Asas da Felicidade

PARTE 2

Sidney Fernandes

Os primeiros sinais de cultura e humanidade

O despertamento do espírito da condição de animalidade foi gradativo e demorado. A princípio, por questão de sobrevivência, os instintos comandaram as ações do homem primitivo. Ainda em fase embrionária, os conhecimentos, mesmo precários, foram adentrando o cérebro em formação. Mesmo nesse momento inicial, ocorreram as primeiras manifestações de humanidade.

Uma das primeiras demonstrações de solidariedade de que se tem notícia nos estudos arqueológicos foi uma perna quebrada. Uma estudante perguntou à antropóloga Margaret Mead sobre o que ela considerava como o primeiro sinal de civilização de uma coletividade. Esperava-se que a cientista falasse em anzóis, utensílios de barro ou mesmo fragmentos de armas feitas com pedras amoladas. Apresentou um fêmur que sofrera quebradura e havia sido curado.

— No reino animal — explicou Mead —, quebrar uma perna significa a morte.

Nenhum animal sobrevive com uma perna quebrada durante o tempo suficiente para sua recuperação. Era assim também entre os homens. O indivíduo ficava impedido de correr, ir ao rio para beber, caçar ou ir em busca de suprimentos naturais. Um fêmur recuperado significa que alguém teve tempo e disposição para ficar com o ferido e cuidar dele. O primeiro sinal evidente de civilização surgiu com a constatação de que alguém teve amor e consideração pelo outro.

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Se, desde o princípio, na ignorância do estado primitivo, o homem tivesse seguido o caminho do bem, ainda assim não chegaria à perfeição, mesmo relativa, porque o caminho evolutivo pressupõe a aquisição de conhecimentos. Tomemos como exemplo uma criança: a bondade instintiva e natural não a eximirá das experiências de transição entre a infância e a maturidade, capazes de ampliar seus horizontes e definir a abrangência de seus sentimentos.

Para que ocorra o crescimento moral, dentro dos parâmetros preconizados pelos planejamentos divinos, torna-se necessário que o espírito conheça os caminhos que os sentimentos deverão percorrer, para que eles sejam aplicados adequadamente. O sentimento, sem a razão e sem o conhecimento, poderá enveredar para a indisciplina, para o fanatismo ou ainda para a educação inadequada.

– continua na parte 3 –