Um caso de Obsessão grave por causa de um Aborto Criminoso

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Personagens do texto abaixo:

Áulus: Espírito orientador de André Luiz, no plano espiritual.

André Luiz: Espírito que ditou o texto abaixo, por intermédio do médium Chico Xavier.

Hilário: Espírito, companheiro de André Luiz.

Clementino: Espírito – mentor espiritual – responsável pela reunião mediúnica.

Raul Silva: Encarnado, membro da reunião mediúnica, responsável pela doutrinação do espírito manifestante.

 

Fomos recebidos por Clementino, generoso, que nos aproximou de jovem senhora (encarnada), concentrada em oração, seguida por distinto cavalheiro (encarnado, seu esposo), na pequena fila dos enfermos que naquela noite receberiam assistência.

Afagando-lhe a cabeça, o supervisor notificou: Favoreceremos a manifestação de infeliz companheiro que a vampiriza.

Observei a dama, ainda muito moça, inclinada para o homem irrepreensivelmente trajado (esposo encarando) que a amparava de perto.

O mentor do recinto afastou-se em tarefa de governança, mas Áulus tomou-lhe o lugar, passando a esclarecer-nos com a bondade que lhe era característica.

Indicando-nos o casal, informou: São ambos marido e mulher num enlace de provação redentora.

 

A essa altura, porém, os guardas espirituais permitiram o acesso do infortunado amigo (obsessor).

Achamo-nos positivamente frente a frente com um louco desencarnado.

 

Perispírito denso, trazia todos os estigmas da alienação mental, indiscutível. Olhar turvo, fisionomia congesta, indisfarçável inquietação…

 

A presença dele inspiraria repugnância e terror aos menos afeitos à enfermagem.

Além da cabeça ferida, mostrava extensa úlcera na garganta.

 

Precipitou-se para a jovem doente, à maneira de um grande felino sobre a presa.

 

A simpática senhora começou a gritar, transfigurada.

 

Não se afastara espiritualmente do corpo. Era ela própria a contorcer-se, em pranto convulsivo, envolta, porém, no amplexo fluídico da entidade que lhe empolgava o campo fisiológico, integralmente.

 

Lágrimas quentes lhe corriam dos olhos semicerrados, o organismo relaxara-se como embarcação à matroca e a respiração se tornara sibilante e opressa.

Tentava falar, contudo a voz era um assobio desagradável.

As cordas vocais revelavam-se incapazes de articular qualquer frase inteligível.

 

Raul (doutrinador, encarnado), sob o comando de Clementino, abeirou-se da dupla (obsessor e obsediada) em aflitivo reencontro e aplicou energias magnéticas sobre o tórax da médium, que conseguiu expressar-se em clamores roufenhos: Filha desnaturada!… Criminosa! criminosa!.., nada te salva! Descerás comigo às trevas para que me partilhes a dor… Não quero socorro…, quero estar contigo para que estejas comigo! Não te perdoarei, não te perdoarei!…

E, do pranto convulso, passava incompreensivelmente a gargalhadas de vingador.

 

Agora, não podíamos saber se estávamos à frente de uma vítima que se lastimava ou de um palhaço que escarnecia.

 

A justiça está em mim! — prosseguia bradando por entre silvos. — Sou o advogado de minha própria causa! e a desforra é o meu único recurso…

Raul (doutrinador, encarnado), sob a inspiração do benfeitor que o acompanhava, passou a falar-lhe dos valores e vantagens da humildade e do perdão, do entendimento e do amor, procurando renovar-lhe a atitude.

 

E, enquanto desenvolvia o trabalho da doutrinação, buscamos contacto com o orientador diligente.

 

Ante as nossas primeiras perguntas, Áulus acentuou: É um caso doloroso como o de milhares de criaturas.

 

Vê-se bem — aduziu Hilário, sob forte impressão — que é a nossa própria irmã quem fala e gesticula…

 

Sim — aprovou o Assistente —, entretanto, encontra-se imantada ao companheiro espiritual, cérebro a cérebro.

