Um pouco mais sobre o amor
- Colunas
- 04/12/2020
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Conta a mitologia grega que no seu início a Terra, mergulhada na noite, flutuava no Caos, e que de um ovo da noite teria nascido o Amor, que foi personificado por vários seres tais como Eros, Vênus e Cupido, e este, em suas andanças sobre a Terra, utilize-se de um arco e flechas, e também uma tocha, produzindo vida e alegria nas pessoas que ele alcança e atinge.
Esta é uma interpretação que tenta entender o Amor, no que ele tem de mais profundo. Podemos também, por nossa vez, chegar a algumas conclusões, e a primeira delas é que o Amor é ativo, pois que “alcança e atinge” as pessoas. É o trabalho de busca às pessoas. E todo trabalho produz resultados, neste caso, mais “vida e alegria”.
A outra referência que podemos tirar de Cupido é a tocha. Ferramenta do amor, ela ilumina os caminhos e as pessoas com as quais se aproxima e convive.
Por comparação, se nossas ações não dão às pessoas mais vida e alegria, e mais claridade para seus espíritos, é sinal que ainda não atingimos a plenitude do Amor.
Embora tenhamos o referencial apresentado por Nosso Senhor Jesus Cristo, “Não há provas de amor maior, do que dar alguém a sua vida pelos seus amigos”, ainda não compreendemos que amor é dar, e não receber.
E este é o primeiro dos três problemas que o extraordinário psicólogo humanista Erich Fromm, em seu livro A Arte de Amar, diz que temos que resolver. Nós preferimos amar ou sermos amados? Nós reclamamos que não amamos ou que não nos amam? Fácil concluirmos que preferimos ser amados, e até exigimos isso.
Lembremo-nos de O Livro dos Espíritos, onde Santo Agostinho nos aconselha “coloque-se no lugar daquele que recebeu o que você fez”, e então teremos um referencial do amor que há em nós. Não é fácil sermos amados generalizadamente. Ainda somos muito imperfeitos, ou seja, orgulhosos e egoístas. Não pensamos muito em dar, e sim em receber.
O segundo problema apresentado por Erich Fromm é o da escolha. Diz ele que nós escolhemos quem vamos amar, ou a quem vamos manter o nosso amor. E é fácil comprovarmos essa afirmativa. Quem é mais fácil de se amar, uma pessoa como Chico Xavier ou um criminoso qualquer. Nós gostamos e amamos, na maior parte das vezes, os que não nos dão trabalho, não nos ferem e não nos magoam.
Lembremo-nos de Jesus: “perdoai-os, não sabem o que fazem”. Se levarmos em conta a Lei de Ação e Reação, aquele que vive hoje em sofrimento mais facilmente nos leva à compaixão e solidariedade, mas está resgatando débitos, portanto feriu, então por que não nos anteciparmos nesses sentimentos, e passarmos a amá-los enquanto no erro. A Codificação nos diz que todos somos iguais diante de Deus e estamos todos buscando o mesmo objetivo, e sujeito às mesmas leis, e isso significa que aquele que fere terá, necessariamente, que resgatar suas dívidas, portanto terá sofrimentos. Aí deve entrar a compaixão, que é uma das manifestações do amor.
O terceiro e último problema a ser resolvido, segundo Erich Fromm, é a escolha entre paixão e amor. Confundimos muito um com o outro. A paixão não nos deixa ver os defeitos, os vícios e as mazelas do objeto do nosso amor. Mas quando o fogo da paixão se acalma, passamos a notar os defeitos, e é nessa hora que Fromm nos diz que o amor deve ser desenvolvido. Todos temos defeitos, e portanto devemos compreender que mesmo com defeitos as pessoas tem virtudes, e é nelas que devemos nos ater. Em vez da crítica e anotações menos felizes, o elogio, o incentivo, o apoio precisam se fazer presentes, para que as pessoas possam se sentir amadas. Vão se sentir felizes, como nós nos sentimos quando valorizados. Em troca, naturalmente, vão nos dedicar sentimentos mais agradáveis e vão querer conviver conosco, amar-nos.
Nosso Senhor Jesus Cristo nos orientou a dar ao próximo o que gostaríamos que fosse dado para nós mesmos, portanto se quisermos receber amor, a solução é dar amor, mas não em determinadas circunstâncias e momentos, e sim por toda a vida, como exemplificou Jesus.
Pensemos nisso.
Antonio Carlos Navarro