Caminhe Com os Meus Sapatos

Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br

Espalhou-se para o mundo o vídeo de um menino que, ao chegar atrasado à sala de aula, é castigado pelo seu professor. A cena se repete várias vezes e, a cada chegada do retardatário, ele se submete resignadamente ao golpe que o mestre lhe aplica em uma de suas mãos. Em certa ocasião, o professor casualmente descobriu a razão dos reiterados atrasos daquele menino. Ao passar pelas imediações de sua casa, de longe o viu transportando o irmão paraplégico, em uma cadeira de rodas, momentos antes de sair correndo para a escola. Arrependido, o professor sentiu-se um monstro, por não ter se interessado em saber as razões que levavam o aluno a chegar atrasado às suas aulas.

O julgamento precipitado e o desinteresse pelas causas das falhas do outro levam-nos a cometer injustiças e, às vezes, até atrocidades. Clarice Lispector, a festejada escritora ucraniana, naturalizada brasileira, assim se expressou, num desabafo:

— Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter, calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias.

Empatia! Colocar-se no lugar do outro, sentir o que sente e entender suas necessidades, motivações e perspectivas é o melhor preventivo contra o julgamento precipitado. A empatia é a porta de entrada para o altruísmo, a gratidão e o perdão.

Diz um velho provérbio indígena que você jamais deve julgar um homem até ter andado uma milha em seus mocassins.

A essência do ensinamento evangélico, com a imensa sabedoria do Cristo, antecipou em milênios os modernos compêndios de psicologia e já nos convidava a colocarmo-nos no lugar do outro e a caminhar com os seus sapatos, em autêntico exercício de empatia.

Aliás, foi exatamente esse o seu objetivo ao enunciar esta magna expressão, que sintetiza a mensagem que trouxe à humanidade:

— Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles!

Fiquemos com a judiciosa expressão de Emmanuel, quando nos adverte, diante de apressados julgamentos:

— Não lhe conheces a história desde o princípio e não percebes, agora, a causa invisível da dor que os degrada.