Retorno ao Mundo Espiritual

Buscávamos inspiração para o ensaio semanal, quando recebemos a notícia da ocorrência do desencarne de uma prima de primeiro grau.

Vitimada por leucemia, ela, que experimentava o período da meia idade, lutou bravamente com a doença, sem rebelar-se contra o destino, enfrentando com confiança e fé todo o período de enfermidade, mesmo porque conhecia a realidade espiritual.

Alguns pensamentos começaram a fluir em nossa casa mental.

Lembramo-nos de que a consciência da morte iniciou-se aproximadamente há cem mil anos, já no final do período paleolítico superior. Nesse período ocorreu uma mudança significativa na vida do Homo Sapiens, conforme nos informa o Benfeitor André Luiz na extraordinária obra mediúnica intitulada Evolução em Dois Mundos, recebida pelo não menos extraordinário Francisco Cândido Xavier.

Explica o autor espiritual na referida obra que aprendemos a falar, articuladamente, e em conseqüência desenvolvemos o pensamento contínuo, que possibilitou o desprendimento do espírito de seu corpo durante o sono  físico, vendo-se na dimensão espiritual, sem noções maiores do que estava acontecendo. Paralelamente, após o desencarne, também experimentava a dimensão espiritual, mas devido ao peso específico de seu perispírito permanecia próximo ao seu grupo social.

Ao retornar à vida corporal, trazia consigo as reminiscências do plano espiritual, desenvolvendo a idéia da vida além da morte física. Com isso desenvolveu as idéias relacionadas a existência de deuses, com a idéia de que seriam os promotores dos fenômenos materiais que o envolviam, e também cuidadores dos espíritos no retorno definitivo ao mundo espiritual.

Desenvolveram-se as religiões, o intercâmbio mediúnico com as inteligências desencarnadas e o sepultamento dos mortos.

Chama a atenção a forma com que se lidava com o sepultamento. Em algumas regiões o corpo era adornado com flores e sepultado com seus pertences pessoais, outros com alimentos, outros ainda na posição fetal, e alguns destes dentro de grandes ânforas, como a imitar o útero materno, como que intuindo que a vida não se interrompia com a morte do corpo físico.

Conhecemos também o processo de mumificação, que se traduz na tentativa de manter o corpo preservado para quando do retorno do espírito à vida física.

Como o homem já dominava o fogo, este era utilizado para iluminar o corpo sem vida durante a noite, mas com o tempo e o desenvolvimento das supertições o fogo no entorno do corpo sem vida foi transferido para fins de rito e necessidade sacra.

Enfim, lidamos conscientemente com a morte há milênios, e as religiões se preocupam em moldar moralmente o homem para a vida de encarnado, preparando-o para a vida pós  morte, acreditando todas elas que a vida continua, com os respectivos prêmios ou castigos decorrentes do que se fez enquanto encarnado.

Caberia a Doutrina Espírita, na condição de Consolador prometido por Jesus, equacionar toda a realidade, esclarecendo-nos quanto aos dois planos da vida, suas interações e implicações, deixando-nos conscientes quanto a imortalidade dos espíritos, passando a vida física a ser uma etapa evolutiva necessária ao seu desenvolvimento rumo a perfeição, o que, evidentemente, não é possível em uma única existência corporal sendo necessário então a existência do mecanismo da reencarnação.

Alivia-nos a consciência saber que já existíamos antes e que vamos continuar a existir além desta vida, e ao coração por sabermos que a separação física daqueles que nos precedem ao túmulo é momentânea, mantendo-se os laços desenvolvidos plenamente vivos.

Disse Jesus para deixarmos aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos. Evidentemente o Senhor estava nos educando para a realidade das tarefas espirituais, e não nos desincumbindo das obrigações sociais, o que nos leva ao entendimento que devemos nos comportar, diante do sepultamento daqueles que conosco conviveram, com equilíbrio e entendimento em relação a vida que continua, orando pelo que retorna a pátria maior respeitando-o com os nossos melhores sentimentos sabendo que todos nós, assim como já experimentamos tantas outras vezes, também passaremos, inevitavelmente, pela mesma porta chamada morte do corpo físico.

Pensemos nisso.

Navarro.