Sob a Luz Que Liberta – por Sidney Fernandes
- Colunas
- 04/02/2019
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Existem Espíritos que, por sua rebeldia e persistência no mal, saturados de obsessões pelas posses efêmeras do mundo, tocados pelas sombras da revolta, são abandonados e esquecidos pela bondade de Deus?
A ideia do inferno eterno e de criaturas sem perdão era alimentada desde a época de Jesus, por interesse de pessoas que se arvoravam em intermediários de Deus e buscavam vantagens financeiras para conceder a salvação, em nome do Criador. Na questão 116, de O Livro dos Espíritos, mentores afirmam que um pai justo e misericordioso não pode banir seus filhos para sempre.
Todos nós, um dia, seremos perfeitos, ainda que isso demore muito tempo. O fracasso de um só filho de Deus representaria a derrogação da sua lei de progresso. Fomos criados para o bem e um dia chegaremos a ele.
Vítimas de crimes e injustiças, quando desencarnam, assumem comportamentos distintos. Alguns desses irmãos, de índole pacífica e condescendente, prosseguem em suas jornadas evolutivas e consideram seus desafetos como enfermos, deixando que se entendam com a justiça divina.
Outros, desarvorados, permanecem por tempo indeterminado em tenebrosas regiões espirituais. Muitos recusam-se a usar a bússola do perdão e do bem e passam a alimentar o objetivo precípuo de fazer justiça com as próprias mãos, empenhados em combater seus inimigos em busca de vingança.
Almas infelizes podem permanecer jungidas aos seus verdugos por séculos, aprisionadas pelos elos dos próprios grilhões com que prendem suas vítimas. Pensam que torturam seus perseguidos e não se dão conta de que estão presos a eles, renunciando à vida e à convivência com entes queridos. Para esses, o tempo de inferno restaurador corresponderá ao tempo da culpa deliberada.
A secular missão consoladora da Doutrina Espírita nos restaura a confiança em Deus e em sua justiça que, longe de se assemelhar à dos homens, que insistem em conceber um deus antropomórfico, feito à sua imagem e semelhança, trata seus filhos como amoroso pai, distanciado das paixões típicas da inferioridade humana.
No entanto, se o tempo não cumpre sua função restauradora, e teimamos em manter as impurezas em nosso corpo perispiritual, surgem a dor, a carência, a deficiência e os duros trabalhos de reajuste, que têm o condão de despertar, não, todavia, de renovar. Nossa definitiva retomada para o caminho evolutivo somente ocorrerá por intermédio da introspecção e do despertamento interior.
Não estamos, porém, entregues à própria sorte. Mesmo chafurdados na lama que criamos à nossa volta, jamais nos faltarão o amparo e o redirecionamento proporcionado por nossos mentores espirituais. Existe, contudo, uma condição fundamental para que nos abeberemos de sua proteção: temos que escutá-los.
Deus jamais desiste de quem quer seja e não se utiliza apenas da ferramenta da dor para recuperar seus filhos transviados. Diz André Luiz, em Ação e Reação, que gerando novas causas com o bem, podemos neutralizar o mal praticado, reconquistando o nosso equilíbrio.
Assim é que, quando as sombras se afastam, ainda que momentaneamente, de criaturas sombrias, o saber e o sentimento podem adentrar seus íntimos, implantando-lhes a réstia de luz capaz de conceder vida nova para suas almas.
Esta é a extraordinária mensagem do Espiritismo: o consolo e a esperança para todos os devedores, desde que se disponham a voltar-se novamente para a luz.
Texto baseado no livro SOB A LUZ QUE LIBERTA, de Sidney Fernandes