A Cura
- Colunas
- 14/05/2020
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Sidney Fernandes
1948@uol.com.br
Em existência anterior, Cláudio abusou de seu poder e esmagou Celso, prejudicou sua esposa e filhos e tornou sua vida um inferno. O perseguido, ao expirar, somente respirava vingança.
Da erraticidade, localizou seu verdugo, agora em nova encarnação.
A sanha destruidora de Celso atingiu a razão, a saúde física e a alma de Cláudio, que buscou socorro médico. Impotente, a ciência humana concluiu por causas desconhecidas.
Instituição socorrista diagnosticou o grave processo obsessivo. Alexandre, o recepcionista designado para acompanhar o caso, ficou condoído com a precária situação de Cláudio e o encaminhou para o tratamento fluidoterápico. Em reunião dedicada ao trato de espíritos obsessores, expôs sua comiseração.
— Noto que o irmão passou a nutrir crescente ojeriza pelo perseguidor, diante das mazelas que vem provocando — disse o mentor espiritual.
— Se me permite a sinceridade, nunca encontrei espírito tão maléfico — desabafou Alexandre.
— Este caso merece cuidados especiais. Você não conhece esta situação desde o princípio.
Alexandre percebeu a elevação espiritual do mentor e ouviu suas ponderações.
— Como poderemos ajudar nossos protagonistas? — perguntou.
— Orem por ambos, pois precisam de ajuda imediata. Vou consultar meus superiores e depois lhes darei notícias.
Passados trinta dias, Alexandre foi procurado novamente por Cláudio. Estava mudado, sorridente, denotando grande alívio. Sumiram as perturbações, sua saúde estava ótima e tudo estava correndo bem, em sua casa e em seu trabalho.
— Foram os passes que vocês me aplicaram!
O entrevistador sorriu, mas sabia que não era bem isso que havia ocorrido. A solução definitiva para aquele caso grave somente iria acontecer se os personagens se reconciliassem. Alexandre voltou a consultar o dirigente espiritual.
— Estava esperando por sua presença para conversarmos — disse o mentor para Alexandre. Você deve estar intrigado com a melhora de Cláudio, não é isso?
— Sim, sim — respondeu o atendente. Uma mudança extraordinária, que trouxe alívio para o nosso paciente e sua família. E como está Celso, o obsessor? Foi levado para instituições socorristas?
— Ao contrário, está por aqui mesmo, mais ligado do que nunca a Cláudio e sua família.
— Ué, então não estou entendendo. Finalmente aquietou seu espírito e entendeu que a vingança o estava prejudicando também?
— Não sabíamos mais como atender Cláudio e sua família. Quando Celso lhe dava alguma trégua, o obsidiado retomava a conexão entre ambos. Se Cláudio tropeçava na rua, pensava no obsessor. Se a cabeça doía, culpava o espírito. Encontramos uma solução natural para Celso, Cláudio e sua família.
— Que solução? — perguntou, curioso, Alexandre.
— Laços fluídicos mais profundos agora ligam o acompanhante invisível à família antes perseguida. Brevemente, o outrora obsessor, com a bênção dos mentores maiores, renascerá como filho querido, necessitado de carinho e compaixão
Encantado com a sábia providência da espiritualidade, Alexandre sorriu. O obsessor descansou. O obsidiado e sua família descansaram. Os benfeitores descansaram.
Transformar obsessores em filhos, com a bênção da Providência Divina, para que haja paz nos corações e equilíbrio nos lares, muita vez, é a única solução.
Hilário Silva