Religião Espírita
- Colunas
- 18/08/2023
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Sidney Fernandes
Por que o Professor Rivail, o codificador do Espiritismo, assumiu o pseudônimo Allan Kardec? Rivail tomou conhecimento, por intermédio do Espírito Zéfiro, de que fora pontífice, um chefe druida, sacerdote do povo celta, no tempo da invasão da Gália pelo Imperador Júlio César. Seu nome, nessa época, era Allan Kardec. Adotou esse heterônimo em suas obras, a fim de desvincular o mérito da grandiosa doutrina nascente de sua vitoriosa condição de educador, tradutor e autor de obras didáticas.
Às vésperas do lançamento da obra básica do Espiritismo, ele alterou o nome de Religião dos Espíritos para O Livro dos Espíritos, não apenas para exprimir a sua procedência transcendente. Nela, o termo religião foi pouco empregado, passando a impressão de que o Espiritismo era simplesmente uma filosofia que pretendia explicar os porquês da existência humana, baseando-se nas informações provindas do plano espiritual. Ele tinha fortes razões para isso.
Em meados do século XIX, a consciência do povo e da intelectualidade estava anestesiada pelos desmandos inquisitoriais. Multiplicavam-se negacionistas, que duvidavam da existência de Jesus e de Deus. Mencionar religião, em O Livro dos Espíritos, seria oferecer o Espiritismo de bandeja à guilhotina dos desarvorados materialistas e religiosos da época, que não hesitariam em denegri-lo de várias maneiras e colocar uma pá de cal para enterrar a doutrina nascente. Daí a prudência de Allan Kardec, que somente iria falar em religião sete anos mais tarde quando, em 29 de abril de 1864, lançaria O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Em princípio, Kardec não se preocupou em situar o Espiritismo como uma religião ou destacar os aspectos religiosos da Doutrina Espírita, porque seus princípios não representam meras ideias e, sim, definem leis de caráter universal, que regem a nossa evolução. Por que ele acabou lançando um livro, em 1864, que iria ressaltar os aspectos religiosos da Doutrina Espírita, situando-a como religião? Ocorre que, se bem notarmos, há perto de cem manifestações selecionadas pelo codificador, que estão no final de quase todos os capítulos, que começaram a chegar, principalmente depois do lançamento de O Livro dos Médiuns, em 1861, como se a espiritualidade estivesse sinalizando:
— É preciso destacar os aspectos religiosos do Espiritismo. É preciso enfatizar o Espiritismo como uma religião.
Ensina-nos Hermínio Miranda que as velhas doutrinas religiosas não satisfazem mais os que raciocinam e estudam. Qual foi a estrutura ética criada por Allan Kardec? Não foi necessário criar uma nova religião. Já existia a divina moral revelada pelo Cristo. A passagem dos séculos e o sopro das paixões, no entanto, haviam soterrado os ensinamentos de Jesus. Kardec reduziu ao mínimo os atritos e controvérsias e resgatou dos Evangelhos apenas a moral do Cristo. Partindo dessa ideia diretora, o codificador nos legou, com muito zelo e amor, O Evangelho segundo o Espiritismo.
O Espiritismo, por intermédio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, é Jesus que volta a falar-nos, dirige-se ao âmago da alma e convida-nos a segui-lo, repetindo, com segurança:
— Eu sou a luz do mundo. Aquele que me segue não anda em trevas, mas terá a luz da vida (João, 8:12).
Deixemos as palavras finais para Emmanuel:
— Ouçamos, com Allan Kardec, a explicação clara dos princípios evangélicos, que nos certificam que ninguém está desamparado, que todos os homens são filhos de Deus e que nenhum é órfão de consolação e ensinamento, desde que se apresente nas fontes vivas da Boa Nova, de espírito renovado e coração sincero!…