Reencarnação, sempre um novo fato

Há algum tempo atrás, durante uma reunião de familiares nossos em torno de um jantar, presenciamos o seguinte desabafo de uma das mulheres da família:

– Meu marido me deu muito trabalho durante toda nossa vida conjugal, e sofri muito com ele. Foi sempre muito difícil conduzir a vida; vivi quase que exclusivamente para ele.

Insistiu por longos minutos sobre o peso da vida conjugal, que na ocasião ainda estava em vigência, decorrente do comportamento do marido, dependente do álcool e do tabaco, e que hoje se encontra no Mundo Espiritual.

Em família, todos nós conhecíamos sua rotina, e seu desabafo não era sem razão.

Interessante é que depois de alguns lamentos e suspiros ela disse:

– Na próxima vida não vou querê-lo mais como marido. Não quero mais essa vida para mim novamente. Já sofri demais com ele.

Calou-se por alguns instantes, como a meditar, e voltou a falar:

– Mesmo que Deus queira que eu venha com ele, não vou aceitar.

Tornou ao silêncio, deixando-nos na expectativa do que ainda viria, se é que haveria desdobramento, mas este aconteceu, para nossa maior surpresa:

– Está bem, quando Deus quer, o que se há de fazer, é preciso obedecer; eu venho com ele novamente em outra vida, e torno a me casar com ele, mas com uma condição: que eu venha como homem e ele como mulher.

Todos os presentes riram muito da conclusão daquele desabafo.

Bem, com esse posicionamento ela não só admitia a vida futura, a reencarnação, como também um novo planejamento de vida, com exemplar submissão a Deus.

Particularmente o diálogo nos chamou a atenção por um simples detalhe: ela é profitente de um dos mais ortodoxos ramos do movimento evangélico e jamais admitiu postulados como o da reencarnação, ou qualquer postulado ou orientação espírita.

Analisemos a situação sob a ótica espiritual.

Em nossas consciências estão as Leis Divinas, que independem de nossas convenções, sejam culturais ou religiosas, embora estas possam, por períodos mais ou menos breves, sufocá-las em alguns de seus aspectos.

Em função do progresso espiritual ao qual estamos submetidos, para o nosso próprio bem, mais cedo ou mais tarde emergem de nosso íntimo, estados conscienciais que nos chamarão à atualização de nossos conceitos, com os conseqüentes ajustes em nosso modo de entender e viver a vida.

O amadurecimento é questão de experiência e tempo e sempre acontece.

Aquela Senhora não percebeu, mas a Deus está trabalhando para adequá-la a novos estágios de conhecimento das Leis que regem nossas vidas e Ele o faz sutilmente, sem constrangimento ou imposições, amorosamente, enfim, como o faz com todos os seus filhos.

Daquele episódio, para nós outros, ficou uma lição, que é o exemplo de submissão à vontade de Deus dada por ela. Não é necessário sabermos se o sofrimento de hoje é prova pedida, ou expiação imposta, cuja origem estaria em vidas passadas, mas sim nos prestarmos, humilde e inteligentemente, à vivência do dia a dia sem nos comprometermos ainda mais perante a Lei de Deus.

Aos nossos ouvidos espíritas, ecoam a voz dos Espíritos Superiores nos aconselhando a obediência e a resignação que, convenhamos, não é nada fácil implantar em nós, mas é perfeitamente possível, como nos mostrou aquela Senhora, que não conhece o que conhecemos, mas que põe em prática algo que, às vezes, temos muitas dificuldades para fazê-lo.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://www.psicologaignezlimeira.com.br/wp-content/uploads/2016/01/casal-brigando-2-570×350.jpeg>. Acesso em 07JUN2016.