Poderá, todavia, recordar-se com precisão do que lhe sucede agora? — inquiri, por minha vez.

 

De modo algum. Tem as células do córtex_cerebral totalmente destrambelhadas pelo desventurado amigo em sofrimento. Nos transes, em que se efetua a junção mais direta entre ela e o perseguidor dementado, cai em profunda hipnose, qual acontece à pessoa magnetizada, nas demonstrações comuns de hipnotismo, e passa, de imediato, a retratar-lhe os desequilíbrios.

 

E, designando a garganta da médium, repentinamente avermelhada e intumescida, continuou: Nesta hora, tem a glote dominada por perturbação momentânea. Não consegue exprimir-se senão em voz rouquenha, quebrando as palavras. Isso porque o nosso irmão torturado, ao qual se liga pelos laços mais íntimos, lhe transmite as próprias sensações, compelindo-a a copiar-lhe o modo de ser.

 

Tão entranhada se revela a associação de ambos — alegou Hilário —, que sou levado a indagar de mim mesmo se na vida comum não serão eles, a bem dizer, duas almas num só corpo, assim como duas plantas distintas uma da outra a se desenvolverem num vaso único… Na experiência diária, vulgar, não será nossa irmã constantemente influenciada, de maneira positiva, embora indireta, pelo companheiro que a obsedia ?

Nossa amiga, na equipe doméstica, é um enigma para os familiares. Moça de notável procedência, possui belas aquisições culturais, entretanto, sempre se comporta de modo chocante, evidenciando desequilíbrios ocultos. A princípio, compareciam a insatisfação e a melancolia ocasionando crises de nervos e distúrbios circulatórios. Doente, desde a puberdade, em vão opinaram clínicos de renome sobre o caso, até que um cirurgião, crendo-a prejudicada por desarmonias da tireóide, submeteu-a a delicada intervenção, da qual saiu com seus padecimentos inalterados.

Logo após, conheceu o cavalheiro sob nossa observação, que a desposou convencido de que o matrimônio lhe constituiria renovação salutar. Ao invés disso, porém, a situação se lhe agravou – A gravidez cedo se verificou, consoante a planificarão de serviço, traçada na Vida Superior. Nossa irmã doente deveria receber o perseguidor nos braços maternos, afagando-lhe a transformação e auxiliando-lhe a aquisição de novo destino, mas, sentindo-lhe a aproximação, recolheu-se a insopitável temor, adiando o trabalho que lhe compete. Impermeável às sugestões da própria alma, provocou o ABORTO com rebeldia e violência. Essa frustração foi a brecha que favoreceu mais ampla influência do adversário invisível no circulo conjugal. A pobre criatura passou a sofrer multiplicadas crises histéricas, com súbita aversão pelo marido. Principalmente à noite, é colhida, de assalto, por fenômenos de sufocação e de angústia, amargurando o consorte desolado. Médicos foram trazidos, no entanto os hipnóticos foram empregados em vão… Em franca demência, a enferma foi conduzida à casa de saúde, todavia, a insulina e o electrochoque não lhe solucionaram o problema. Presentemente, atravessa um período de repouso em família, deliberando o esposo experimentar o concurso do Espiritismo.

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Enquanto Raul e Clementino procuravam sossegar a médium e o comunicante, reunidos numa simbiose de extremo desespero, Hilário e eu continuávamos famintos de esclarecimento maior.

 

E se ela conseguisse nova maternidade? inquiriu meu colega, estudioso — Sim — concordou Áulus, convicto —, semelhante reconquista ser-lhe-á uma bênção, contudo, pela trama de sentimentos contraditórios em que se emaranhou, na fuga das obrigações que lhe cabem, não pode receber, de pronto, esse privilégio.

 

A posição de alienada mental não lhe retira os favores da Natureza, mas a crueldade meditada com que se afastou dos compromissos assumidos (aborto), imprimiu certo desequilíbrio ao centro genésico. Nossas defecções mais íntimas, embora desconhecidas dos outros, prejudicam-nos o veículo sutil e não podemos trair o tempo nas reparações necessárias, ainda mesmo quando o remorso nos ajude a restaurar as boas intenções. A perfeita entrosagem dos elementos psicofísicos filia-se à mente.

