“Seo” Arvito

O senhor Arvito (1) foi um homem exemplar, e tivemos um prazer especial em conviver com ele.

Frequentador das atividades assistenciais e doutrinárias desenvolvidas nas tardes de sábado no Centro Espírita Francisco Cândido Xavier, de São José do Rio Preto, era um exemplo de ser humano para todos aqueles que tivessem a oportunidade de privar de sua presença.

Sexagenário, era portador de um otimismo imperturbável, e de uma alegria de viver invejável, contrastando com sua história de vida.

Materialmente sobrevivia com um salário mínimo, fruto de aposentadoria obtida como vendedor de bilhetes de loteria, e com algumas ajudas esporádicas. Morava de favor em um cômodo cedido por parentes, mas isolado do interior da residência, com a porta de acesso para o fundo do quintal.

Tivemos oportunidade de visitá-lo em seu domicílio, e com que alegria nos recebeu. Naquele cômodo estava instalada toda sua mobília, compreendendo sala, quarto e cozinha. Utilizava-se de um banheiro nos fundos da casa. Nessa ocasião comentou que “é aqui que recebo meus amigos, inclusive para umas tardes de viola e violão”.

Mas isso não era tudo.

“Seo” Arvito era portador de uma doença terrível. Suas pernas apresentavam-se inchadas desde as coxas, e com várias protuberâncias em formas de verrugas, do tamanho de um ovo de galinha, fazendo com que seus pés não pudessem ser calçados com normalidade. Era necessário abrir os tênis com tesoura, para que pudessem ser amarrados prendendo-os aos pés. Piorando o estado geral, suas pernas liberavam um odor quase que insuportável.

Por diversas vezes o vimos se aproximando do Centro Espírita, a passo lento, sob o sol escaldante, e quando chegava falava de sua alegria em estar no ambiente do Centro, e que seu fim de semana não seria completo se não viesse. Gostava muito de admirar uma foto de Chico Xavier pendurada numa das paredes do salão de palestras.

Ele nos impunha, naturalmente, uma reflexão quanto aos nossos valores morais e materiais, nossas dificuldades e limitações diante da vida.

Quantas vezes reclamamos de pequenos problemas e entraves, da casa e do carro que temos das roupas e salários que recebemos do clima e da situação social, nossas e do país?

Quantas vezes deixamos de cumprir com nossas possibilidades no voluntariado por motivos como chuva e frio, calor e secura, programas de televisão e jogos esportivos?

Tudo isso o “Seo” Arvito nos ensinou, e muito mais. É preciso muito pouco para ser feliz e consequentemente otimista diante da vida.

A condição dele nos indicava que é uma questão de querer ser feliz, e de obediência e resignação, conforme nos ensina o Espírito Lázaro, nas instruções dos Espíritos do capítulo nove de O Evangelho Segundo o Espiritismo intitulado, Bem-Aventurados Aqueles que são Mansos e Pacíficos.

Sentimos muita saudade dele, mas também temos a plena convicção de que hoje, no plano espiritual, ele continua com seu humor contagiante e curado de suas enfermidades físicas, e isso nos impulsiona a espelhar seu exemplo de conduta para o dia a dia de nossas vidas.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro

Nota do autor: 
(1) Nome fictício
Nota do editor:
Imagem em destaque disponível em <http://www.summitpost.org/afternoon-over-the-clouds/295170>. Acesso em: 04AGO2015,

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Originally posted 2015-08-04 23:22:03.