Desafios para a Inteligência Humana
- Colunas
- 18/08/2019
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O historiador israelense Yuval Noah Harari causou impacto mundial significativo com suas três obras literárias (1), que indicamos a todos, alcançando proeminência no cenário humano, tornando-se consultor para empreendedores, investidores e homens públicos de todos os matizes.
Analisando o desenvolvimento do Ser Humano ao longo de sua trajetória evolutiva, Harari aponta três grandes desafios que a humanidade como um todo terá de enfrentar, para a sua própria sobrevivência.
Desejamos, aqui, traçar um pequeno paralelo às suas conclusões, aleatoriamente, confrontando-as aos postulados Espíritas.
O primeiro desafio é a questão do comportamento ecológico da natureza humana. Estamos degradando o planeta – nossa Casa – exaurindo-o em suas possibilidades de fornecimento em níveis próximo a 1,7 vezes o que o planeta é capaz de processar. É um comportamento suicida, porque não há possibilidade real, pelo menos por enquanto, de uma transferência humana em massa para outro planeta.
O desafio, nessa questão, é mudarmos de paradigma, a partir do entendimento de que a Deusa Gaia – o planeta Terra – não tem capacidade ilimitada para se regenerar diante da atividade humana. É preciso, com urgência, educarmo-nos para um novo modo de vida porque, enquanto organismo biológico vivo, ela não terá piedade de quem quer que seja. O Planeta reage química e fisicamente “no automático”, como um algoritmo.
Nós, os Espíritas, temos ao nosso alcance, desde 1960, um verdadeiro tratado de comportamento ecológico fornecido pela Espiritualidade Superior. Trata-se do capítulo trinta e dois do livro Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz ao inesquecível Francisco Cândido Xavier. Leitura obrigatória.
Curiosamente, o livro veio à lume cerca de onze anos antes da criação da maior entidade de defesa ambiental, o Greenpeace, o que significa muito em termos de realidade e responsabilidade pessoal para cada um de nós. É a Espiritualidade maior nos preparando para o futuro.
O segundo desafio é relacionado às diferenças sociais, que se aprofundam em velocidade vertiginosa.
Fruto do modelo econômico adotado, desenvolvido e mantido ferozmente pelos Humanos, e que também influencia nosso relacionamento com o Planeta, o resultado é catastrófico em termos sociais.
Enquanto as oito pessoas mais ricas do Planeta detêm nas mãos uma riqueza que correspondente, aproximadamente, à soma do que a metade da população mais pobre – três bilhões e meio de seres humanos – detém, um Ser Humano falece, em média, a cada cinco segundos, em decorrência da fome (2), incluindo o Brasil, que tem nas mãos dos cinco mais ricos, o correspondente a mais da metade dos mais pobres – mais de cento e dez milhões de brasileiros.
Aprendemos com a Doutrina Espírita, notadamente nos capítulos Lei de Sociedade, Lei de Igualdade e Lei de Amor, Justiça e Caridade, em O Livro dos Espíritos, que as diferenças sociais são fruto do entendimento humano, e não dos desígnios Divinos. Somos todos iguais diante de Deus, sujeitos às mesmas Leis, e em busca do mesmo objetivo espiritual. Portanto, vale aqui nos lembrarmos da orientação do Senhor Jesus, para que fizéssemos o próximo o que gostaríamos que à nós fosse feito.
Ou seja, é preciso nos envolvermos no voluntariado ostensivo, com sentimento evangélico, para ajudarmos na diminuição das diferenças sociais, tanto quanto cuidarmos para que nossas atitudes não surtam o efeito de fortalecimento do “status quo” em que vivemos.
Por último, e relacionado ao segundo desafio, temos nas mãos a questão da formação educativa e cultural, incluindo aí a formação profissional. Hoje são gerados, automaticamente, uma legião incomensurável de seres humanos que não mais se encaixam na cadeia produtiva profissional.
Paradoxo da atualidade, os que nascem agora vão trabalhar em profissões que ainda não existem.
O desafio é enorme, e aqui também vale a questão do voluntariado, tanto quanto o investimento em aquisição de novos conhecimentos, e a reciclagem constante do que já aprendemos. São tempos de mudanças ultrarrápidas.
Em Lei de Progresso, também no Livro dos Espíritos, aprendemos que ele, o progresso, é inevitável, e que podemos, no máximo, retardá-lo, mas jamais detê-lo, e a Doutrina, nesse aspecto, prega, como segundo ensinamento principal, o “instruí-vos”.
Somos, enquanto Espíritos, o Princípio Inteligente do Universo, e por isso mesmo com a necessidade do desenvolvimento constante de nossa capacidade intelectiva.
Por último, convém nos lembramos do primeiro ensinamento da Doutrina, o “amai-vos”.
O Amor é a essência da Lei Natural, que é a Lei de Deus, segundo aprendemos com Jesus e a Doutrina Espírita, e os Benfeitores Espirituais nos ensinam que a nossa felicidade é proporcional à nossa adesão a pratica da Lei de Amor, e que só nos tornamos infelizes por nos distanciarmos dela, afirmam-nos.
Ora, o Amor não se restringe, o Amor se dilata. Pela vida, pelo próximo, pela Obra Divina como um todo.
Percebe-se, por fim, que os maiores desafios se encontram dentro do próprio Ser Humano, quais sejam, vencer o orgulho e o egoísmo, o apego e a ignorância espiritual ainda arraigados em nossos modos de pensar e agir, para que possamos contribuir para a diminuição do sofrimento e consequente mal-estar do próximo, onde quer que ele se encontre.
Resumindo, o maior desafio é vencer a si mesmo, tornando-se melhor hoje do que foi ontem, e melhor amanhã do que foi hoje, sempre com Jesus, mas nunca sem Kardec.
Pensemos nisso.
Antônio Carlos Navarro.