As Profecias e o Espiritismo

Trataremos aqui, minimamente, das profecias concernentes às revelações espirituais, a partir do advento do Senhor Jesus e Seus ensinos. Allan Kardec trata o tema em Obras Póstumas, de onde tiramos algumas citações.

Convém, preliminarmente, relembrarmos o ensinamento de O Livro dos Espíritos a respeito do conhecimento do futuro:

Item 870. Mas, se convém que o futuro permaneça oculto, por que permite Deus que seja revelado algumas vezes?  – “Permite-o, quando o conhecimento prévio do futuro facilite a execução de uma coisa, em vez de a estorvar, obrigando o homem a agir diversamente do modo por que agiria, se lhe não fosse feita a revelação. Não raro, também é uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode sugerir pensamentos mais ou menos bons.”

Isaias é considerado um dos quatro Profetas Maiores juntamente com Jeremias, Ezequiel e Daniel, e seu livro foi escrito entre 740 e 515 AC. Nele se encontram as primeiras profecias acerca da vinda do Messias:

“Eis por que o Senhor mesmo vos dará um sinal: uma virgem ficará grávida e parirá um filho e ele se chamará Emmanuel.” (Isaías, 7:14.)

“Pois o menino nos nasceu, o Filho nos foi dado e o império foi posto sobre seus ombros e chamar-se-lhe-á, seu nome, o Admirável, o Conselheiro, o Deus forte, o Poderoso, o Pai da Eternidade, o Príncipe da paz.” (Isaías, 9:5.)

Em sequência, no Livro Sagrado, mas ao contrário do que propôs Allan Kardec em Obras Póstumas, vem Miqueias. Ele teria vivido nos anos 700 AC. Ele diz:

E ele (o Cristo – anotação de Kardec) se manterá e governará pela força do Eterno e com a magnificência do nome do Eterno seu Deus. E eles voltarão e agora ele será glorificado até às extremidades da terra e será ele quem fará a paz.” (Miquéias, 5:4.)

Por último, vem o Profeta Zacarias, que teria vivido nos anos 500 AC. Nele encontramos:

“Rejubila-te ao extremo, filha de Sião; solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei a ti virá, justo e salvador humilde e montado num jumento, sobre o potro de uma jumenta.” (Zacarias, 9:9 e 10.)

Evidencia-se nas profecias acima a vinda de um Messias libertador, de alguém que assumiria o controle da situação social do “povo escolhido”, tirando-o da subjugação e sofrimento aos quais estava preso. No entanto, o que se vê em Jesus é outra a libertação proposta, onde a paz externa é transferida para a conquista da paz interna.

O Senhor Jesus, por falta de amadurecimento nosso, não ensinou tudo, e deixou claro que outro o faria:

“Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”. (João 8:31,32)

O Senhor disse que seria no futuro, sobre o qual Ele profecia:

“Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês”. João (14:15-17)

“Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse.” (João 14:26)

“Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora. Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.” (João 16:12-14)

Outras versões chamam o Conselheiro de Paráclito, outras de Consolador.

Allan Kardec traz o Consolador a lume como Doutrina dos Espíritos, introduzindo-a em nosso Planeta a partir de O Livro dos Espíritos, e dando continuidade às revelações nas suas obras subsequentes. Mas também não disse tudo:

“O Espiritismo está longe de ter dito a última palavra, quanto às suas consequências, mas é inabalável em sua base, porque esta base se assenta sobre os fatos (Revista Espírita de fevereiro de 1865, artigo Da Perpetuidade do Espiritismo, § 13).”

Fácil depreender que novos ensinos seriam fornecidos no futuro, e pelo próprio Allan Kardec, ainda segundo Obras Póstumas, Segunda Parte:

“Mas, ah! a verdade não será conhecida de todos, nem crida, senão daqui a muito tempo! Nessa existência não verás mais do que a aurora do êxito da tua obra. Terás que voltar, reencarnado noutro corpo, para completar o que houveres começado e, então, dada te será a satisfação de ver em plena frutificação a semente que houveres espalhado pela Terra.” (Espírito Z)

E em diálogo com o Espírito Verdade se ratifica:

“Prossegue em teu caminho sem temor; ele está juncado de espinhos, mas eu te afirmo que terás grandes satisfações, antes de voltares para junto de nós “por um pouco”.

P.— Que queres dizer por essas palavras: “por um pouco”?

R.— Não permanecerás longo tempo entre nós. Terás que volver à Terra para concluir a tua missão, que não podes terminar nesta existência. Se fosse possível, absolutamente não sairias daí; mas, é preciso que se cumpra a lei da Natureza. Ausentar-te-ás por alguns anos e, quando voltares, será em condições que te permitam trabalhar desde cedo. Entretanto, há trabalhos que convém os acabes antes de partires; por isso, dar-te-emos o tempo que for necessário a concluí-los.

Ao obter essa resposta, Kardec tece o seguinte comentário: “Calculando aproximadamente a duração dos trabalhos que ainda tenho de fazer e levando em conta o tempo da minha ausência e os anos da infância e da juventude, até à idade em que um homem pode desempenhar no mundo um papel, a minha volta deverá ser forçosamente no fim deste século ou no princípio do outro.”

Bem, deste ponto para frente é assunto para outras elucubrações.

Pensemos nisso.

Antônio Carlos Navarro