QUO VADIS NOSSO MUNDO INTERIOR? – Dr. Marcelo Occhiutto – 2a. PARTE

QUO VADIS NOSSO MUNDO INTERIOR?

Dr. Marcelo Occhiutto

SEGUNDA PARTE

1a – Panorama atual da ansiedade e da depressão na sociedade

  1. Fatores materiais

Comecemos pelos fatores materiais!

É compreensível que em países como o nosso, a péssima distribuição de renda e a consequente situação econômica ruim para a maioria, a desigualdade social, o desemprego e a recessão, além do estilo de vida isolacionista em grandes cidades, contribuam sobremaneira como fatores de risco para a ansiedade excessiva, e a sua prima mais danosa chamada depressão, tomarem conta de nosso mundo mental.

Os mais aquinhoados financeiramente também sofrem com a competitividade e preocupações excessivas.

Assim, independentemente do poder aquisitivo, do dinheiro que se tenha e que muitos acham ilusoriamente que seria a solução de todos os seus problemas…

São fatores que levam facilmente ao transtorno de ansiedade, inicialmente identificados por sintomas — como dificuldade de concentração e problemas com o sono —, progredindo para um estado em que a sensação de que algo desagradável está para acontecer… Representam causas para que fiquemos em atitude de alerta permanente, que geram sentimentos de constante insegurança.

Já o quadro depressivo é caracterizado pelos mesmos sintomas do transtorno de ansiedade acrescido de alterações no humor, como solidão, apatia, intensa tristeza, além do isolamento social e até dores sem justificativa física.

Os vários fatores geradores do estado de angústia, ansiedade e depressão, juntam-se ao materialismo, que atinge seu auge na sociedade humana contemporânea, que vemos desfilar em pessoas de praticamente todas as famílias que conhecemos. E quanto mais materialista se torna o indivíduo, mais desorientado se torna em relação às questões essenciais da vida.

Listemos vários estilos comportamentais que contribuem sobremaneira para tal estado ansioso-depressivo nos dias atuais:

  • o niilismo (do latim nihil, nada), o comportamento que propõe que a vida é sem sentido ou propósito, que a própria existência é sem sentido e vazia. O niilismo existencial é sentido por alguns de maneira espontânea, mas também já advogado por pensadores muito antigos, como os filósofos Hegésias e Teodoro, seguidores do Cirenaísmo – tendência fundada por Aristipo de Cirene em meados do século IV da Era Cristã. Pregavam que o ser virtuoso era aquele que buscasse a satisfação de todos os seus desejos, legítimos ou não, éticos ou não. Shakespeare sintetizou a perspectiva do niilista existencial, quando descreveu Macbeth a expressar seu desgosto pela vida:

Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre ator que por uma hora se espavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e barulho, que nada significa.

  • o hedonismo – Etimologicamente, a palavra hedonismo é formada a partir do grego hedoné, cujo significado é prazer. O propósito de vida do hedonista é a busca pelo prazer a qualquer custo, não importando o que vai acontecer após os instantes prazerosos. O importante é o prazer imediato, sem se preocupar com as consequências.

Esta forma de viver, que elege a busca desenfreada de prazer, provoca grave problemática na sociedade atual, sendo uma das principais responsáveis pelos convites às dependências químicas de álcool e drogas, da sexolatria, e da glutonaria. Após o clímax do prazer atingido é que se percebe as consequências dos atos deletérios, e advém a alienação por mais prazer para não as sentir, anestesiando-se da responsabilidade consequente.

O receio de que o prazer termine e gere o estado de vazio existencial faz a pessoa buscar todas as fontes de prazer, com extrema ansiedade, gerando um círculo vicioso e sem fim.

 

  • O consumismo – todo o sistema econômico e social atual elegeu o consumismo como palavra de ordem, bombardeando-nos com milhares de imagens e sons provocadores da vontade de ter. Em uma grande maioria, somos de tal forma induzidos a consumir, que após a compra, muita vez não sabemos o que fazer com ela, lotando armários e depósitos dos objetos que não têm mais sentido após a aquisição. Na perniciosa indução mental de nos levar a compararmo-nos com os outros, a frustração por não ter o que o outro já tem e, pior, talvez nunca poder ter, gera invariavelmente um estado de real ansiedade e inquietação.
  • O distanciamento da espiritualidade inerente aos seres humanos – colocando o espiritual como algo desnecessário ou secundário –, aumenta o vazio interior, já que este fato é gerador da busca exterior, de algo que só se pode encontrar dentro de si, contrariando o germe que todos temos implantado em nossos espíritos de buscar um sentido maior de tudo, somente possível com a convicção da continuidade da vida após a morte do corpo físico.

A soma de todos estes elementos propicia o vazio existencial, que gera o precipício em que o indivíduo pouco a pouco se autoarremessa.

São distraídos irmãos em Humanidade que se deixam levar pela busca ilusória de viver a vida, do prazer a todo custo, que não sabem onde encontrar. Deparam-se, realmente, com a perda do sentido desta vida.

 – CONTINUA NA TERCEIRA PARTE –

 

DR. MARCELO OCCIUTTO É ESCRITOR, MÉDICO OFTALMOLOGISTA E PARTICIPA DO CENTRO ESPÍRITA PERSEVERANÇA EM SÃO PAULO (SP).