora.”
– “Mas, ai de mim, que esqueci todos os compromissos!
“Aos treze anos fiquei órfão de mãe e, aos quinze, começaram para mim os primeiros sinais de mediunidade. Por essa ocasião, meu pai contraiu segundas núpcias e, apesar da bondade e cooperação que a madrasta me oferecia, eu me colocava num plano de falsa superioridade, a respeito dela.
Eu vivia revoltado, entre queixas e lamentações descabidas.
“Meus parentes conduziram-me a um grupo espiritista de excelente orientação evangélica, onde minhas faculdades poderiam ser postas a serviço dos necessitados e sofredores; entretanto, faltavam-me qualidades de trabalhador e companheiro fiel. Negava a presença dos amigos espirituais e vivia criticando os atos alheios.
– “Os bondosos amigos do invisível estimulavam-me ao serviço, mas eu duvidava deles com a minha vaidade doentia.
“E como prosseguissem os pedidos dos benfeitores espirituais, por mim interpretados como alucinações, procurei um médico que me aconselhou experiências sexuais. Completara, então, dezenove anos e entreguei-me desenfreadamente ao abuso do sexo.
-“Tinha pouco mais de vinte anos, quando meu pai faleceu.
“Com a triste ocorrência, ficavam na orfandade seis crianças desfavorecidas, porquanto minha madrasta, ao se consorciar com meu genitor, lhe trouxera para a tutela três pequeninos. Em vão implorou-me socorro a pobre viúva.
-“Após dois anos de segunda viuvez, minha desventurada madrasta foi recolhida a um leprosário.
“Afastei-me, então, dos pequenos órfãos, tomado de horror. Abandonei-os definitivamente, sem refletir que lançava meus credores generosos, de “Nosso Lar”, a destino incerto.
– “Em seguida, dando largas à ociosidade, cometi uma ação menos digna e fui obrigado a casar-me. E continuou a tragédia que inventei para meu próprio tormento.
-“A esposa a que me ligara, tão somente por apetites inconfessáveis, era criatura muito inferior à minha condição espiritual e atraiu uma entidade monstruosa, em ligação com ela, para tomar o papel de meu filho.
– Releguei à rua seis carinhosas crianças, cuja convivência concorreria decisivamente para minha segurança moral, mas a companheira e o filho, ao que me pareceu, incumbiram-se da “vingança”. Atormentaram-me ambos, até ao fim da existência, quando para aqui regressei, mal tendo completado quarenta anos, roído pela sífilis, pelo álcool e pelos desgostos, sem nada haver feito para meu futuro eterno…
Sem construir coisa alguma no terreno do bem…”
Enxugou os olhos tímidos e concluiu:
– Como vê, realizei todos os meus condenáveis desejos, menos os desejos de Deus. Foi por isso que fali, agravando antigos débitos…
(esse texto de André Luiz, ajuda-nos a entender que mesmo quando temos planejamento definido pelos Benfeitores Espirituais antes da reencarnação, sempre teremos liberdade para agir e fazer da nossa vida o que quisermos).
Resumo de Fernando Rossit