 

A vida corpórea é a síntese das irradiações da alma. Não há órgãos em harmonia sem pensamentos equilibrados, como não há ordem sem inteligência.

 

O serviço de socorro espiritual, porém, continuava inquietante.

 

A entidade vingadora, jungida à médium, demorava-se contida pelos assessores de Clementino (espírito, mentor), ao passo que a moça, refletindo-lhe as emoções e os impulsos, tinha o peito arfante e gemia em soluços: Para mim não há recurso!… Sou um renegado!…

 

Perdoa, meu irmão, e o caminho ser-te-á renovado — dizia Raul, com inflexão de amor. Desculpando, somos desculpados. Todos temos dividas… Não se inclinará, porventura, ao auxílio para que seja igualmente ajudado?

Não posso, não posso… chorava o infeliz.

E, à frente daquele par de Espíritos sofredores num só corpo, Áulus prosseguiu esclarecendo: A fim de examinar com serenidade as agruras da obsessão_na_mediunidade_torturada, não podemos esquecer as causas do suplício de hoje a se enraizarem nas sombras de ontem. Os templos espíritas vivem repletos de dramas comoventes, que se prendem ao passado remoto e próximo.

 

A Causa: O Pai de outra vida que foi traído pela filha (hoje a Senhora obsediada)

Apontando o casal com a destra, continuou: o velho tutor (pai da Senhora obsediada, na vida anterior – hoje, obsessor) pretendia alterar decisões. Isso aconteceu em aristocrática mansão do século que passou. O viúvo abastado, que a criara com desvelado ca  rinho, não concordou com a escolha feita. O moço não lhe agradava. Parecia mais interessado em pilhar-lhe as finanças que em fazer a felicidade da jovem desprevenida e insensata. Procurou, então, subtrai-la à influência do noivo, verificando que debalde lhes buscava a separação. Indignado, mobilizava medidas legais para deserdá-la, quando o rapaz, explorando a paixão de que a moça se via possuída, induziu-a a eliminá-lo, através de entorpecentes contínuos. Anulado o velhinho, por duas semanas de falsa medicação, o serviço da morte foi completado por diminuta dose de corrosivo. Findo ligeiro período de luto, a jovem herdeira enriqueceu o marido ao casar-se, contudo, em pouco tempo, viu-se presa de aflitivas desilusões, porque o esposo depressa se revelou jogador inveterado e libertino confesso, relegando-a a profunda miséria moral e física. Não lhe bastou esse gênero de aniquilamento gradativo. O tutor desencarnado imantou-se a ela, com desvairada fome de vingança, submetendo-a a horríveis tormentos íntimos. Em verdade, o parricídio permaneceu ignorado na Terra, mas foi registrado nos tribunais divinos e longo trabalho expiatório vem sendo levado a efeito, porquanto, ainda aqui, estamos observando esse trio de consciências entrelaçadas nos fios dilacerantes da provação redentora.

 

O infortunado perseguidor recolhia afetuosas admoestações de Raul Silva e, depois de breve intervalo, o Assistente continuou: Como vemos, a tragédia de nossa irmã enferma vem de longe. Nos planos inferiores da vida espiritual (Umbral inferior), vagueou por muito tempo na faixa de ódio da vítima (seu Pai) que se lhe fez vingativo credor e, na atualidade, em nova etapa de luta, tem o pensamento enovelado ao dele. Atravessou a infância e a puberdade, experimentando-lhe o assédio a distância.

Marido atual: marido e comparsa na morte do próprio pai na existência passada;

Pai: espírito desencarnado, cheio de sentimento de vingança, que foi conduzido à reencarnação, mas a filha de outrora recusou, cometento o aborto criminoso;

 

Bibliografia:

-Nos Domínios da Mediunidade, espírito André Luiz.

Originally posted 2015-07-25 10:20:09.